Três meses e meio após o afastamento de Dilma Rousseff, o Senado inicia nesta quinta-feira a etapa final do julgamento da presidente. A sessão histórica, que começa pelos depoimentos das testemunhas, pode durar de cinco a seis dias, com a tendência de sacramentar o impeachment. A sentença deve marcar oficialmente o fim da hegemonia de mais de 13 anos do PT no poder. Interino desde 12 de maio, Michel Temer espera entrar setembro efetivado no Palácio do Planalto.
É a segunda vez, desde a redemocratização, que o Senado julga um presidente da República eleito pelo voto direto. Em 1992, Fernando Collor renunciou antes do início do julgamento, mas foi cassado. Passados 24 anos, o ex-presidente foi de réu a julgador. Estará entre os 81 parlamentares que definirão o futuro de Dilma, acusada de ter cometido crime de responsabilidade na edição de decretos de suplementação orçamentária sem o aval do Congresso e nas pedaladas do Banco do Brasil no Plano Safra.
Leia mais:
INFOGRÁFICO: como será o julgamento final do impeachment de Dilma
As estratégias de Dilma e Temer na reta final do impeachment
No Senado, fala de Dilma tentará constranger antigos aliados
Marcada para começar às 9h, a sessão será comandada pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski. Entre esta quinta e sexta-feira, podendo se estender até sábado, senadores ouvirão depoimentos de oito testemunhas, duas de acusação e seis de defesa. Na segunda-feira, na condição de ré, Dilma irá ao plenário fazer a própria defesa na tentativa de evitar a perda do mandato e dos direitos políticos por oito anos. A votação deve ocorrer entre terça e quarta-feira.
Como Temer tem pressa para assumir em definitivo o governo, seus aliados articulam para acelerar o julgamento. A coalizão do peemedebista trabalha com a perspectiva de fazer entre 60 e 62 dos 81 votos possíveis, acima dos 54 exigidos pela lei para depor Dilma. Será a terceira votação na Casa dentro do processo. Em maio, foram 55 votos contra a presidente afastada, soma que subiu para 59 há duas semanas, na análise do parecer que a tornou ré.
– A ideia é fazer o mínimo possível de perguntas para as testemunhas. Queremos acelerar o julgamento – afirma a senadora Simone Tebet (PMDB-MS).
Leia também:
Como cada senador pretende votar no julgamento do impeachment
Os processos de impeachment de Collor e Dilma: semelhanças e diferenças
Economia em questões versus detalhismo
A bancada pró-Temer acertou que apenas líderes ou poucos senadores indicados por eles farão questionamentos. Inclusive, vão ignorar parte dos indicados pela defesa.
Na contramão, aliados de Dilma vão tentar prolongar a sessão. Antes dos depoimentos, apresentarão uma série de questões de ordem, que terão de ser respondidas por Lewandowski. Todos os 21 senadores que já votaram a favor da presidente farão indagações às oito testemunhas.
– Vamos perguntar o que for necessário para que fique claro que não houve crime de responsabilidade – reforça Paulo Paim (PT-RS).
Apesar do cenário adverso, os defensores de Dilma dizem que "não jogaram a toalha". Para virar sete votos, a bancada do PT e ex-ministros da presidente, como Ricardo Berzoini e Jaques Wagner, mantêm sob sigilo os nomes dos senadores que procuraram nos últimos dias, concentrados no Norte e Nordeste, onde a imagem dos governos petistas está menos arranhada. O segredo tenta evitar contragolpes de Temer, que desde segunda-feira recebe parlamentares no Planalto com ofertas de cargos e apoio político.