O presidente da Associação Nacional de Procuradores da República (ANPR) considera que a conduta e as recentes declarações do presidente Jair Bolsonaro colocam em risco "todo o processo eleitoral" do país. Na segunda-feira (18), o chefe do Executivo reuniu embaixadores, no Palácio da Alvorada, e voltou a repetir a tese de supostas fraudes no sistema de votação.
Em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, nesta quarta-feira (20), Ubiratan Cazetta afirmou que os fatos ocorridos na reunião são "muito preocupantes". Segundo ele, Bolsonaro fez críticas "sem base" às urnas eletrônicas, utilizando-se da estrutura do cargo que ocupa.
Cazetta diz que o tema foi levado à Procuradoria-Geral da República (PGR), com um pedido para que o caso seja investigado. De acordo com ele, existem indícios de abuso de autoridade e de infrações eleitorais por parte do presidente.
— Você coloca em dúvida o funcionamento de urnas eletrônicas que estão sendo utilizadas no Brasil desde 1996, em relação às quais nunca houve nenhuma comprovação de falha. E essa colocação tem impacto muito grande no eleitorado, porque você pode criar um ambiente de dúvida — disse.
— Que o presidente lance essas afirmações sem base já é muito grave e precisa ser objeto de investigação e reação imediata. Mas o mais importante é que os partidos políticos assumam o papel de fiadores do processo democrático — acrescentou.
Cazetta afirmou ainda não ver a possibilidade de ser realizada uma "apuração paralela" nas próximas eleições. Para ele, "não se mexe nas regras do jogo durante o jogo", e qualquer alteração no processo deveria ter ocorrido até outubro do ano passado — um ano antes do pleito.