A polêmica que cercou a restrição das atividades produtivas em Porto Alegre deixou uma marca profunda, algum trauma, mas também percepções equivocadas. No debate da Rádio Gaúcha realizado na noite desta quinta-feira (13), candidatos se comprometeram em "abrir tudo" – caso de Sebastião Mello (MDB) – ou "não fechar nenhum estabelecimento", como Valter Nagelstein (PSD).
Como se observa com tristeza na Europa e nos Estados Unidos, não são promessas factíveis se a segunda onda não for evitada pela chegada da vacina do Brasil. Restrições não resultam de maldade ou ideologia. São os únicos recursos para evitar mal maior.
Parte da rejeição foi decorrência da forma pouco previsível com que a prefeitura de Porto Alegre lidou com o "abre e fecha". Decretos na madrugada e vários dias de suspense não ajudaram. Se tudo der muito certo e as vacinas estiverem disponíveis até o início de 2021, não será um tema para o próximo prefeito. Até agora, infelizmente, ainda não há garantias.
Se ainda falta maturidade na questão das restrições às atividades econômicas, é positivo constatar que a maioria dos candidatos aprendeu a não fazer promessas mirabolantes, sem fonte de recursos para bancar. Ao menos, fazem isso no debate, momento em que podem ser confrontados. Conforme a colega Rosane de Oliveira, deixam o "concurso de promessas" para o horário eleitoral, quando falam sozinhos. Ainda há muita imprecisão sobre como bancar programas fundamentais, como apoio social, microcrédito, acesso a saneamento básico, mas é um avanço.
Até as candidatas assumidamente de esquerda, Manuela D'Ávila (PCdoB) e Fernanda Melchionna (PSol), foram contidas ao falar em gasto público, buscando apresentar fontes de receita para seus planos. Manuela, segundo as pesquisas mais próxima do segundo turno, respondeu com as palavras "estável", "responsável" e "eficiente" a insinuações de que é uma potencial criadora de déficit. Todos estão mais conscientes de que dinheiro não nasce em árvore.
É bom lembrar que, embora não sobre dinheiro na prefeitura de Porto Alegre, a administração municipal é o nível de gestão pública com situação "menos ruim". A União caminha para uma dívida igual ao tamanho da riqueza que produz a cada no país, de 100% do PIB. O Estado tem uma pendência insolúvel, que não para de crescer. É preciso cuidado para não piorar.
Para poupar dinheiro público, tempo e paciência do eleitor, potenciais interessados deveriam ser sabatinados antes de ter candidatura aprovada, para aferir nível mínimo de intimidade com a gestão que pretendem assumir. Pouparia a todos constrangimento e indignação.
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