Faltando 11 dias para os gaúchos decidirem quem será o governador do Estado pelos próximos quatro anos, os dois candidatos que disputam o segundo turno voltaram a se enfrentar nesta quarta-feira (19) em debate promovido pela Federasul. Por cerca de uma hora e meia, Eduardo Leite (PSDB) e Onyx Lorenzoni (PL) ficaram lado a lado, confrontaram ideias e trocaram farpas na reunião-almoço Tá na Mesa, observados por uma plateia formada majoritariamente por empresários.
No painel, Leite fez uma defesa enfática do legado de medidas implementadas em seu governo, como as reformas administrativa e previdenciária e as privatizações de estatais. Em suas intervenções, Onyx criticou medidas que resultaram na restrição do comércio durante a pandemia e disse que o Estado não conseguiu melhorar a competitividade da economia nos últimos anos.
Durante o embate, os dois candidatos se comprometeram a não aumentar impostos na futura gestão e governar sob a égide da responsabilidade fiscal. Ambos foram instados a responder sobre o tema em uma pergunta elaborada pela organização do evento.
— Vou me empenhar junto à minha equipe de trabalho para reduzir ainda mais os impostos no Rio Grande do Sul. E outra coisa muito importante: simplificar — declarou Onyx, primeiro a responder o questionamento.
Na sequência, Leite também assumiu o compromisso:
— Vamos continuar trabalhando na lógica da redução da carga tributária, mas sempre com responsabilidade.
Os concorrentes também contrastaram visões sobre o desenvolvimento do Rio Grande do Sul e a gestão de empresas estatais, como Banrisul e Corsan. Leite questionou o adversário a respeito da promessa de suspender o processo de privatização da companhia de saneamento, e Onyx disse que o modelo encaminhado pelo governo do Estado foi mal feito.
— Fizeram um projeto que tem um ganho extraordinário para o adquirente, e um pagamento brutal para as pessoas. Vamos contratar um estudo de viabilidade e construir um novo projeto porque precisamos ter saneamento e água barata para quem paga — afirmou o candidato do PL.
Leite ponderou que a ideia de travar a privatização colide com o novo marco regulatório do saneamento, que demanda alto volume de investimentos para o cumprimento da meta de tratar 90% do esgoto gerado até 2033.
— A Corsan precisa sair dos R$ 400 milhões que investe anualmente para quase R$ 1,5 bilhão. Se não fizer essa expansão dos investimentos, os municípios vão começar a questionar e rescindir contratos com a Corsan porque ela não apresenta capacidade financeira — disse o tucano.
Na discussão a respeito do equilíbrio fiscal, o ex-ministro disse que o presidente Jair Bolsonaro (PL), seu aliado, foi “o melhor secretário da Fazenda” para o Rio Grande do Sul. Leite acusou o oponente de não conhecer a situação do Estado:
— O senhor não ofende apenas a mim ao dizer que o secretário da Fazenda foi Bolsonaro. O senhor ofende o esforço dos deputados que votaram as reformas e dos servidores que enfrentaram 57 meses de salários atrasados e tiveram de assimilar transformações nas carreiras.
Onyx reagiu e atribuiu o pagamento em dia ao auxílio recebido do governo federal durante a pandemia:
— Não fossem os recursos do governo Bolsonaro, não teria colocado em dia os salários dos servidores. Se a gente tirar os recursos do governo Bolsonaro e os recursos obtidos pelas privatizações, o déficit de 2020 seria de R$ 500 milhões.
Aperto de mãos
A exemplo do que se viu em encontros anteriores, houve momentos de rispidez e provocações entre os candidatos durante a troca de ideias. No entanto, diferentemente do que ocorreu no debate da Rádio Gaúcha, na sexta-feira passada (14), os dois apertaram as mãos antes do início do evento, em uma sala reservada junto do presidente da Federasul, Anderson Trautman Cardoso.
Ao iniciar sua participação no evento, Onyx reclamou de ter sido acusado injustamente do crime de homofobia e disse que, no encontro anterior, se recusou a cumprimentar o oponente em razão de Leite ter supostamente ofendido seu filho, o deputado estadual Rodrigo Lorenzoni:
— Mas o Deus que eu sirvo ensina a perdoar. Hoje de manhã, em frente ao presidente Anderson, estendi a mão e cumprimentei meu adversário. Pedi a ele que parasse com a campanha de baixo nível que tem sido feita contra nossa pessoa.
Quando retomou a palavra, Leite respondeu que a “baixaria” parte da campanha de seu opositor. O tucano citou o caso de um apoiador de Onyx que foi demandado pela Justiça Eleitoral a excluir um vídeo das redes sociais no qual acusava o tucano de "implementar a ideologia de gênero nas escolas". Também mencionou o episódio em que um ex-vereador de Cruz Alta, apoiador de Onyx, dirigia ofensas homofóbicas a ele em um carro de som.
— Não houve ataque ao seu filho. Ele foi meu secretário e foi um bom secretário, não tenho reclamação maior dele. A não ser depois que saiu do governo e, por oportunismo político, começou a desferir ataques políticos — provocou Leite.
Nas considerações finais, Onyx criticou o tucano por não tomar lado na disputa presidencial:
— O dono do muro é o diabo. Tem que ter coragem. Todo mundo sabe que desde abril de 2017 eu assumi um lado no Brasil. O lado de Jair Bolsonaro, do Brasil verde e amarelo, que combate a mentira, o comunismo, a desfaçatez e a roubalheira.
Leite respondeu, alfinetando o oponente:
— Eu tenho lado, o lado da vacina. Eu tenho lado, o que não é réu confesso de caixa dois. Este é o meu lado.
Com maior número de apoiadores na plateia, Leite foi mais aplaudido que o adversário em suas intervenções, mas Onyx também foi saudado em algumas oportunidades. Nenhum deles foi vaiado. O candidato do PL foi interrompido apenas uma vez por murmúrios, mas pediu “respeito da torcida” e continuou a explanação.
Na abertura do evento, o presidente da Federasul discursou em defesa da eficiência na gestão pública e pediu que os candidatos priorizem investimentos em educação e inovação.
— Manter o equilíbrio das contas públicas é o mínimo que esperamos dos senhores. Mas precisamos ir além. Temos uma enorme dívida com o futuro na área da educação — salientou Cardoso.