Ao contrário do que sugere um vídeo enganoso que circula nas redes sociais, Simone Tebet (MDB), candidata à Presidência, não disse que vai "tirar dinheiro dos pobres" para dar à classe média. Ela propõe, na verdade, retirar a cobrança do imposto de renda de quem ganha menos e aumentar essa taxação sobre os mais ricos. O conteúdo omite o contexto da fala de Tebet ao Jornal Nacional, o que induz a uma interpretação equivocada da declaração da candidata.
Conteúdo investigado: vídeo no Kwai mostra parte da entrevista de Simone Tebet, candidata à Presidência da República pelo MDB, ao Jornal Nacional, em que ela afirma: “temos que fazer com que a classe média possa não pagar o imposto de renda. Para isso só tem um caminho: tirar dos mais pobres e pedir para os mais ricos”.
Onde foi publicado: Kwai.
Conclusão do Comprova: é enganoso o vídeo no Kwai que tira de contexto afirmações da candidata à Presidência Simone Tebet durante sabatina no Jornal Nacional, da Rede Globo, no dia 26 de agosto. O conteúdo sugere que ela teria como proposta no plano de governo tirar dinheiro dos mais pobres para dar à classe média.
Após ser questionada no telejornal sobre as propostas de mudanças na aplicação do imposto de renda, Tebet responde: “temos que fazer com que a classe média possa não pagar o imposto de renda. Para isso só tem um caminho, tirar dos mais pobres e pedir para os mais ricos. Eu sou a favor da taxação do lucro e dividendos […] Isso tá (sic) no nosso programa e a gente mexe na tabela de imposto de renda à medida em que cobra essa taxa de lucros e dividendos dos ricos”.
Tebet se referia à reforma do imposto sobre a renda para, como consta na página 31 do seu plano de governo, “eliminar a regressividade do nosso sistema”, cenário no qual a arrecadação tributária é proporcionalmente maior sobre quem ganha menos. Ou seja, a candidata quer evitar que pessoas mais pobres paguem mais impostos.
Baseando-se no contexto original, é possível entender que o intuito dela é ”tirar” carga de impostos dos mais pobres, não o dinheiro deles, e aumentar esse tipo de taxação sobre os mais ricos.
Enganoso, para o Comprova, é qualquer conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
Alcance da publicação: o Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. A postagem teve 968 curtidas, mais de 1 mil comentários e 737 compartilhamentos no Kwai até 6 de setembro.
O que diz o autor da publicação: o Comprova entrou em contato com o perfil que publicou o vídeo por meio de mensagem privada no próprio Kwai, mas até o fechamento desta checagem, não obteve resposta.
Como verificamos: elementos visuais do vídeo enganoso apresentavam semelhanças com a entrevista de Tebet concedida ao Jornal Nacional em 26 de agosto de 2022. A partir disso, assistimos ao programa e identificamos o momento das falas da política que foram usadas no conteúdo investigado (minuto 26:51 da entrevista).
Depois, por meio das palavras-chave “Tebet”, “imposto” e “Jornal Nacional”, encontramos matérias que repercutiram as falas da entrevistada (G1 e UOL) para entender o contexto das afirmações. Também entramos em contato com a assessoria de imprensa dela, que repassou a demanda para o setor de comunicação da campanha nacional do MDB. Além disso, buscamos respostas do autor da publicação.
Entrevista de Tebet ao Jornal Nacional
Simone Tebet participou da sabatina ao vivo do Jornal Nacional em 26 de agosto de 2022. Após Tebet falar de propostas para a educação e mencionar a necessidade de uma reforma tributária, a jornalista Renata Vasconcellos pergunta sobre o imposto de renda. A candidata afirma que a reforma tributária mais importante no país é a do consumo, porque “quem mais paga imposto no Brasil é o pobre, é o que mais consome, com proporcionalmente a renda”. Ela também argumenta que pessoas de menor renda deixam metade, ou um pouco mais da metade, do salário no supermercado.
Depois disso, Renata indaga: “com relação ao imposto de renda, que eu lhe perguntei, quais são os seus planos? A gente tem 5 faixas, né? Os isentos e mais 4. O que muda?”
Tebet responde: “temos que fazer com que a classe média possa não pagar o imposto de renda. Para isso só tem um caminho, tirar dos mais pobres e pedir para os mais ricos. Eu sou a favor da taxação do lucro e dividendos e essa é uma discussão madura que nós temos com todo equilíbrio, mas com toda a verdade, colocar para a população”.
“Eles já sabem disso. Isso tá (sic) no nosso programa, e a gente mexe na tabela de Imposto de Renda à medida em que cobra essa taxa de lucros e dividendos dos ricos. É a lei Robin Hood, mas nós não vamos roubar de ninguém. Nós só vamos pedir a eles que contribuam minimamente para um país que é o país mais rico do mundo com o povo mais pobre”, continua a política.
Por si só, o vídeo verificado retira as falas do contexto original e insere na legenda os termos “A candidata Simone Tebet tira dos mais pobres” para induzir a interpretação de que a candidata do MDB tem, como proposta, tirar dinheiro dos mais pobres para dar à classe média.
Plano de governo de Tebet
Como citado por Simone Tebet durante a entrevista, a página 31 de seu plano de governo menciona a reforma do imposto de renda com o objetivo de eliminar a regressividade do sistema tributário brasileiro.
A regressividade do sistema tributário ocorre quando há uma arrecadação proporcionalmente maior sobre quem ganha menos. Sendo assim, evitar a regressividade do sistema, como proposto pela candidata do MDB, significa evitar que pessoas mais pobres paguem, tendo como base o tamanho de sua renda, mais em impostos.
Procurada pelo Comprova, Tebet afirmou, em nota: “esta notícia é uma inverdade! O que precisamos é de justiça tributária no país, com um sistema mais progressivo e não regressivo como temos hoje: quem pode mais, paga mais; quem pode menos, paga menos”.
Por que investigamos: o Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. Conteúdos enganosos sobre candidatos à Presidência da República podem prejudicar o processo eleitoral como um todo ao influenciar a decisão de eleitores através de informações equivocadas.
Outras checagens sobre o tema: as agências Aos Fatos e Estadão Verifica realizaram checagens sobre as informações de toda entrevista de Tebet ao Jornal Nacional.
Ainda sobre eleições, recentemente, o Comprova mostrou ser falso que Simone Tebet deixou médica ser humilhada na CPI da Covid; que postagem no Twitter sugerindo apoio de João Amoêdo a Lula é enganosa e que é falso que apresentadores estrangeiros fizeram piada sobre Lula e eleitores baianos.