A eleição do último domingo deixou 14 nomes conhecidos dos eleitores da Capital de fora da nova legislatura da Câmara de Vereadores de Porto Alegre. A quantidade de votos maior do que na eleição de quatro anos atrás e, na maioria, superior aos 2.669 recebidos pelo Coronel Ustra (PL), o vereador eleito com a menor quantidade de votos, não evitou o revés a alguns dos veteranos no legislativo municipal.
Em percentual, os 14 novos vereadores correspondem a uma renovação de 40% do plenário. Uma modificação de fotografia pouco inferior aos 44% de quatro anos atrás, mas maior do que a de 2016, quando o índice foi de 30,5%.
Três nomes saem de cena após seis mandatos na Casa. Os motivos são diferentes. Adeli Sell (PT), 71 anos, e Airto Ferronato (PSB), 72, não conseguiram votação suficiente para exercer a vereança mais uma vez. Já João Bosco Vaz (PDT) encerrou seu ciclo político e não concorreu este ano.
Polarização
Sell não esconde a decepção em relação aos seus 2.406 votos – 72 a mais do que a votação que lhe garantiu mandato no pleito municipal passado. Bem abaixo dos 8.264 recebidos na eleição de 2004, sua votação mais expressiva.
— Sempre tive uma visão universalista de temas gerais da sociedade. Houve uma fragmentação (dos votos) para núcleos e segmentos. A extrema-direita ganhou espaço. A população foi capturada por um discurso fácil, sem projeto — analisa.
O PT é a sigla com maior renovação. Dos cinco vereadores do partido, Alexandre Bublitz, Juliana Souza e Natasha estrearam no plenário municipal. MDB, PP, PSOL e Republicanos elegeram dois novatos cada. A fragmentação de partidos diminuiu. De 18 siglas do atual ciclo o número caiu para 13.
Apesar da sua conclusão para os motivos que o levaram a ficar como suplente, Sell garante que não mudará sua visão global sobre a política e a cidade. Ele lamenta principalmente não poder participar dos debates sobre o novo plano diretor de Porto Alegre, assunto no qual se aprofundou nos últimos anos.
Sem pretensões para concorrer a deputado por focar seus estudos em Porto Alegre, acredita que as décadas de vida pública lhe dão estofo para realizar consultorias e dar aulas.
— Tenho um capital político que poucos têm — enfatiza.
A visão de Sell é corroborada por Mônica Leal (PP), eleita nas duas últimas legislaturas e em outras duas ingressou no plenário como suplente. Sua análise para ficar como primeira suplente do partido, apesar de sua votação ter crescido 600 votos em comparação a 2020, é de que a polarização a teria prejudicado candidatos com posturas menos extremistas. Situação conectada por ela com os 31,51% de abstenção no domingo (6), a maior entre as capitais brasileiras.
— O discurso extremista promove o desinteresse. Vivemos tempos difíceis com discursos radicais, sem a valorização de quem mais trabalha para o interesse público. A abstenção foi maior do que a votação de quem foi para o segundo turno.
Mariana Lescano e Vera Armando são os rostos novos da bancada progressista. As próximas semanas de Mônica serão de engajamento para eleger Melo. Só depois, ela irá refletir sobre seu futuro.
— Não parei para pensar. Só depois que vou pensar na minha vida.
Aposentadoria
João Bosco Vaz não deve ser o único a encerrar o seu ciclo de disputa por cargos públicos. Mesmo caminho será percorrido por Idenir Cecchim, primeiro suplente do MDB e que deixará a Câmara após quatro mandatos. Sua votação de 3.629 ficou bem aquém dos 7.577 de 2008. Nada que tire a sua tranquilidade. O resultado, segundo ele, até era esperado. Seu foco estava mais em fortalecer a sigla e a campanha de Sebastião Melo à reeleição na prefeitura.
— Foi natural. Não tenho pretensões futuras. Poderia ter feito uma campanha mais agressiva. Fiz uma normalzinha. Houve uma renovação no partido, buscamos nomes de fora — explica.
Professor Vitorino e Rafael Fleck são as novidades do MDB para a próxima legislatura. O maior orgulho de Cecchim, de acordo com suas palavras, foi passar todo o seu período como vereador foi não ter tido nenhuma denúncia e processos.
— Saio de cabeça erguida — pontua Cecchim.
Ferronato foi vítima do quociente partidário. Para um partido ter direito a uma cadeira no plenário da Câmara foram necessários pouco mais de 19 mil votos. O PSB somou cerca de 8 mil, sendo 3.057 de Ferronato.
— Isso nos prejudicou. A Maria (do Rosário) tem muita rejeição. Tínhamos que ter feito coligação com a Juliana Brizola. Fiz minha parte, me dediquei com muita responsabilidade. Nossos maiores nomes deixaram o partido e não os substituímos por outros com a mesma substância eleitoral — avalia, ao mencionar a coligação do PSB com o PT.
Sem mandato após décadas, Ferronato pretende reeditar um livro publicado por ele sobre gestão contábil e financeira de microempresas e republicá-lo.
Cassiá Carpes (Cidadania), Claudio Janta (Solidariedade), Biga Pereira (PCdoB) e Lourdes Sprenger (MDB) são outras figuras carimbadas com mais de um mandato na Câmara de Vereadores que ficarão sem mandatos.
Vereadores que não tiveram os mandatos renovados
- Adeli Sell (PT)
- Airto Ferronato (PSB)
- Alvoni Medina (Republicanos)
- Biga Pereira (PCdoB)
- Cassiá Carpes (Cidadania)
- Claudio Conceição (União Brasil)
- Claudio Janta (Solidariedade)
- Everton Gimenis (PT, que ocupa a cadeira como suplente do Engenheiro Carlos Comasseto)
- Idenir Cecchim (MDB)
- João Bosco Vaz (PDT, que decidiu não concorrer)
- Lourdes Sprenger (MDB)
- Mônica Leal (PP)
- Pablo Melo (MDB, que ocupava a cadeira como suplente de Cézar Schirmer)
- Professor Alex Fraga (PSOL)