Os aliados mais próximos de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) já o consideram "ex-presidente" da Câmara. Sem perspectivas de reverter o afastamento decidido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e ciente do risco de cassação no plenário da Casa, o próprio Cunha articula para ungir seu sucessor no comando da coalizão que controla parte do Congresso.
André Moura (PSC-SE), Jovair Arantes (PTB-GO) e Rogério Rosso (PSD-DF) são nomes cotados para herdar o controle da "bancada de Cunha". Líder de um blocão que congrega deputados de partidos de oposição e da antiga base de Dilma, além de um cinturão de nanicos e evangélicos, o peemedebista quer evitar um racha capaz de esvaziar o grupo.
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Com aliados de diversas siglas (confira quadro abaixo), Cunha reúne, nas projeções de colegas, coalizão de 60 a 80 integrantes, com risco de debandada. Apoio distante dos 267 votos que angariou em fevereiro de 2015, quando derrotou o candidatodo governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), na eleição para presidir a Câmara.
No auge, Cunha teria uma bancada fiel com cerca de 150 integrantes. A base minguou no ritmo do avanço da Lava-Jato, com a revelação de contas no Exterior e suspeitas de propina em obras da Petrobras. Solidário com o presidente a cada abertura de inquérito ou denúncia, Mauro Pereira (PMDB-RS) já é visto no PMDB apenas como "admirador" de Cunha. Nesta quinta-feira, evitou defendê-lo:
– Sempre afirmei que era preciso aguardar a posição do Supremo e respeitar o direito à ampla defesa. A decisão, agora, está tomada.
O blocão de Cunha se consolidou em uma estratégia de controle de espaços e dos projetos votados. Como presidente, o peemedebista dita a pauta da Câmara, aberta para a agenda conservadora das bancadas da bala, do boi e da Bíblia. Também indicou seus apoiadores para a presidência de comissões e relatorias de projetos importantes.
Em 2015, Cunha emplacou Arthur Lira (PP-AL) à frente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Para 2016, viabilizou a ascensão de Osmar Serraglio (PMDB-PR) ao comando do colegiado, responsável por analisar os seus recursos no processo por quebra de decoro. Também afiançou as escolhas de Rosso e Arantes para presidência e relatoria da comissão do impeachment. Nas articulações, defendia Moura como líder do governo Temer na Câmara.
A bancada do peemedebista tem diferentes alas, com integrantes que operam nos bastidores e outros que atuam na "tropa de choque", em especial no Conselho de Ética, onde tem conseguido postergar processo por quebra de decoro. Um dos mais empenhados é Carlos Marun (PMDB-MS), que questiona a decisão do STF:
– É estranhíssimo o membro de um poder afastar o presidente de outro poder liminarmente.
Na linha de frente do blocão também figuram Paulinho da Força (SD-SP) e Beto Mansur (PRB-SP), que estiveram com Cunha na manhã de ontem e avaliaram cenários para o futuro.
– É uma situação difícil – descreveu Mansur.
Por ora, o blocão segue no controle da Câmara na figura do vice Waldir Maranhão (PP-MA), escudeiro do presidente afastado. Contudo, os integrantes da bancada admitem que falta uma figura catalisadora como Cunha, negociador voraz e eficiente distribuidor de recursos para campanhas. O grupo reconhece que perderá poder no curto prazo, mas buscar valorizar seu peso na governabilidade de Temer.
Tentáculos de poder
Com aliados de siglas como PMDB, PR, PP, PSD, PTB, PRB, PSC, SD e DEM, Cunha formou um blocão, que assumiu o controle da Câmara em 2015. Confira alguns escudeiros do presidente afastado da Casa
Waldir Maranhão (PP-MA)
Presidente interino da Câmara, ajudou Cunha ao limitar o escopo da investigação no Conselho de Ética.
Paulinho da Força (SD-SP)
Um dos articuladores do impeachment, atua no Conselho de Ética para aliviar Cunha.
Beto Mansur (PRB-SP)
Integrante da Mesa Diretora, defende interesses de Cunha. Esteve com ele após o afastamento.
André Moura (PSC-SE)
Líder do PSC, era defendido por Cunha como eventual líder do governo Temer na Câmara.
Carlos Marun (PMDB-MS)
Nome da tropa de choque, defende Cunha no Conselho de Ética.
Manoel Júnior (PMDB-PB)
Ajudou Cunha no Conselho de Ética e relatou projetos de interesse do peemedebista.
Jovair Arantes (PTB-GO)
Teve apoio de Cunha para relatar o processo de impeachment de Dilma na Câmara.
Rogério Rosso (PSD-DF)
Teve apoio de Cunha para presidir a comissão do impeachment de Dilma na Câmara.
Maurício Quintella (PR-AL)
Ex-líder do PR, escolheu nomes afáveis a Cunha para representar o partido no Conselho de Ética.
Hugo Motta (PMDB-PB)
Teve a bênção de Cunha para presidir a CPI da Petrobras.
Wellington Roberto (PR-PB)
Defensor de Cunha no Conselho de Ética, trocou tapas com o deputado Zé Geraldo (PT-PA).
Altineu Côrtes (PMDB-RJ)
Procuradoria-Geral da República pediu para incluí-lo entre os investigados da Lava-Jato no grupo liderado por Cunha.
Washington Reis (PMDB-RJ)
Conta com auxílio de Cunha para viabilizar sua base no Estado.
Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP)
Deixou o Conselho de Ética porque sua base cobrava voto pela investigação de Cunha.
Rodrigo Maia (DEM-RJ)
Presidiu comissão da reforma política articulada por Cunha e defendeu textos de interesse do presidente.
Mauro Pereira (PMDB-RS)
Defensor de que Cunha tem direito à ampla defesa, afasta-se aos poucos do colega de bancada.
Arthur Lira (PP-AL)
Investigado na Lava-Jato, teve eleição para presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) em 2015 afiançada por Cunha.
Osmar Serraglio (PMDB-PR)
Novo presidente da CCJ, foi escolhido com amém de Cunha.
Tia Eron (PRB-BA)
Colocada no Conselho de Ética pelo PRB para votar a favor de Cunha.
Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ)
Evangélico, afilhado de Silas Malafaia, tem proximidade com Cunha na agenda da bancada da Bíblia.