Na ofensiva para tentar costurar o apoio do MDB gaúcho à pré-candidatura do ex-governador Eduardo Leite (PSDB) ao Palácio Piratini, o presidente nacional emedebista, Baleia Rossi, desembarcou em Porto Alegre nesta quarta-feira (13) e emendou uma série de reuniões com lideranças regionais. Após cerca de duas horas de debate com a executiva estadual, foi aprovado um indicativo de discussão partidária pela unidade do centro democrático, o que significaria um apoio a Leite.
— Tivemos um movimento muito importante. A executiva estadual acabou de aprovar um indicativo de debate, reconhecendo a importância da construção do centro democrático no Rio Grande do Sul, assim como fizemos no Brasil — anunciou Baleia.
A aprovação desse indicativo, conforme Baleia, ocorreu de forma quase unânime: a única exceção foi o deputado federal Osmar Terra, aliado do bolsonarismo. A assessoria da deputada estadual Patrícia Alba informou que ela também votou contra.
A partir de agora, abre-se uma corrida até o dia 31 de julho, data da convenção estadual do MDB, quando o rumo da sigla na eleição ao governo do Rio Grande do Sul será decidido no voto dos filiados. Embora haja muita resistência em abrir mão da candidatura própria de Gabriel Souza, sobretudo entre militância, juventude e velha guarda do partido, aconteceram manifestações de apoio à composição. A avaliação é de que, hoje, indicar o vice na chapa de Leite é mais possível em comparação com semanas atrás.
Após a reunião, o presidente da Associação de Prefeitos e Vice-Prefeitos do MDB gaúcho, Gustavo Stolte, afirmou que “ampla maioria” dos chefes de executivo municipais da sigla querem a aliança com Leite.
— Gostaríamos de ter candidatura própria, mas as circunstâncias mostram que esse governo (Leite e, agora, liderado por Ranolfo Vieira Júnior) tem resultado. E o MDB contribuiu com isso, não só com votos na Assembleia, mas com o legado do governo Sartori (José Ivo, do MDB, governador que antecedeu Leite) — afirmou Stolte, prefeito de Quinze de Novembro.
Baleia chegou no final da manhã a Porto Alegre e foi direto para um almoço com lideranças emedebistas, entre elas o presidente do partido no Rio Grande do Sul, Fábio Branco.
Eles se juntaram a outros integrantes da executiva estadual e das bancadas parlamentares no início da tarde para uma reunião na sede do partido, no Centro da Capital. Pré-candidato do MDB, Gabriel participou de toda a discussão.
Alguns integrantes das bancadas estadual e federal abandonaram a posição de aparente neutralidade no processo.
— Temos de dialogar sobre o que queremos para o Estado. Tenho posição favorável à composição com o centro: PSDB, PSD, UB e também o PTB. Seria importante o MDB ter candidatura própria. Mas qual a chance de vitória? Muito difícil — afirmou o deputado estadual Juvir Costella (MDB), que foi secretário dos Transportes do governo Leite.
O relato nos bastidores é de que, embora prossigam fortes as resistências, a hipótese de indicar o vice na chapa de Leite tem conquistado gradativa força.
— Pela necessidade da decisão, as pessoas começam a definir. Quando se está longe da decisão, sempre prevalece aquilo que o MDB representa (em referência à candidatura própria). Quando começa a chegar, e estamos muito próximos da definição, as coisas começam a ser mais racionais — disse Branco, a respeito da possível ampliação de abertura ao acordo com o PSDB.
Ao mesmo tempo, articuladores políticos próximos de Gabriel comentam nos bastidores sobre uma hipotética intervenção nacional do MDB no diretório estadual para forçar a aliança com Leite. Uma medida como essa seria histórica no tradicional MDB gaúcho e, mesmo que aventada reservadamente, é considerada de difícil e traumática execução.
Baleia foi enfático ao negar qualquer iniciativa do gênero e assegurou que irá respeitar o resultado da convenção do MDB gaúcho, mesmo que ela seja pela manutenção da candidatura própria.
— Em nenhum momento há qualquer tipo de intervenção ou faca no pescoço. Não é do DNA do MDB qualquer tipo de imposição. A minha visita aqui é missão de paz — afirmou Baleia.
Há semanas, o diagnóstico interno de alas emedebistas é de que Gabriel teria simpatia pela opção de ser vice de Leite, mas o empecilho é vencer a ruidosa oposição da juventude, da militância e da velha guarda do MDB gaúcho, setores que fincam pé na tese da candidatura própria.
A ofensiva em caráter pessoal ocorre dois dias após o MDB nacional ter enviado um ofício à direção estadual para “recomendar” o apoio ao PSDB. Baleia tem insistido que o MDB gaúcho precisa se alinhar à estratégia nacional de aliança com o PSDB e o Cidadania, o chamado “centro democrático” que sustenta a candidatura presidencial da senadora Simone Tebet (MDB). O apoio do MDB a Leite no Estado é uma contrapartida desejada pelos tucanos, já que o PSDB abriu mão da candidatura presidencial, pela primeira vez na sua história, para apoiar Simone. A argumentação é centrada na necessidade de construir candidaturas de centro, sem dispersar forças, e que representem alternativa ao lulismo e ao bolsonarismo.
Na longa jornada que se tornou a definição de rumo do MDB gaúcho, a pré-candidatura de Gabriel havia sido reafirmada em reunião da executiva regional no dia 8 de julho. Agora, a aproximação com Leite volta a ganhar espaço.
O vereador Cezar Schirmer (MDB), ícone da velha guarda e um dos mais ferrenhos críticos à aproximação com o PSDB, se posicionou em duríssima carta pública em que cita aleatoriamente “lideranças frágeis, negociações escusas, traições, mentiras, cargos, fundos eleitorais, má-fé”, entre outros adjetivos.
“Não consigo entender. Há cinco dias, a direção estadual decidiu, por unanimidade, indicar candidatura própria ao governo do Estado. O que mudou para, cinco dias depois, receber com festa e banda de música o presidente do MDB nacional, que é contra a nossa posição? Agora vão dizer que não temos dinheiro, coligações, tempo. Ignoram que já ganhamos eleições sem dinheiro, sem coligação, sem tempo, mas com ideias, mobilização e força”, escreveu Schirmer.
Ele ainda disse que a reunião desta quarta-feira foi o começo da redação do “último capítulo desta triste novela”.
Além de Schirmer, também resistem nomes importantes como o ex-senador Pedro Simon, o ex-governador José Ivo Sartori e o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo.
Na sequência da reunião com a executiva estadual, Baleia ainda emendou reuniões na sede partidária com prefeitos e vices, vereadores, juventude e núcleo de mulheres. Ele retorna ainda nesta quarta-feira para São Paulo, sua base eleitoral.