A três dias da abertura das urnas, o último debate do primeiro turno mostrou dois dos líderes das pesquisas, Manuela D'Ávila (PCdoB) e Nelson Marchezan (PSDB), como principais alvos dos demais adversários. Mesmo ausente em razão da renúncia formalizada na quarta-feira, José Fortunati (PTB) também foi citado diversas vezes nas duas horas de enfrentamentos mútuos na Rádio Gaúcha.
Mediado pelo jornalista Daniel Scola e mais uma vez realizado no formato drive-in, direto do estacionamento do Grupo RBS, o encontro reuniu, além de Manuela e Marchezan, Fernanda Melchionna (PSOL), Gustavo Paim (PP), João Derly (Republicanos), Juliana Brizola (PDT), Rodrigo Maroni (Pros), Sebastião Melo (MDB) e Valter Nagelstein (PSD). Com respaldo na legislação eleitoral, não foram convidados os concorrentes de partidos sem representação na Câmara: Júlio Flores (PSTU), Luiz Delvair (PCO) e Montserrat Martins (PV).
Logo no primeiro bloco, Paim mirou em Manuela, citando a ausência de referência ao PCdoB, às cores e ao símbolo do partido na campanha da rival.
— Afinal, tu é ou tu não é comunista? — indagou.
— Eu escolhi um partido que luta por justiça social. O teu carro está estacionado aqui na minha frente e estou vendo tua propaganda, é nas cores amarela e preta, mas as cores do teu partido são vermelho e azul. Numa campanha a gente escolhe uma identidade visual — justificou.
Na sequência, Nagelstein escolheu Marchezan. Com críticas à suspensão da atividade econômica durante o pico da pandemia e citando o número de empregos perdidos, o vereador questionou o prefeito se, numa eventual segunda onda de contaminações, “vai fechar a cidade novamente”.
— Porto Alegre salvou mais vidas do que o resto do mundo e vai se recuperar também mais rápido que o resto do mundo — respondeu o tucano.
— Marchezan fechou mais empresas do que o resto do mundo e não respondeu a minha pergunta — rebateu Nagelstein.
Empatado tecnicamente com Marchezan na segunda posição da pesquisa Ibope, Melo também não escapou incólume às provocações. Mais cedo, Melchionna havia questionado se o emedebista não se sentia constrangido por ter partido de um integrante de sua coligação o recursos judicial que acabou tirando Fortunati da disputa.
— A tua afirmação é irresponsável. Fui um vice leal a Fortunati, e a nossa coordenação de campanha não participou de nenhum movimento para impugnar a candidatura dele, que inclusive gravou um vídeo nos apoiando — reagiu Melo, afônico pelo desgaste do fim de campanha.
Fortunati também foi afagado por Manuela. Numa dobradinha mantida com Melchionna sobre vacina e ações pós-pandemia, ela lembrou a preocupação do ex-prefeito com o tema. Na sequência, ao usar um dos dois direitos de resposta que obteve por ataques de Maroni, ela citou a solidariedade prestada por Fortunati em debates anteriores.
Antes do embate de ideias, os candidatos precisaram mostrar que são bons de baliza ao estacionar. Paim, Melo e Maroni chegaram dirigindo os próprios veículos e precisaram exibir habilidade ao volante nas manobras em espaço exíguo. Penúltimo a chegar, de carona com o publicitário Fábio Bernardi, Marchezan foi quem mais demorou a ocupar seu lugar.
— Ainda bem que ele dirige melhor a comunicação do que o próprio carro — brincou Manuela, estacionada na vaga ao lado do prefeito.
No segundo bloco, destinado a questionamentos dos ouvintes, os participantes responderam sobre problemas crônicos da cidade, como flanelinhas, desemprego, alagamentos e comércio informal no Centro, entre outros temas. Durante 20 minutos, foi um dos raros momentos em que apresentaram propostas.
Munidos de pastas e anotações com dados sobre a cidade, os candidatos voltaram ao enfrentamento no terceiro bloco. Na primeira pergunta, Derly citou Manuela e Marchezan para perguntar a Melo como ele vê a possibilidade de Porto Alegre voltar a ser governada “pela extrema-esquerda ou um prefeito monocrático”. Melo pregou o diálogo e elencou nomes de políticos de outros partidos que o apoiam.
Ambos voltariam a ser criticados por Melchionna, Paim e Nagelstein por questões de saúde, segurança e as obras da orla. Quase ao final, Marchezan e Manuela duelaram pela primeira vez, debatendo sobre a gestão dos postos de saúde da Capital. Marchezan perguntou se a rival voltaria a estatizar o setor, e Manuela atacou a extinção do Instituto Municipal da Estratégia da Saúde da Família (Imesf), levada a cabo pelo tucano.
O debate foi chegando ao fim e, na rua, não havia o tradicional barulho da militância reunida, com bandeiraços e comemorações. Em tempos de pandemia e às vésperas da eleição, a celebração da democracia ocorreu na proteção de cada lar.