Às vésperas das eleições municipais, partidos de centro e direita lideram a disputa pelas prefeituras das capitais no Brasil, indicam pesquisas feitas por Ibope e Datafolha. O balanço considera números de intenção de voto divulgados até a tarde de sexta-feira (13). Neste final de semana, novas pesquisas serão publicadas em parte das metrópoles, inclusive em Porto Alegre.
Para cientistas políticos, o domínio de candidatos experientes deve ser outro traço das eleições de 2020. Se confirmada, a tendência colocará freio na onda de novatos na administração pública, os chamados outsiders, que ganharam fôlego nas últimas disputas municipais e estaduais — ocorridas em 2016 e 2018.
— Há uma questão diferente na comparação com as eleições anteriores. O discurso de renovação não pegou até o momento. Segundo as pesquisas, a população tende a reeleger candidatos ou levar nomes conhecidos de volta ao poder — analisa o cientista político Marco Antonio Teixeira, professor da FGV EAESP.
Até agora, o MDB é o partido com maior destaque na corrida das capitais. Seis integrantes da sigla lideram numericamente ou estão empatados tecnicamente na disputa do primeiro turno. Depois, aparecem o PSDB e o DEM — cada um com cinco nomes.
— As eleições são marcadas pela pauta de cada cidade. É isso que mobiliza eleitores e candidatos. Ao ver partidos com mais nomes na liderança, é possível constatar que têm mais estrutura nos municípios analisados — aponta o cientista político Paulo Baía, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
O especialista concorda com a leitura de que a corrida nas capitais tende a reforçar o poder de nomes já conhecidos da população. Em São Paulo, principal metrópole brasileira, o atual prefeito, Bruno Covas (PSDB), ampliou a liderança das pesquisas. No Rio de Janeiro, Eduardo Paes (DEM), que já comandou o município, aparece no topo.
— Vemos candidatos conhecidos e, mais do que isso, com histórico em suas cidades — pontua Baía.
Vemos candidatos conhecidos e, mais do que isso, com histórico em suas cidades
PAULO BAÍA
Professor da UFRj
Na esquerda, o PSB surge com o maior número de candidatos a prefeito no pelotão de frente. São três integrantes da sigla liderando a corrida ou tecnicamente empatados em Maceió, Recife e Rio Branco.
O PT, tradicional partido da esquerda, tem dois nomes nessa situação, em Vitória e Fortaleza.
Apoio de líderes nacionais sem efeito positivo
Candidatos que receberam apoio do presidente Jair Bolsonaro não conseguiram decolar em pesquisas nas capitais. É o caso, por exemplo, do deputado federal Celso Russomanno (Republicanos), que concorre a prefeito de São Paulo.
Ao longo da campanha, o aliado do presidente caiu nos levantamentos, vendo Bruno Covas (PSDB), atual prefeito da capital paulista, abrir vantagem na liderança. Pesquisa do Datafolha do último dia 11 sinaliza que Russomanno disputa a ida ao segundo turno com Guilherme Boulos (PSOL).
Em São Paulo, Bolsonaro coleciona troca de farpas com o governador João Doria (PSDB). Em 2016, Doria foi eleito para a prefeitura local. Quinze meses depois, em 2018, deixou a administração para concorrer ao governo estadual. Quem assumiu a prefeitura foi Covas, até então vice de Doria.
Líderes nacionais têm pouca capacidade de influenciar o cenário
MARCO ANTONIO TEIXEIRA
Professor da FGV EAESP
— Os líderes nacionais têm pouca capacidade de influenciar o cenário. Russomano derreteu com o apoio de Bolsonaro. O ex-presidente Lula também não conseguiu ajudar o candidato do PT em São Paulo (Jilmar Tatto) — observa o cientista político Marco Antonio Teixeira, professor da FGV EAESP.
Bolsonaro ainda encontra riscos no Rio de Janeiro. Por lá, o presidente demonstrou apoio a Marcelo Crivella (Republicanos). O atual prefeito aparece atrás de Eduardo Paes (DEM) nas pesquisas de intenção de voto.
— A questão nacional não impacta tanto nas eleições municipais. O que pesa é o dia a dia da cidade. O papel de lideranças como Bolsonaro, Lula ou Ciro Gomes não é tão importante. É uma situação diferente das eleições estaduais, que são casadas com as presidenciais — diz o cientista político Paulo Baía, professor da UFRJ.
Na Região Sul, Porto Alegre é uma exceção
Porto Alegre representa uma espécie de ponto fora da curva nas capitais do Sul. Até agora, a metrópole gaúcha é a única da região em que um partido de esquerda lidera as pesquisas. Candidata do PCdoB, Manuela D'Ávila apareceu à frente nas intenções de voto às vésperas do primeiro turno.
Pesquisa do Ibope divulgada em 29 de outubro coloca Nelson Marchezan (PSDB), atual prefeito, e Sebastião Melo (MDB), ex-vice prefeito, na briga pelo segundo lugar. Novo levantamento será divulgado neste final de semana.
Em Florianópolis e Curitiba, a corrida eleitoral é liderada pelos atuais prefeitos. Ambos são integrantes do DEM.
Na capital catarinense, Gean Loureiro (DEM) tem se consolidado nas pesquisas, com possibilidade de vitória no primeiro turno. Em Curitiba, Rafael Greca (DEM) vive situação semelhante. Assim como Porto Alegre, Florianópolis e Curitiba terão novas pesquisas de intenção de voto no final de semana.
Atual prefeito em BH no rumo da reeleição
Em busca da reeleição em Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD) chama atenção pelo desempenho em pesquisas divulgadas ao longo do primeiro turno. Na última quarta-feira, levantamento do Datafolha colocou o ex-presidente do Atlético-MG com 63% das intenções de voto. Assim, o atual prefeito caminha para a vitória nas urnas já no domingo.
Em 2016, quando ganhou a disputa municipal, Kalil era visto como um outsider. Ou seja, um novato à época na política. Em 2020, o combate ao coronavírus acabou aumentando o prestígio de diferentes gestores no país, incluindo o de Belo Horizonte, avalia o cientista político Marco Antonio Teixeira, professor da FGV EAESP.
Recente pesquisa do Datafolha ilustra essa questão. As ações de Kalil durante a pandemia foram aprovadas por 70% dos entrevistados pelo levantamento.
Tradicionais
Em Recife, a corrida eleitoral é marcada por sobrenomes tradicionais da política pernambucana. Na campanha, o deputado federal João Campos (PSB) tem permanecido no topo das pesquisas.
Filho do ex-governador Eduardo Campos (que morreu em acidente aéreo em 2014) e bisneto do ex-governador Miguel Arraes, João Campos vê Marília Arraes (PT) no segundo lugar, tecnicamente empatada com Mendonça Filho (DEM). João e Marília são primos. Também deputada federal, a petista é neta de Arraes.
Mendonça Filho foi ministro da Educação no governo Michel Temer.
Pleito adiado
O apagão que atingiu Macapá teve reflexos nas eleições. Em razão da crise no fornecimento de energia elétrica, o primeiro turno da disputa municipal não ocorrerá no domingo. O processo eleitoral na capital do Amapá foi adiado na última quarta-feira pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a pedido da Justiça Eleitoral do Estado.
A nova data do pleito ainda não foi definida. Enquanto isso, a disputa segue acirrada. Conforme pesquisa do Ibope divulgada na quarta-feira, três candidatos estão empatados tecnicamente na liderança: Josiel (DEM), Patrícia Ferraz (Podemos) e Dr. Furlan (Cidadania).
Larga vantagem
Salvador é uma das capitais em que analistas veem grande chance de a disputa ser resolvida no primeiro turno. Ao longo da campanha, Bruno Reis (DEM) liderou pesquisas com larga vantagem. Se eleito, Reis dará continuidade à gestão do colega de partido Antônio Carlos Magalhães Neto, o ACM Neto.
Empate em Boa Vista
Em Roraima, a corrida pela prefeitura de Boa Vista está rigorosamente empatada, aponta pesquisa do Ibope divulgada na última terça-feira. Ottaci (Solidariedade) e Arthur Henrique (MDB) têm 28% das intenções de voto. Nos últimos anos, Boa Vista tem sido um refúgio de migrantes venezuelanos.
Os cenários nas capitais nos retratos apontados pelas pesquisas de intenção de voto
SUL
PORTO ALEGRE (RS)
- Manuela d'Ávila (PCdoB): 27%
- Nelson Marchezan Júnior (PSDB)*: 14%
- Sebastião Melo (MDB): 14%
Divulgação: Ibope, 29/10
Margem de erro: 3 pontos percentuais
FLORIANÓPOLIS (SC)
- Gean Loureiro (DEM)*: 58%
- Professor Elson (PSOL): 13%
- Angela Amin (PP): 9%
Divulgação: Ibope, 2/11
Margem de erro: 4 pontos percentuais
CURITIBA (PR)
- Rafael Greca (DEM)*: 46%
- Fernando Francischini (PSL): 8%
- Goura (PDT): 8%
Divulgação: Ibope, 22/10
Margem de erro: 3 pontos percentuais
SUDESTE
SÃO PAULO (SP)
- Bruno Covas (PSDB)*: 32%
- Guilherme Boulos (PSOL): 16%
- Celso Russomanno (Republicanos): 14%
Divulgação: Datafolha, 11/11
Margem de erro: 3 pontos percentuais
RIO DE JANEIRO (RJ)
- Eduardo Paes (DEM): 34%
- Marcelo Crivella (Republicanos)*: 14%
- Martha Rocha (PDT): 11%
Divulgação: Datafolha, 11/11
Margem de erro: 3 pontos percentuais
BELO HORIZONTE (BH)
- Alexandre Kalil (PSD)*: 63%
- João Vitor Xavier (Cidadania): 8%
Divulgação: Datafolha, 11/11
Margem de erro: 3 pontos percentuais
VITÓRIA (ES)
- João Coser (PT): 26%
- Fabrício Gandini (Cidadania): 24%
- Delegado Pazolini (Republicanos): 18%
Divulgação: Ibope, 3/11
Margem de erro: 4 pontos percentuais
CENTRO-OESTE
GOIÂNIA (GO)
- Maguito Vilela (MDB): 33%
- Vanderlan Cardoso (PSD): 26%
Divulgação: Ibope, 5/11
Margem de erro: 4 pontos percentuais
CUIABÁ (MT)
- Abílio Brunini (Podemos): 27%
- Emanuel Pinheiro (MDB)*: 26%
Divulgação: Ibope, 12/11
Margem de erro: 4 pontos percentuais
CAMPO GRANDE (MS)
- Marquinhos Trad (PSD)*: 48%
- Promotor Harfouche (Avante): 10%
Divulgação: Ibope, 11/11
Margem de erro: 4 pontos percentuais
NORDESTE
MACEIÓ (AL)
- Alfredo Gaspar de Mendonça (MDB): 26%
- JHC (PSB): 22%
- Davi Davino Filho (PP): 19%
Divulgação: Ibope, 11/11
Margem de erro: 4 pontos percentuais
SALVADOR (BA)
- Bruno Reis (DEM): 61%
- Major Denice (PT): 13%
Divulgação: Ibope, 30/10
Margem de erro: 4 pontos percentuais
FORTALEZA (CE)
- Sarto (PDT): 29%
- Capitão Wagner (PROS): 27%
- Luizianne Lins (PT): 24%
Divulgação: Ibope, 3 de novembro
Margem de erro: 3 pontos percentuais
SÃO LUÍS (MA)
- Eduardo Braide (Podemos): 36%
- Duarte Júnior (Republicanos): 22%
- Neto Evangelista (DEM): 16%
Divulgação: Ibope, 6/11
Margem de erro: 3 pontos percentuais
JOÃO PESSOA (PB)
- Cicero Lucena (PP): 21%
- Nilvan Ferreira (MDB): 15%
Divulgação: Ibope, 22/10
Margem de erro: 4 pontos percentuais
RECIFE (PE)
- João Campos (PSB): 29%
- Marília Arraes (PT): 22%
- Mendonça Filho (DEM): 18%
Divulgação: Datafolha, 11/11
Margem de erro: 3 pontos percentuais
TERESINA (PI)
- Dr. Pessoa (MDB): 37%
- Kleber Montezuma (PSDB): 22%
Divulgação: Ibope, 30/10
Margem de erro: 4 pontos percentuais
NATAL (RN)
- Álvaro Dias (PSDB)*: 44%
- Kelps (Solidariedade): 7%
- Delegado Leocádio (PSL): 7%
Divulgação: Ibope, 26/10
Margem de erro: 4 pontos percentuais
ARACAJU (SE)
- Edvaldo Nogueira (PDT)*: 36%
- Delegada Danielle (Cidadania): 21%
Divulgação: Ibope, 12/11
Margem de erro: 4 pontos percentuais
NORTE
PALMAS (TO)
- Cinthia Ribeiro (PSDB)*: 28%
- Professor Júnior Geo (PROS): 12%
Divulgação: Ibope, 22/10
Margem de erro: 4 pontos percentuais
RIO BRANCO (AC)
- Tião Bocalom (PP): 28%
- Minoru Kinpara (PSDB): 22%
- Socorro Neri (PSB)*: 22%
Divulgação: Ibope, 10/11
Margem de erro: 4 pontos percentuais
MACAPÁ (AP)
- Josiel (DEM): 22%
- Patrícia Ferraz (Podemos): 15%
- Dr. Furlan (Cidadania): 15%
Divulgação: Ibope, 11/11
Margem de erro: 4 pontos percentuais
MANAUS (AM)
- Amazonino Mendes (Podemos): 24%
- David Almeida (Avante): 18%
- Ricardo Nicolau (PSD): 14%
Divulgação: Ibope, 11/11
Margem de erro: 4 pontos percentuais
BELÉM (PA)
- Edmilson Rodrigues (PSOL): 38%
- Priante (MDB): 15%
Divulgação: Ibope, 24/10
Margem de erro: 4 pontos percentuais
PORTO VELHO (RO)
- Hildon Chaves (PSDB)*: 32%
- Vinícius Miguel (Cidadania): 13%
- Cristiane Lopes (PP): 12%
Divulgação: Ibope, 11/11
Margem de erro: 4 pontos percentuais
BOA VISTA (RR)
- Arthur Henrique (MDB): 28%
- Ottaci (Solidariedade): 28%
Divulgação: Ibope, 10/11
Margem de erro: 4 pontos percentuais
*Candidatos que buscam a reeleição
**Pesquisas mais recentes disponíveis até a tarde de sexta-feira