Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) participaram nesta sexta-feira (28) do segundo e último debate do segundo turno das eleições. O confronto foi mediado pelo jornalista William Bonner nos Estúdios Globo, no Rio de Janeiro.
O primeiro e único debate entre os dois candidatos no segundo turno havia sido realizado na Band TV, no último dia 16. De lá para cá, o petista preferiu participar de comícios e, por isso, declinou dos convites para participar de outros encontros, como na Record TV e no SBT — as emissoras, por sua vez, cederam o espaço para Bolsonaro, que participou de sabatinas com jornalistas.
O resumo
Realizado a partir das 21h30min, o encontro teve transmissão ao vivo pela TV Globo, pela GloboNews, pelo g1 e pelo Globoplay, além de cobertura em tempo real por GZH. O debate teve cinco blocos: o primeiro e o terceiro com temas livres, com duração de 30 minutos. O segundo e o quarto blocos tiveram temas determinados, com duração total de 20 minutos, com dois debates de 10 minutos. Em todos os blocos houve trocas de farpas.
Após o término do debate, os candidatos participaram de uma entrevista coletiva na sala de imprensa, com duração de 10 minutos para cada um.
O debate em fotos
Bloco a bloco
Primeiro bloco
Temas livres, com duração de 30 minutos. Cada candidato teve 15 minutos e deveria administrar seu tempo entre perguntas, respostas, réplicas e tréplicas.
- Bolsonaro abriu o bloco listando ações de seu governo na pandemia, e lembrou de propaganda de seu adversário que dizia que se o presidente for reeleito irá acabar com diversos direitos dos trabalhadores. Lula disse que aumentou em mais de 70% o salário mínimo e que Bolsonaro não aumentou. O presidente respondeu que enfrentou a pandemia e que aumentou o salário mínimo, e voltou a perguntar sobre a propaganda de Lula, que acusou novamente Bolsonaro de não reajustar os salários. O presidente criticou a falta de resposta sobre o programa eleitoral e o chamou de "mentiroso". Lula respondeu que mentiroso era Bolsonaro. O presidente defendeu suas medidas na pandemia e disse que Lula ficou do lado do "fique em casa", que afetou a economia. Ele cobrou de novo resposta sobre a propaganda política. Lula afirmou que Bolsonaro mentiu 6.498 vezes. O presidente apontou que o sistema está contra ele e que as inserções de propaganda que tinha foram tiradas.
- Lula disse que a imprensa definiu Bolsonaro como o maior mentiroso do Brasil. Ele perguntou por que o presidente não deu aumento real ao salário mínimo. Bolsonaro questionou por que Lula pagou tão pouco de Bolsa Família aos pobres, e chamou o programa de escravatura porque as pessoas não podiam arranjar emprego, senão perdiam o benefício. Também acusou a bancada do PT de votar contra o Auxílio Brasil. Lula disse que era bobagem comprar Bolsa Família com Auxílio Brasil porque havia outras questões envolvidas na política pública, como Luz para Todos, criação de cisternas e outros. Bolsonaro disse que o Bolsa Família juntou vários programas de outros governos e que nada foi criado por Lula. Perguntou por que o PIB caiu 7% no governo Dilma Rousseff. Lula afirmou que o governo de Michel Temer foi golpista, ajudado no golpe por Bolsonaro. O ex-presidente afirmou que Bolsonaro queria dar R$ 200 de auxílio, e não R$ 600, e não haveria previsão para manter esse valor em 2023. Bolsonaro respondeu que é mentira, que haverá a manutenção dos R$ 600. Sobre a transposição do São Francisco, comentou que a obra não foi terminada e perguntou o motivo, dizendo que o dinheiro parou no bolso do petista. Lula falou sobre um esquema para condená-lo e permitir que Bolsonaro fosse eleito em 2018.
- Bolsonaro perguntou onde estão alguns dos condenados pela Lava Jato e se voltarão ao governo se Lula vencer a eleição. O ex-presidente questionou sobre o "pistoleiro" Roberto Jefferson, e perguntou como inserir o Brasil no mundo, ou se o presidente vai seguir mantendo o Brasil isolado. Bolsonaro respondeu que teve três vezes mais acordos internacionais. Acusou que Jefferson era amigo de Lula e "explodiu o governo" com "mensalão, petrolão", e afirmou que o ex-presidente deveria estar preso ou em casa, e não disputando eleição, e perguntou se "o crime compensa". Lula disse que deu uma chance para que Bolsonaro olhasse para o povo brasileiro e explicasse o que quer fazer. Bolsonaro afirmou que a política externa de Lula era com Maduro, Cuba, Argentina, e dava dinheiro do BNDES para esses países. O ex-presidente comentou que a política externa de seu governo foi a mais eficaz e que as reservas externas formadas salvam o país até hoje. O presidente respondeu que o que Lula deixou foi dívida, que mandou fazer um porto em Cuba e tomou calote, e que a garantia da obra em contrato eram "charutos".
- Lula afirmou que "o cidadão está desequilibrado hoje" e que deveria explicar por que isolou o Brasil do mundo. Bolsonaro defendeu sua ação na Rússia para garantir fertilizantes e que conversa com o presidente norte-americano, Joe Biden, e diversos outros governantes. Lula falou de rachadinhas e do esquema envolvendo pastores no Ministério da Educação. O presidente apontou que a economia do país vai bem, com alta de empregos, queda da inflação, e quis saber por que Lula pagava tão pouco de Bolsa Família. O ex-presidente pediu que a Globo faça um intervalo para que Bolsonaro descanse. O candidato do PL afirmou que a bancada do PT foi contra a redução dos impostos dos combustíveis. Lula lamentou ter que ver a "desfaçatez" de seu adversário aos 77 anos de idade e acusou o governo de ter tornado o Brasil um pária.
- Lula obteve um direito de resposta. Disse que participa de debates desde 1989, em que se discutia temas sobre o Brasil, e que Bolsonaro veio preparado para falar de um programa de TV que não assiste.
Segundo bloco
Temas determinados e duração total de 20 minutos, com dois debates de 10 minutos. Os temas foram escolhidos pelos candidatos entre os seis oferecidos pela TV Globo em um telão. Cada candidato teve cinco minutos para debater e deveria administrar seu tempo entre perguntas, respostas, réplicas e tréplicas. Cada tema só podia ser escolhido uma única vez, sem repetição.
- Lula abriu o bloco querendo falar sobre Previdência, mas esse assunto não estava na tela apresentada por Bonner, então escolheu combate à pobreza. Lembrou de como seu governo enfrentou a pobreza, listando o que o povo conseguia comprar, inclusive passagens aéreas. Perguntou por que o povo ficou tão miserável no governo de Bolsonaro. O presidente citou que dados do Ipea mostram que a situação não está assim, e que quem passa necessidades pode pedir Auxílio Brasil. Lula afirmou que há 33 milhões de pessoas passando fome e quis saber quando o problema será resolvido pelo presidente. Bolsonaro apontou que há gente passando fome, mas não esse número, e que Lula "chuta números". Chamou Lula de "farsante" por na verdade querer que o povo passe fome. Lula respondeu que a equipe econômica do presidente deveria auxiliá-lo com dados para mostrar que as pessoas estão passando fome, a equipe do "seu Deus", o ministro Paulo Guedes. Criticou ainda que o tempo para concessão de benefício previdenciário e de seguridade foram ampliados e aposentadorias e pensões foram reduzidas nas reformas. Bolsonaro respondeu que fez muitas reformas e muitos marcos para que o Brasil prossiga no "caminho da prosperidade" e longe da corrupção dos governos do PT.
- Bolsonaro escolheu o tema respeito à Constituição. Afirmou que desde o início do governo joga "dentro das quatro linhas da Constituição" e que Lula defende invasão de terras e de propriedades na cidade. O ex-presidente respondeu que Bolsonaro vive xingando os ministros e ameaçando fechar o STF, o que não resulta em respeito à Constituição. O presidente disse que o PT entrou na Justiça para calar a rádio Jovem Pan e que Lula é a favor da regulação da mídia. Lula perguntou se aquela era a rádio do Bolsonaro, e que a ação foi para obter isonomia de tratamento aos candidatos. Disse ainda que Bolsonaro não tem respeito pela Constituição, e sim, medo. Bolsonaro voltou a citar invasões de terras defendidas por Lula. O ex-presidente respondeu que disponibilizou terras que agora produzem 70% do total de alimentos do país. Bolsonaro criticou que Lula não dava títulos de terras, e sim usava os assentados para aterrorizar o país, e que o governo atual concedeu títulos. O ex-presidente citou um trecho de discurso em que Bolsonaro sugere distribuição de pílulas de aborto. O presidente afirmou que isso foi 30 anos atrás e que se pode mudar de opinião, e que Lula é "abortista" atualmente e não tem respeito com a vida humana. Lula negou, citado filhos, netos e bisneta.
- Lula obteve um direito de resposta. Ele criticou a reforma da Previdência, e pediu mais respeito do presidente com as famílias que assistem ao debate e se "comporte como presidente".
Terceiro bloco
Temas livres, com duração de 30 minutos. Cada candidato teve 15 minutos e deveria administrar seu tempo entre perguntas, respostas, réplicas e tréplicas.
- Lula começou falando sobre saúde. Disse que o Brasil tem 3% da população mundial e 11% das vítimas de covid-19. Perguntou por que Bolsonaro negou a vacina, escondeu o seu cartão de vacinação e tirou dinheiro da Farmácia Popular. Bolsonaro respondeu que Lula "enrolou a língua" e não pôde entender, mas que comprou vacinas, Farmácia Popular foi decidida no Congresso, e que se Lula tomou vacina, deve agradecer ao presidente. Lula salientou que São Paulo vacinou antes que o governo federal, assim como outros países, e que o presidente não ouviu os médicos. Bolsonaro lembrou de vídeo em que Lula agradece a Deus pela covid-19. O petista disse que "um dia vai bater na consciência" do presidente a questão das mortes por coronavírus, e criticou ele nunca ter visitado um doente nos hospitais. Bolsonaro apontou que os ministros da Saúde de Lula se envolveram em corrupção. Lula disse que o orçamento da Saúde no seu governo cresceu, comprou ambulâncias, construiu UPAs e farmácias populares, e que seu oponente colocou um general para cuidar da pasta. Bolsonaro falou que o vice de Lula quer taxar o Pix, acabar com a desoneração da folha, entre outras medidas. Lula disse que quem está concorrendo é ele, e não Alckmin, e sugeriu um debate entre os vices. Depois, afirmou que Bolsonaro comprou Viagra para os militares enquanto o povo não tem nem fralda nos hospitais. O presidente disse que o Viagra é usado para tratar problemas de saúde. Criticou que Lula trouxe médicos cubanos para o Brasil, e que não entendiam nada de saúde, e perguntou quantos milhões foram pagos para Cuba. Lula defendeu o programa Mais Médicos, que chegou a municípios que nunca haviam visto um médico, e que isso foi elogiado pelo então presidente dos EUA Barack Obama, e perguntou por que o presidente não distribuiu Viagra para toda a população. Bolsonaro afirmou que os médicos cubanos não sabiam nada e estavam no Brasil somente para mandar dinheiro para Cuba, e foram embora quando ele se elegeu e disse que aplicaria prova do Revalida.
- O presidente seguiu citando medidas que Lula tomaria em um novo governo, listados em um documento, como fim do combate às drogas e desmilitarização das polícias. O ex-presidente respondeu que não sabe que documento seria esse, e que poderia ser um setorial do PT, mas que não se tratam de medidas a serem tomadas em um futuro governo, e sim de questões partidárias com as quais o presidente não está acostumado porque não tem partido, e sim aluga um cada vez que vai concorrer. Bolsonaro afirmou que a violência diminuiu no seu governo, enquanto no do petista, cresceu. Perguntou por que em 2006 Lula nem Alckmin transferiram o traficante Marcola para uma prisão de segurança máxima. Lula pediu para ele perguntar isso ao Alckmin, e exemplificou que segurança para Bolsonaro é uma pessoa atirar contra policiais federais, lembrando o caso de Roberto Jefferson. Bolsonaro respondeu que assim que o fato ocorreu ele mandou prender Jefferson. Lula afirmou que ele mandou a polícia e o ministro da Justiça negociar em que Jefferson se entregasse, e que se fosse um negro no lugar dele, Bolsonaro teria mandado matá-lo. O presidente afirmou que Jefferson é "amigo de roubalheira" de Lula e que deveriam ter "muito assunto na cadeia". Lula questionou o motivo do corte da verba para programas de proteção a mulheres. Bolsonaro respondeu que a violência contra a mulher diminuiu no seu governo e que não estão faltando recursos. Lula acusou que seu adversário transforma tudo em sigilo, e que na hora que se levantar o tapete vai se ver a "podridão", como o caminhão cheio de barras de ouro dos pastores do MEC. Bolsonaro respondeu que tem foto do dinheiro em malas de Geddel Vieira Lima e que ele está na campanha do PT na Bahia. Lula salientou que a questão de Geddel é com a Polícia Federal.
Quarto bloco
Temas determinados e duração total de 20 minutos, com dois debates de 10 minutos. Os temas foram escolhidos pelos candidatos entre os seis oferecidos pela TV Globo em um telão. Cada candidato teve cinco minutos para debater e deveria administrar seu tempo entre perguntas, respostas, réplicas e tréplicas. Cada tema só podia ser escolhido uma única vez, sem repetição.
- Bolsonaro abriu o bloco com o tema criação de empregos. Defendeu que o seu governo ampliou as vagas de emprego mesmo na pandemia. Perguntou a Lula sobre vídeo em que diz que criaria empregos para homens e mulheres, mas não sabia como. O petista afirmou não ter ouvido a questão porque Bolsonaro "fala para dentro". Esclarecida a questão, Lula afirmou que mudaram os critérios dos números sobre emprego, incluindo MEI e trabalho sem carteira assinada, o que não ocorria no seu tempo, e que quando assumir o governo vai resolver o problema do desemprego. Lula prometeu criação de cooperativas, isentar do IR quem ganhar até R$ 5 mil, aumentar o salário mínimo todo ano acima da inflação. Bolsonaro afirmou que no final do governo do PT foram perdidos 3 milhões de empregos e que o parlamento está afinado com o governo para o país crescer e que este ano o Brasil vai superar a China em crescimento. Lula criticou que a massa salarial caiu e que o salário mínimo não teve nenhum aumento real no governo atual. Bolsonaro elogiou o Pix sem taxação, a queda do preço de produtos da cesta básica, o perdão a dívidas de estudantes, o fornecimento de água e energia no Nordeste, metrô em Belo Horizonte e não em Cuba.
- Lula escolheu o tema do meio ambiente. Perguntou ao seu adversário até quando ele continuará com a política de desmatamento na Amazônia. Bolsonaro respondeu que seus números são melhores do que os dos governos Lula. O petista elogiou Marina Silva, que foi sua ministra do Meio Ambiente e estava presente ao debate. A seguir recordou que o Brasil se tornou respeitado no mundo na questão ambiental em seu governo e que reduziu o desmatamento em 80%. Bolsonaro disse que construirá na costa do Nordeste o equivalente à produção de 50 vezes Itaipu com energia eólica. Lula defendeu a energia limpa e garantiu que fará muito mais. O candidato à reeleição destacou o Marco do Saneamento, que prevê água e esgoto para todos e que o PT votou contra. O petista apontou que várias obras foram feitas ou iniciadas em seu governo e que seu adversário acha que foi ele que fez agora. E que em seu governo as pessoas voltarão a comer carne. Bolsonaro contestou a informação, dizendo que em seu governo se come mais carne do que no governo do PT.
Quinto bloco
Cada candidato fez as suas considerações finais em um minuto e meio.
- Lula: "Quero dizer para o povo brasileiro que, se ele quiser, posso ser o presidente da República para restabelecer a harmonia. Provavelmente, o melhor tempo foi em que governei este país. Não havia brigas. Eram distribuídos 16 milhões de livros didáticos para o Ensino Médio, a educação funcionava, a cultura funcionava, o salário aumentava, e a gente pode reconstruir esse país".
- Bolsonaro: "Quero deixar bem claro que mais do que escolher um presidente, é escolher o futuro da nação, se vai se ter liberdade, se vai ser respeitada a família brasileira. Se o aborto continuar sendo proibido ou não. Não queremos a liberação das drogas, o outro lado quer defender as drogas. Nós respeitamos a propriedade privada. A cor verde e amarela".