Que não se culpem os cartórios eleitorais nem o Tribunal Superior Eleitoral pelo fracasso da tentativa da ex-senadora Marina Silva de criar um partido para concorrer a presidente da República. A verdade é que a Rede não conseguiu reunir em tempo hábil as 492 mil assinaturas de apoio certificadas pelos cartórios eleitorais. E não conseguiu porque entrou demasiado tarde no processo e perdeu muito tempo debatendo o que queria ser e como se chamaria.
Por mais que pareça injusto ver uma líder como Marina não conseguir registrar a sigla, enquanto o PROS e o Solidariedade estão na rua, aliciando novos filiados, a Justiça Eleitoral não pode decidir com base em simpatias. Pode-se questionar os critérios que norteiam a formação de um partido e repudiar a exigência de assinaturas que não representam qualquer compromisso com a nova agremiação, mas, no caso da Rede, o certo é que uma das principais exigências não foi cumprida.
Em seu voto, o ministro Gilmar Mendes apontou as incoerências da legislação, mostrou que o processo de conferência das assinaturas é anacrônico e levantou a suspeita de um complô contra Marina. Lembrou da tentativa "vergonhosa, de corar frade de pedra" de aprovar no Congresso uma lei que tinha por objetivo claro barrar a criação do partido de Marina e assim impedir sua candidatura à Presidência. Esse projeto só não foi adiante porque ele barrou com uma liminar.
Até aqui, Marina nunca quis falar em plano B, até para não enfraquecer a mobilização pela legalização da Rede. Ao não conseguir o registro, terá menos de 48 horas para decidir se entra para outro partido ou se fica fora da eleição. Convites não faltam. Um dos destinos possíveis é o Partido Ecológico Nacional, uma sigla sem líderes de expressão, que, em comum com a Rede, tem a defesa da sustentabilidade. Filiar-se ao PEN significaria, em nome de um projeto eleitoral, abrir mão do discurso de que a Rede era diferente.
A derrota no TSE tem um subproduto negativo para Marina: coloca em dúvida sua competência como líder e como gestora. Quem não consegue atender a requisitos elementares para organizar um partido terá capacidade para administrar o país em caso de vitória?
Opinião
Rosane de Oliveira: "Marina enrolou-se na própria Rede"
Rosane de Oliveira
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