Acompanhado por Carlos Lupi, presidente nacional do PDT e Pompeo de Mattos, presidente estadual do partido, o pré-candidato à presidência da República pela sigla, Ciro Gomes, esteve em Gravataí, na região metropolitana de Porto Alegre, na noite desta terça-feira para o lançamento da candidatura de Daniel Bordignon à prefeitura da cidade no Centro de Tradições gaúchas (CTG) Aldeia do Anjos.
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Saudado como "nosso futuro presidente", Ciro Gomes tirou selfies com os apoiadores, tomou chimarrão e conversou ao pé do ouvido com Bordignon que, preso no trânsito, chegou atrasado ao evento. Em conversa exclusiva com ZH, o cearense não poupa críticas ao governo de Michel Temer, que faz questão de chamar de golpista e canalha, afirma que os escândalos em Brasília devem ter pouca influência nas urnas em outubro e que a crise econômica não será resolvida sem aumento de impostos.
Confira os principais trechos:
Foram divulgadas as primeiras pesquisas eleitorais no Rio Grande do Sul. Em Porto Alegre, PSoL e PT, dois partidos de esquerda, saíram na frente. O senhor acha que as urnas vão mandar algum recado para o governo interino?
Nas grandes cidades há sempre um componente relevante da política nacional embora o predominante para quem tem a vivência que eu tenho e você vai ver isso de novo nessas eleições, seja o interesse local. A conjuntura do município onde acontece a eleição. O PT está sofrendo um trauma, em função de todos os escândalos que aconteceram. Mas tudo indica que é uma eleição onde vai marcar muito mais o aspecto local do que uma referência para o país.
Os eleitores vão levar mais em conta a vida nas cidades que os escândalos em Brasília?
É a tradição brasileira. A eleição municipal é a ultrafederação e ultrafragmentação partidária. Isso é uma característica da vida política brasileira e não são boas características. São consequências de uma vida democrática pouco longa. As ideologias políticas estão muito contraditórias com a retórica e os políticos estão muito desmoralizados, aí os eleitores acabam olhando muito mais o aspecto local.
Nos próximos dias, o Senado vota o impeachment da presidente Dilma, na qual o senhor já se manifestou contrário. Todas as estimativas apontam uma derrota da petista. Ainda dá para virar o placar?
Há uma chance remota, improvável. Mas precisamos lutar até o fim porque a História fará o registro dessa fase. E será um registro muito azedo se consumado o impeachment. O país entrará em uma instabilidade de uma, duas décadas a partir disso. E a primeira vítima será o golpista, salafrário e traidor Michel Temer.
Alguns indicadores econômicos já começam a dar algum sinal de reação. Essa melhora é pontual?
Isso é mentira da grande mídia. Não tem nenhum sinal de melhora com consistência. Quando se vive uma depressão profunda, como a que estamos vivendo, a riqueza brasileira cai nove pontos percentuais em 24 meses, acontece o efeito fundo do poço: você bate e volta. Ainda com a Dilma esse fundo do poço já estava se aproximando. Tivemos a explosão do câmbio que ajusta uma série de coisas importantes no país e que não foi nenhuma providência tomada pelo governo. O sintoma mais grave que foi apontado contra a Dilma, que foi a irresponsabilidade fiscal, está dramaticamente piorado. Esse governo interino é muito mais irresponsável. Do jeito que está ano que vem a dívida pública se aproximará de 90% do PIB. Isso trava a taxa de juro em um momento de queda da inflação. O que torna o juro real no Brasil muito alto, impedindo o sistema produtivo de reagir.
Caímos na tão falada armadilha do crescimento?
Exatamente. E tudo indica que o desemprego que hoje esta em 11% caminha a passos muito sólidos para o redor de 14%.
Como o senhor avalia as propostas de reforma trabalhista e previdenciária, apresentadas pelo governo Temer?
Na verdade essa é a essência do golpe. Eu acredito que ainda teremos uma grande discussão olímpica de quem será enganado. Porque esperar colher um maracujá de um pé de maçã é improvável. Padilha, Moreira Franco, Michel Temer e Romero Jucá forma uma quadrilha de marginais. Esperar austeridade daí é esperar maracujá de um pé de maçã. O Congresso brasileiro, uma vez superado o impeachment, vai voltar a sua hiperfragmentação ideológica já mirando as eleições. Quero ver esses calhordas corruptos conseguirem votar uma emenda a constituição que reduzirá despesas com aposentados, universidades e SUS. Fora a ira popular. A maioria das pessoas ainda está paralisada pela decepção com o governo Dilma, mas conforme a conversa avançar haverá revolta popular. Evidentemente não vai ser tão fácil como eles pensam que vai ser.
Tem como o país sair da crise sem passar por um ajuste fiscal?
Sem chance. Só que o ajuste fiscal que nós precisamos é tão violentamente grave que não é possível em ambiente contracionista. Se você não tomar a decisão de retomar o crescimento econômico e bancar os riscos, tensões e contradições inerentes a isso e se também não introduzir aumento de impostos não há menor chance nos próximos 24 meses. Principalmente com um governo ilegítimo, que não tem nenhuma moral para pedir nada de ninguém.
*Zero Hora