Um grupo de 19 pessoas, entre advogados e empresários de Santa Maria, na região central do Estado, entregaram uma notícia crime ao delegado regional da Polícia Civil Sandro Meinerz, pedindo a investigação de uma lista de boicote a empresas intituladas "estabelecimentos petistas", por supostamente terem apoiado o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições desse ano. Ações como essa já foram registradas em outras cidades do Estado, sobretudo na Serra. O delegado confirmou que vai instaurar um inquérito policial para investigar os fatos que, inicialmente, podem configurar crime de difamação.
— Algumas cópias de postagens apresentadas contêm informações de que esses profissionais e essas empresas seriam apoiadoras de corruptos, de ladrões, de bandidos. Quando se faz uma ilação que afeta a honra, a imagem, seja de uma pessoa física ou jurídica, comete-se um crime contra a honra. Esses elementos, a priori já verificados, subsidiam a notícia crime e justificam a instauração do inquérito policial. Uma coisa importante: a gente tem a livre manifestação do pensamento, todavia, a minha liberdade acaba na medida em que o que eu faço ou digo afeta, lesa ou ofende direito ou bens de terceira pessoa — explica Meinerz.
Na notícia crime, apresentada pelo advogado Leonardo Sagrillo Santiago, que é vice-presidente da subseção da Ordem dos Advogados do Brasil de Santa Maria e teve seu nome incluído na lista divulgada pelo Whatsapp, a alegação é de que as vítimas foram "atacadas na sua honra objetiva, tendo o seu nome ou do seu estabelecimento em uma lista com o objetivo de ferir a reputação e depreciar o serviço oferecido". Segundo o advogado, há um sentimento de injustiça entre as pessoas que tiveram seus nomes colocados e divulgados nesta lista.
— É uma situação a que a gente não desejava chegar. A gente passou por uma pandemia muito terrível também nos aspectos econômicos. E, agora, a gente ser colocado dentro de uma lista buscando um boicote de profissionais trouxe uma sensação de injustiça, sobretudo aqui na nossa comunidade, onde tentamos fazer o máximo para que seja próspera e tenha avanços. Então, isso foi encarado com um sentimento de muita injustiça e muita dor por todos nós — afirma Santiago.
Santiago ainda afirma que entregará à Polícia Civil provas como vídeos de pessoas incitando o boicote, prints da publicação da lista em diversos grupos e redes sociais, além de identificação e contato de algumas pessoas que seriam responsáveis pela disseminação da lista.
De acordo com o delegado Sandro Meinerz, não só quem criou a lista, mas também quem compartilha pode ser responsabilizado.
— Toda aquela pessoa que divulga um conteúdo, que recebe um conteúdo ofensivo à reputação e à imagem de alguém, e passa isso adiante tem também responsabilidade — complementa Meinerz.
A lista que circula tem dezenas de nomes de pessoas e estabelecimentos comerciais de todos os segmentos, autônomos, advogados, influenciadores digitais, médicos, cantores, entre outros.