A largada da campanha eleitoral acelera a movimentação nos principais comitês da disputa pelo governo do Estado. Dirigentes e assessores passam os dias em ritmo frenético, definindo estratégias de marketing, agendas de viagens e preparando a logística para multiplicar a imagem e o discurso do candidato por todo o Rio Grande do Sul.
No PT, Edegar Pretto obedece a um rígido cronograma nesse início de campanha. O objetivo é aproveitar a reta final de agosto para gravar programas de rádio e TV, além de participar de debates e eventos institucionais. O candidato também deve visitar colégios eleitorais representativos da Serra e da Região Metropolitana, privilegiando municípios onde a aliança possui candidatos competitivos a deputado estadual e federal.
Como a agenda é mais apertada nessa etapa inicial, Pretto deve dividir os compromissos com o vice Pedro Ruas (PSOL) e o candidato ao Senado, Olívio Dutra. A forte presença nas ruas, uma das marcas do PT, será intensificada em setembro.
Coordenadora da campanha, Mari Perusso, afirma que a estratégia geral é mostrar realizações dos governos do PT no Estado e no país, com ênfase nas políticas sociais. A associação à candidatura nacional do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva será uma constante, bem como a presença de Olívio, tido como um talismã capaz de furar a bolha de esquerda.
— Nossa campanha é toda casada com Lula e Olívio. Vamos também resgatar nossos legados, com uma releitura das propostas à política do momento e o que pretendemos fazer para o futuro. Vai ser uma campanha bem propositiva, focando questões reais da vida das pessoas — afirma Mari, que foi chefe da Casa Civil no governo Tarso Genro.
No PSDB, Eduardo Leite também se dedica nessa largada à gravação da propaganda eleitoral, conciliando viagens, entrevistas e participação em eventos. A coordenação de campanha, a cargo de Caio Tomazeli, evita antecipar os roteiros do candidato pelo Estado, mas o foco está concentrado em municípios que abrigam obras de relevo deflagradas na atual gestão.
Diferentemente da campanha de 2018, quando o PSDB precisava apresentar Leite, então um ex-prefeito de Pelotas ainda desconhecido do eleitorado, agora a ideia é exibir os resultados de seu governo, como o equilíbrio das contas públicas e investimentos de R$ 6 bilhões do programa Avançar.
A aliança com o MDB, adversário no segundo turno da eleição passada, também ganha especial destaque. Leite e o vice Gabriel Souza compartilham quase todos os compromissos, com o tucano fazendo reconhecimentos públicos de que o combate à crise fiscal começou na gestão anterior e que o próximo governo será uma evolução. Há ainda preocupação em equilibrar a defesa às críticas dos adversários à renúncia de Leite e ao descumprimento da promessa de não disputar a reeleição.
— A ideia é ir temperando essas questões. Não adianta assumir postura defensiva se não temos nada a esconder. Tampouco seremos agressivos. Vamos reforçar que Leite é o caminho seguro, evitando polaridades e posições binárias, sem buscar culpados, mas preocupado em achar soluções — diz Tomazeli, ex-assessor especial de Leite no governo.
No PP, Luis Carlos Heinze vai concentrar a logística de campanha na Região Metropolitana e nos grandes centros urbanos do Interior. Nos últimos anos, o senador promoveu cerca de 40 encontros regionais, disseminando a candidatura em todas as regiões do Estado. A prioridade agora será a Grande Porto Alegre, os vales do Sinos e do Caí, o Planalto, a Serra e Zona Sul. Apoiado em pesquisas qualitativas, Heinze também vai intensificar a presença em Porto Alegre das duas mulheres da chapa, a vice Tanise Sabine (PP) e a candidato ao senado, Comandante Nádia.
Com uma trajetória reconhecida em defesa do agronegócio, Heinze busca diversificar a pauta nesta campanha. Para tanto, está empenhado em apresentar propostas sobretudo para melhorar a infraestrutura e a educação, com foco na nos ganhos de competitividade e na qualificação da mão de obra.
Aliado do presidente Jair Bolsonaro, o senador vai defender o governo federal, mas não pretende nacionalizar a campanha nem atacar o ex-governador Eduardo Leite.
— Ele é identificado com Bolsonaro e vai colocar o presidente na propaganda, até porque o PP está na aliança nacional. Mas não vai fazer disso o carro-chefe da campanha. Heinze tem patrimônio político próprio. Também não vai bater no Leite. Fará a crítica política, sobretudo na educação, com dados de desempenho escolar e evasão estudantil — conta o coordenador da campanha, o ex-prefeito de Cotiporã João Carlos Breda.
No PL, Onyx Lorenzoni tem percorrido o Interior desde março, quando deixou o cargo de ministro do Trabalho e Previdência e reassumiu o mandato de deputado federal. A partir de agora, as viagens serão balanceadas, seguindo uma lógica de equilibrar a presença do candidato em pequenos e grandes municípios.
Onyx dispensou a presença de um marqueteiro e está conduzindo pessoalmente a estratégia publicitária e a coordenação da campanha, ao lado do deputado Giovani Cherini. Seu foco tem sido a defesa de políticas sociais e de fomento ao empreendedorismo, com propostas de redução da burocracia e simplificação tributária, assistência à primeira infância e à população de baixa renda.
O alinhamento à candidatura do presidente Jair Bolsonaro será constante durante toda a campanha, bem como a ênfase em “falar a verdade”. Onyx pretende usar o mote para enfrentar o confesso uso de caixa 2 eleitoral e atacar Leite pela renúncia ao governo do Estado e quebra da promessa de não disputar a reeleição.
— A gente não tem estratégia, coisa de guerrilha. Vamos apresentar um projeto para o Rio Grande nos moldes do que foi feito no governo federal, simplificar para quem gera emprego e estender a mão para quem precisa. Não temos inimigo, mas a renúncia foi uma escolha do Leite. Cada um arca com suas escolhas e quem julga é o eleitor — afirma o coordenador de comunicação, o publicitário Daniel Ramos.
No PDT, Vieira da Cunha está dividindo o tempo entre o Interior e a Região Metropolitana. A cada semana, ele visita pelo menos duas ou três cidades interioranas, faz em média duas incursões em Porto Alegre e reserva pelo menos um dia para alguma outra cidade no entorno da Capital. Quando circula pelos municípios, aproveita para destacar dois pilares de sua candidatura: a educação e a saúde.
Sob a consultoria do coordenador de marketing, Francisco Spiandorello, outra medida adotada pela equipe é aceitar participar "de todos os debates que convidarem". Em relação à divulgação da imagem do candidato, Spiandorello afirma que a ideia é mostrar Vieira como alguém capaz de resgatar o orgulho dos gaúchos e revelar aspectos mais pessoais à sombra da trajetória pública.
— A estratégia é dar voz para a convicção de que o nosso Rio Grande pode mais. Ao mesmo tempo, mostrar para os gaúchos quem é o Vieira. Não apenas suas realizações, que são muitas e relevantes, nem apenas sua trajetória pública de mais de 40 anos. Mas mostrar também a pessoa por trás do homem público — sustenta Spiandorello.
Veja quem comanda as campanhas e a estratégia dos principais candidatos
Edegar Pretto (PT)
- Coordenador político: Mari Perusso
- Coordenadores do marketing: Otávio Antunes e Halley Arrais
- Estratégia: resgatar legados de governo do PT no plano nacional e estadual, bem como alinhamento nacional com campanha de Lula
Eduardo Leite (PSDB)
- Coordenador de campanha: Caio Tomazeli
- Coordenador do marketing: Fábio Bernardi
- Estratégia: exibir realizações do governo, de ajuste nas contas a pacote de obras, e se apresentar como caminho seguro ante polarização
Luis Carlos Heinze (PP)
- Coordenador de campanha: José Carlos Breda
- Coordenador do marketing: Alexandre Teixeira
- Estratégia: ampliar defesa histórica do agronegócio, com plataforma de investimentos em infraestrutura e educação
Onyx Lorenzoni (PL)
- Coordenador de campanha: Onyx Lorenzoni
- Coordenador do marketing: não tem
- Estratégia: defender incentivo ao empreendedorismo com crítica à renúncia de Eduardo Leite e alinhamento com campanha de Bolsonaro
Vieira da Cunha (PDT)
- Coordenador da campanha: Caco Coelho
- Coordenador do marketing: Francisco Spiandorello
- Estratégia principal: priorizar políticas de saúde e educação, resgatando bandeiras histórias do PDT
Ricardo Jobim (Novo)
- Coordenador da campanha: Frederico Cosentino
- Coordenadora do marketing: Eliana Camejo
- Estratégia principal: a intenção é apresentar Jobim como a principal novidade entre as candidaturas a governador por não ter feito parte direta ou indiretamente de gestões anteriores e ser representante de um modelo verdadeiramente liberal de administração pública. A campanha também deve destacar experiências recentes de governos do partido Novo, como em Minas Gerais e na cidade de Joinville (SC), e nomes mais conhecidos vinculados à sigla como Marcel Van Hattem, Fabio Ostermann, entre outros
Roberto Argenta (PSC)
- Coordenador da campanha: Zeca Honorato
- Coordenadores do marketing: Caio Flávio e Kevin Krieger
- Estratégia principal: defender que o candidato sabe o que precisa ser feito para gerar mais empregos, sublinhando o fato de Argenta já ser um dos principais empregadores do Estado à frente de sua empresa, a Calçados Beira-Rio. Outros dois temas completam os pilares de sua candidatura: a valorização da educação e o estímulo ao desenvolvimento na Metade Sul — com foco em reverter a perda de jovens e talentos para outros locais do país em razão de dificuldades econômicas
Vicente Bogo (PSB)
- Coordenador da campanha: Renato Steckert de Oliveira
- Coordenador do marketing: segundo o comando da campanha, a atividade é compartilhada por "profissionais do mercado com experiência em marketing político", sem um nome de referência
- Estratégia principal: mostrar-se como alternativa ao ambiente de polarização política que marca o Estado e o país, ressaltando a necessidade de ampliar o diálogo com toda a sociedade civil para, a partir disso, retomar crescimento econômico, melhorias educacionais e políticas públicas. A campanha também deve investir em temas como a manutenção do Banrisul como banco público e a revisão do acordo de recuperação fiscal firmado com a União.