Eles pediram votos para Dilma Rousseff, apareceram em santinhos ao lado de Lula, constituíram a base aliada e alguns chegaram até o primeiro escalão do governo federal. Agora, defendem o impeachment da presidente.
Um em cada seis senadores mudou de lado no mais recente conflito político instalado no país. Se esses 14 senadores ainda estivessem ao lado de Dilma, não haveria, neste momento, maioria para aprovar a admissibilidade do impeachment. Para especialistas, o levantamento elaborado por Zero Hora sugere duas hipóteses: há parlamentares que agem mais por conveniência do que por coerência ou o descontentamento com a condução do país pelo Planalto espalhou-se, também, pelo Congresso.
– O político é como o capitão de um navio: ele tem de navegar de acordo com as ondas – resume Ricardo Caldas, cientista político da Universidade de Brasília (UnB).
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Caldas avalia que a posição favorável ao impeachment entre os parlamentares ganhou legitimidade depois do avanço das manifestações populares. O estilo de negociar de Dilma, considerado menos habilidoso do que o despendido por Lula, também teria exercido influência sobre as sucessivas trocas de time pró e antigoverno.
– De 2014 para cá, o Planalto não foi capaz de cumprir aquilo que havia sido prometido, perdeu inteiramente o controle da situação fiscal do país e não levou em consideração que isso poderia gerar efeitos de natureza comprometedora – explica-se o senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), que, de ministro de Dilma, passou a apoiador da abertura de processo contra a ex-chefe.
– Não fui eu que troquei de posicionamento, mas a presidente que mudou e, nessa mudança, foi para um caminho de erros e prejuízos incontáveis para o Brasil – reforça Dário Berger (PMDB-SC), que acompanhou a troca de lado.
Mais do que pessoal, o movimento se mostrou partidário. O PMDB chefiou o desembarque do Planalto, seguido de siglas como PSD, PP e PR. Nesta troca de time, Bruno Lima Rocha, professor de Ciência Política da ESPM-Sul e da Unisinos, vê uma falha no modelo político brasileiro:
– A base governista se dá em cima daquilo que se chama de presidencialismo de coalizão, no qual se forma a maioria por meio da conveniência. O impacto maior recai no descrédito do sistema eleitoral.
Quem mudou de lado
Dário Berger (PMDB-SC)
O catarinense assinou um manifesto de apoio à candidatura de Dilma em 2010. Repetiu o posicionamento quatro anos depois, ao dividir o palco com a presidente em comícios em Florianópolis e abrir voto à petista. No início deste ano, apostou no diálogo para que o país enfrentasse a crise. Dois meses depois, o senador, integrante da comissão de impeachment, mudou o discurso: disse que Dilma não tem condições de governar e saiu em defesa do afastamento da presidente.
Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN)
Na eleição de 2010, o senador discursou sobre palanques para defender a candidatura da presidente. Disse ao eleitorado que o Rio Grande do Norte precisava votar em Dilma porque ela "daria sequência" ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva e apareceu em cartazes ao lado dos petistas. O posicionamento lhe rendeu uma vaga no primeiro escalão de Dilma, no qual ocupou o cargo de ministro da Previdência Social. Hoje, declara voto a favor do afastamento da ex-chefe.
Romero Jucá (PMDB-RR)
Ex-líder do governo de Lula e Dilma no Senado, o senador mudou de lado na campanha eleitoral de 2014 e, abertamente, passou a defender a candidatura do tucano Aécio Neves. Jucá despejou duras críticas à petista e acusou o governo de "fazer tudo da pior forma possível". O senador, hoje, não só integra o grupo favorável ao afastamento de Dilma, como encabeça a articulação política em um eventual governo de Michel Temer.
Valdir Raupp (PMDB-RO)
Dilma e Lula apareceram na campanha eleitoral de Rondônia, em 2010, para pedir votos ao então candidato a senador Valdir Raupp. Quatro anos depois, já na presidência nacional do PMDB, apoiou a reeleição de Dilma. Em abril deste ano, surpreendeu ao defender a antecipação das eleições e questionar as condições de Temer para assumir a Presidência. Anteriormente, já havia se posicionado a favor do impeachment, mas disse que essa não seria "a solução para o país".
Ciro Nogueira (PP-PI)
É presidente do PP, sigla que, até um mês atrás, integrava a base do governo. O PP havia decidido, em abril, que permaneceria ao lado do Planalto até a votação do impeachment. Uma semana depois de bater o martelo, optou por desembarcar do governo e orientou que quem fosse indicado a cargos no Executivo entregasse o posto. Nogueira, que participara também da decisão de apoiar a reeleição de Dilma em 2014, justificou que não tinha como ignorar a decisão do partido.
Omar Aziz (PSD-AM)
O parlamentar comemorou a reeleição de Dilma, em 2014. Declarou que o PSD atuou "diretamente" na vitória da presidente e que o partido a apoiou "muito antes" de o PT declarar a segunda candidatura da petista. No passado, criticou a condução da economia pelo Planalto, mas, apesar do descontentamento, posicionou-se contrário ao impeachment. O partido de Aziz desembarcou do governo em abril, e o senador decidiu apoiar o afastamento da presidente.
Blairo Maggi (PR-MT)
O senador já saiu em carreata de mãos dadas com Dilma e pediu votos para a presidente. Em abril de 2015, declarou que errou. Admitiu que a apoiou em "nome de seus projetos", mas que "se sentiu enganado". O parlamentar, atualmente, aparece entre os defensores do impeachment e, em protestos em Cuiabá, surgiu como um dos militantes mais efusivos. Ele declarou considerar o afastamento da presidente irreversível e que Temer tem plenas condições de assumir o cargo.
Hélio José (PMDB-DF)
Suplente do atual governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSD), Hélio José pertencia ao PT quando ingressou na chapa, em 2010, mas se desfiliou ao considerar que o partido mudara de rumo no escândalo do mensalão. Hoje, é vice-líder do governo no Senado. Apesar do posto, manifestou-se favorável à abertura do processo de impeachment em recente pronunciamento na tribuna.
José Maranhão (PMDB-PB)
Defendeu a reeleição da presidente no pleito de 2014, o que impulsionou a campanha do peemedebista ao Senado. Em comício em João Pessoa, na Paraíba, aparece junto da presidente e estampa um adesivo que leva o nome de Dilma colado na camisa vermelha. Mas o apoio não sobreviveu à crise política. O paraibano, que mantém relação próxima ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), aderiu ao grupo a favor do impeachment.
Magno Malta (PR-ES)
Apoiou Lula e, depois, repetiu o gesto com Dilma em 2010. Chegou a dizer que a presidente seria a esperança do Espírito Santo e que nunca deixara de confiar "nesta mulher, por quem viajou o Brasil pedindo votos" durante o debate sobre os royalties do pré-sal. O discurso mudou antes da reeleição da petista. Malta, hoje, diz que o governo federal "estuprou" a Lei de Responsabilidade Fiscal para, depois, fazer "um strip-tease moral na economia do país".
Wellington Fagundes (PR-MT)
Vice-líder do governo no Senado, Fagundes era contra o impeachment até março. No mês passado, mudou de ideia e se colocou favorável à abertura do processo no Senado. Ele cobrou celeridade no julgamento e declarou que "não se pode deixar de ouvir o sentimento da população". Em 2014, a sua proximidade com o governo rendeu-lhe a coordenação da campanha de reeleição de Dilma no seu Estado.
Acir Gurgacz (PDT-RO)
Relator das pedaladas fiscais de Dilma em 2014 (manobra que embasa o pedido de impeachment), o senador contrariou as irregularidades detectadas pelo Tribunal de Contas da União e entregou parecer favorável à aprovação das contas do governo. Gurgacz deu outra prova de fidelidade na posse de Lula como ministro, quando acompanhou a cerimônia na primeira fila. Logo depois, passou a defender o impeachment.
Elmano Férrer (PTB-PI)
Dilma e Lula apareceram no horário eleitoral para pedir voto para Férrer, em 2014. O apadrinhamento surtiu efeito, e o parlamentar foi reeleito. Mas, na esteira da crise política, o petebista se posicionou favorável à admissibilidade do processo no Senado em nota divulgada em 26 de abril e disse que os senadores terão de agir com isenção. O apoio o fez ser recebido sob os gritos de "traidor", dias depois, na capital do Estado que representa.