Nos últimos dias, os eleitores de Porto Alegre e da maioria dos municípios do Rio Grande do Sul foram apresentados a cidades que poderiam ser chamadas de réplicas do paraíso. Nessas cidades da propaganda eleitoral, que se materializam a partir de 2021, as restrições orçamentárias não existem, os serviços funcionam como na Dinamarca, a educação tem nível de Finlândia, o transporte coletivo é de padrão londrino, as filas nos postos de saúde desaparecem num passe de mágica, o empreendedorismo floresce e, mesmo que venha uma segunda onda de coronavírus, nada precisará ser fechado.
Nesse mundo perfeito, alguns candidatos à prefeitura de Porto Alegre acenam com a suspensão do aumento do IPTU, como se a administração municipal estivesse em condições de abrir mão de receita. Não é diferente nas principais cidades do interior. Alguma dúvida de que, chegando ao poder, o vencedor dirá que a situação das contas era pior do que imaginava?
Como a propaganda é a alma do negócio, foram poucos os candidatos a usar de sinceridade para falar do que é possível e do que não é com os recursos que a prefeitura arrecada. Não há lei que obrigue os candidatos a fazer promessas factíveis, nem punição para quem descumpre o que era compromisso. A lei exige apenas que os candidatos registrem um plano de governo na Justiça Eleitoral, mas o papel — ou a nuvem — aceita tudo.
Ao longo da campanha eleitoral em Porto Alegre, a palavra que mais se ouviu foi diálogo. Com diálogo se resolve os problemas da saúde, da educação, do transporte coletivo, da falta de moradia, dos moradores de rua, dos aplicativos, dos serviços em geral. Não que diálogo não seja importante. É um dos pilares da democracia, mas não pode ser tratado como panaceia.
Quem se eleger terá de tomar decisões e, por mais que se dialogue, alguém vai sair descontente. Tome-se o caso do enfrentamento à covid-19. Praticamente todos os candidatos criticam as medidas adotadas em Porto Alegre pelo prefeito Nelson Marchezan, que errou e acertou, como a maioria dos gestores públicos. Na propaganda, os adversários só dizem que não vão fechar a cidade. Se viver a vacina, não precisarão mesmo, mas se houver uma segunda onda — ou se esta primeira recrudescer, porque ainda não passou — o que farão? Isso não ficou claro na propaganda, até porque não convém.
Outro caso de problema respondido com evasivas é o da solução para o transporte coletivo, que está à beira do colapso. Um promete ampliar as linhas de ônibus, outro diz que vai lutar por subsídio federal e redução de imposto sobre os insumos que encarecem a passagem. Todos rejeitam as propostas apresentadas na atual gestão— que são polêmicas mesmo — mas não apresentam alternativa concreta.
Quando se questiona sobre a origem do dinheiro, a resposta é simplista: corte de cargos em comissão (que representam uma ínfima parte da folha de salários), redução dos gastos com propaganda (que têm peso mínimo no orçamento), aumento da arrecadação (como se o crescimento da economia dependesse apenas da vontade).
Aliás
Alguns candidatos não se deram conta de que a eleição é para prefeito de Porto Alegre e não um campeonato ideológico nem uma competição para escolher quem odeia com maior intensidade ou tem mais competência para destruir os adversários.
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