A enxurrada de pedidos de inquéritos e a denúncia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Supremo Tribunal Federal (STF) espalharam o constrangimento por Brasília. As solicitações do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, intensificaram a sangria de Dilma Rousseff e de seu padrinho político. Junto, alvejaram o PSDB e parte da cúpula do provável governo de Michel Temer.
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Em avaliações no Congresso e no Palácio do Planalto, o dano maior fica com o PT. Ao pedir para investigar Dilma, Lula e o ministro da Advocacia-Geral da União, José Eduardo Cardozo, por suspeita de obstrução da Justiça, Janot "fortalece" a onda pró-impeachment e dificulta a reversão do resultado na votação final do Senado.
A oposição aproveita para contrapor a tese de golpe e o discurso de que a presidente, sem suspeitas formais, está sendo afastada por políticos investigados por corrupção.
– A presidente Dilma não pode mais ser colocada como uma senhora acima de qualquer suspeita. Pairam sobre ela graves suspeitas – afirma o deputado Domingos Sávio (PSDB-MG).
Petistas temem pelo futuro de Lula, esperança para reconstrução do partido e para uma possível volta ao Planalto em 2018. O receio é pelo fim do foro de Dilma e seus ministros, que levaria casos para a primeira instância, com o juiz Sergio Moro. Uma condenação inviabilizaria o líder do PT na corrida presidencial e mancharia sua biografia.
O ex-presidente já lida com dificuldades para explicar suspeitas, como as benesses de empreiteiras no sítio em Atibaia e no triplex do Guarujá. Agora, foi denunciado pela suposta tentativa de comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.
Em outra ação, na qual o procurador-geral solicitou a inclusão da principal estrela petista no inquérito-mãe da Lava-Jato, Janot escreveu que a "organização criminosa jamais poderia ter funcionado por tantos anos e de uma forma tão ampla e agressiva no âmbito do governo federal sem que o ex-presidente Lula dela participasse".
– Desde 2005 digo que Lula é o chefe da quadrilha. Pelo visto, não falo sozinho – ironiza Onyx Lorenzoni (DEM-RS).
No STF, acredita-se que o ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato, aceite as inclusões de investigados no inquérito-mãe, que desvenda o esquema de corrupção da Petrobras a partir de uma suposta organização criminosa. Sobre a denúncia de Lula, não há previsão de quando o caso será levado à Segunda Turma da Corte, responsável por decidir se ele será ou não réu.
Parlamentares do PT acusam envolvimento de PSDB e PMDB
Petistas reagem, rebatem as decisões de Janot e lembram dos casos na Lava-Jato que tratam da oposição e do PMDB. Aécio Neves (PSDB-MG) é um dos principais alvos.
– Seria bom se as lideranças do DEM pudessem falar da questão que envolve o presidente do seu partido e que lideranças do PSDB viessem falar dos problemas que envolvem também o presidente nacional dos tucanos – afirmou, na tribuna, o deputado Luiz Sérgio (PT-RJ).
Para o deputado Henrique Fontana (PT-RS), Dilma e Lula são submetidos a processos de criminalização sem provas, baseados em delações. Fontana também critica o silêncio da oposição sobre os nomes do PMDB implicados na Lava-Jato, com espaço reservado no ministério de Temer, como Henrique Eduardo Alves e Romero Jucá.
– Os primeiros rascunhos do temporário e ilegítimo governo Temer são de assustar qualquer pessoa que pense em combater a corrupção. O impeachment vai recolocar no poder velhas oligarquias, entre elas Eduardo Cunha – diz.
*ZEROHORA