Um protocolo de intenções para a criação de um espaço em homenagem às vítimas das ditaduras em países do Mercosul foi assinado na tarde de sábado, no Memorial do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre.
A secretária especial de Direitos Humanos, Maria do Rosário, e o secretário de Cultura do Estado, Luiz Antonio de Assis Brasil, receberam representantes da Argentina, que estabeleceram o acordo de compartilhamento de informações. Também farão parte do espaço materiais cedidos pelos governos uruguaio e chileno.
Ao todo, 4,8 milhões de arquivos digitalizados serão entregues pelo governo argentino para o memorial brasileiro. São fichas e documentos relativos ao período do regime militar no país. Para o secretário-executivo do Arquivo Nacional de Memorial Histórico da Argentina, Eduardo Luis Duhalde, a doação do material faz parte do acordo de cooperação entre os países vizinhos:
- Isso é o resultado de uma política comum, como foi comum a luta das vítimas e dos manifestantes contra os regimes, e que marca um caminho comum entre as nações.
O presidente da Assembleia Legislativa, Adão Villaverde, colocou á disposição também o livro eletrônico desenvolvido entre a Assembleia e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A obra é composta por quatro volumes que compreendem o período entre a Legalidade e a abertura política.
- O espaço começa com uma exposição, mas ele deve ser transformado em um espaço de debate - sugere.
Lilian Celiberti acompanhou o lançamento
A assinatura do documento foi acompanhada pela uruguaia Lilian Celiberti, sequestrada durante a Operação Condor - uma articulação entre os governos militares do Brasil e do Uruguai, que resultou no sequestro dela, de seus dois filhos do companheiros de militância Universindo Díaz, em novembro de 1978 em Porto Alegre.
Apesar do episódio, Lilian se declara admiradora do povo gaúcho e parabenizou a iniciativa de criação do espaço.
- Não quero vingança, mas a verdade pública - afirmou Lilian.
Assinaram o protocolo como testemunhas o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, o sociólogo português Boaventura de Souza Santos e o teólogo Leonardo Boff. Convidado a dar um depoimento sobre o período em que foi perseguido, Boff contou que teve de se exiliar após ter seu livro Jesus Cristo Libertador censurado por duas ditaduras quando passou a usar seu nome verdadeiro - Genézio - para não ser encontrado:
- A palavra "libertação" era censurada. Até mesmo o Papa era censurado. Na missa de Natal, quando era dito Jesus Libertador, o governo traduzia para Jesus Redentor. Mas a verdade recusa o ocultamento. Ela quer vir à luz por si própria, e sempre se liberta.