Karen Santos, do PSOL, foi a vereadora mais votada em Porto Alegre nesta eleição, com 20.207 votos. A candidata recebeu cerca de 4,5 mil votos a mais do que na última eleição municipal, quando conquistou o melhor resultado entre todos os candidatos que concorreram na Capital. Neste ano, ficou em segundo lugar. O posto de mais votado no ranking geral ficou com Jessé Sangali, do PL, que totalizou 22.966 votos.
Prestes a assumir um mandato na Câmara Municipal pela terceira vez – a primeira foi em 2019 como suplente de Fernanda Melchionna, que se elegeu deputada federal –, ela celebra o resultado nas urnas:
— Estamos muito satisfeitos. Fizemos uma campanha militante e combativa, com pessoas comprometidas com a denúncia, mas ao mesmo tempo difícil, porque não tivemos muitos investimentos. Eu acho que esse crescimento (em número de votos) representa o fortalecimento da nossa política. Uma política que não promete mudanças imediatas, mas ajuda a população a se organizar.
Formada em Educação Física, a vereadora de 36 anos afirma que irá legislar para "as mulheres, os negros, os trabalhadores e a população periférica" da Capital, perfis que identifica como seus principais eleitores.
No que diz respeito às mulheres, Karen afirma que pretende atuar no combate à violência doméstica, com ênfase "na raiz do problema":
— É algo que tem muito mais a ver com o modo como educamos os nossos meninos, por isso, não basta apenas atuar na lógica punitivista. Precisamos trabalhar a educação de gênero nas escolas e buscar caminhos que dialoguem com a prevenção e a educação. Também precisamos politizar as mulheres para que conheçam os seus direitos e entendam que são livres.
Em 2020, ela formou a bancada negra da Câmara Municipal ao lado de Bruna Rodrigues (PCdoB), Daiana Santos (PCdoB), Laura Sito (PT) e Matheus Gomes (PSOL). Os demais integrantes deixaram o parlamento do município após a eleição de 2022, elegendo-se para cargos na Assembleia Legislativa do Estado e no Congresso Nacional. Karen foi a única vereadora negra a permanecer na Câmara.
Agora, a representação ganha o acréscimo de Grazi Oliveira, também do PSOL, eleita ao legislativo municipal pela primeira vez. As duas serão as únicas parlamentares negras da próxima legislatura.
— Infelizmente, a eleição reflete a consciência racial da nossa cidade. É uma cidade segregada e que, ainda por cima, não se declara negra e parda. A missão da nossa bancada será fazer esse trabalho de base junto à população — reflete a vereadora.
Entre as pautas, diz que a prioridade do seu próximo mandato será a criação de uma "tarifa zero" para o transporte público do município. Na atual legislatura, a vereadora já vem debatendo a proposta, que prevê situações em que a passagem dos coletivos seria gratuita.
— Em Porto Alegre, a passagem é cara e os ônibus são uma porcaria, porque o sistema de transporte é sucateado. Acreditamos que é possível ter controle público do real custo do transporte para buscar taxações e subsídios que permitam a criação de uma tarifa zero. Isso seria uma garantia de que o povo da cidade poderá acessar a cidade — explica ela.
A vereadora se declara opositora do atual prefeito Sebastião Melo (MDB). Ela critica o governo do emedebista em diversos pontos, sobretudo na atuação durante a enchente.
Na próxima legislatura, promete defender mudanças na gestão do Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae), que define como "sucateado":
— O Dmae precisa ter autonomia, deixar de ficar na mão do governo da vez. Vou batalhar para que tenhamos eleições para os dirigentes do Dmae, para que essas pessoas sejam escolhidas pelos trabalhadores. Somente assim o Dmae não ficará mais subordinado ao governo e à política de plantão, a mercê do sucateamento.
No segundo turno, Karen Santos afirma que irá às ruas para fortalecer a campanha de Maria do Rosário (PT) à prefeitura.