Um ano após a fusão entre DEM e PSL, o União Brasil ainda vive um clima de brigas internas e disputas por protagonismo nas decisões políticas. Setores do partido, principalmente os ligados ao antigo DEM, têm reclamado do presidente da sigla, Luciano Bivar.
Esses grupos dizem que Bivar tentou levar o União Brasil para apoiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno e que ele tem tomado decisões sem ouvir a legenda. Críticos do dirigente também afirmam que ele tem a "doce ilusão" de ser o presidente da Câmara em 2023 caso Lula vença a eleição presidencial.
Um dos principais líderes da sigla, o governador reeleito de Goiás, Ronaldo Caiado, vocalizou publicamente a insatisfação com Bivar.
— A decisão pessoal dele não pode ser determinante quando se fala em maioria, a tese partidária não é o rito imperial do presidente, é da maioria. O presidente do partido pode ter a opinião dele, mas a maioria do partido já se declarou favorável (a Jair Bolsonaro, candidato do PL à reeleição) — disse Caiado no dia 6, quando participou de um pronunciamento no Palácio da Alvorada ao lado presidente da República.
Contra a maioria bolsonarista, o União Brasil anunciou neutralidade no segundo turno da eleição presidencial. Além de Bivar, o ex-prefeito de Salvador e candidato a governador da Bahia pelo partido, ACM Neto, foi essencial para isso, já que apoiar Bolsonaro seria ruim para ele, que concorre em um Estado de maioria lulista. Neto tem adotado a neutralidade em relação à disputa nacional desde o primeiro turno e a manteve na segunda fase da eleição.
Fusão com PP
Uma reunião da direção nacional e com a presença dos deputados e senadores eleitos está marcada para esta semana em Brasília. Não há uma pauta predefinida, mas uma ala do partido pretende questionar o modo como a legenda está sendo conduzida.
Outro ponto que precisa ser pacificado é a negociação para uma fusão ou federação com o PP. Uma parte do União Brasil é contra e vê isso como uma estratégia do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para capturar a legenda e fazer frente ao PL, que elegeu 99 deputados neste ano.
A divisão da legenda também pode ser observada no diretório do Rio. O prefeito de Belford Roxo e presidente do diretório estadual, Wagner Carneiro, o Waguinho, e a sua mulher, a deputada federal eleita mais votada no Rio, Daniela do Waguinho, apoiam Lula. Já o deputado estadual mais votado, Márcio Canella, e a família do ex-governador Anthony Garotinho decidiram apoiar Bolsonaro.
O senador eleito Sergio Moro, o vice-presidente da legenda, Antonio Rueda, e diretórios de Estados como Acre, Amazonas, Ceará e Mato Grosso também já aderiram à campanha bolsonarista.
Atrito pernambucano
O caso de atrito interno do União Brasil mais recente aconteceu na disputa para o governo de Pernambuco, terra de Bivar. O dirigente chegou a falar que a sigla está com a candidata Marília Arraes (Solidariedade), que é apoiada por Lula, mas outros integrantes do partido no Estado, como ex-ministro da Educação Mendonça Filho, o deputado Fernando Coelho Filho e o ex-prefeito de Petrolina Miguel Coelho — todos vindos do extinto DEM —, se apressaram em dizer que estão com a tucana Raquel Lyra na disputa pelo governo estadual e apoiam Bolsonaro para presidente.
Bivar também não esconde o incômodo com os colegas de partido e minimizou os apoios deles.
— O União Brasil e nós que dirigimos a legenda em Pernambuco estamos apoiando Marília Arraes. Mendonça e a família Coelho não falam pelo partido em Pernambuco — disse.
Sobre Lula, Bivar evitou dar um endosso público, mas já disse que os apoios dados a Bolsonaro por caciques da legenda não representam o partido.
— Nenhum deles responde pelo União Brasil nacional. União Brasil é um pacto de 27 Estados com representatividade e diretórios. Cada Estado tem sua independência — afirmou Bivar no dia 6, quando anunciou que a legenda adotaria neutralidade no segundo turno da eleição presidencial.
Em nota divulgada no início de outubro, o presidente do partido também fez uma crítica velada ao bolsonarismo e disse que não pode "comungar com forças retrógradas extremistas e conservadoras". Bivar já foi aliado de Bolsonaro e, inclusive, foi o dirigente partidário que viabilizou sua candidatura à Presidência em 2018, mas os dois romperam logo no primeiro ano de governo, em 2019, após uma disputa pelo comando do antigo PSL.