A paixão de Sebastião de Araújo Melo pela cidade de Porto Alegre encontra razão de ser no finalzinho da década de 1970, quando ele, ainda jovem, deixou o interior de Goiás com um sonho genuíno:
— Eu tinha uma expectativa, que era vencer na vida.
O ano era 1978. Com 20 anos, ele desembarcou na capital gaúcha a fim de construir uma vida nova, com mais oportunidades do que aquelas que disporia se continuasse no centro-oeste brasileiro. Nascido em uma família de origem humilde, no município de Piracanjuba, havia trabalhado desde cedo com o pai na roça, ajudando-o no plantio e na colheita, como forma de garantir comida no prato dos demais integrantes da família. Eram seis filhos.
— Plantava milho, arroz, feijão. A gente se alimentava, e o que sobrava, um pouco, vendia para satisfazer as outras necessidades da casa — contou a GZH.
Em Porto Alegre, recém-chegado, foi trabalhar numa lanchonete e, ainda jovem, viu despertar sua paixão pela política a partir da luta pela democracia durante o regime militar.
Era o final do governo Geisel, o cenário era de ebulição, e eu me incorporei nessa luta. Daí vem minha origem na política.
SEBASTIÃO MELO
— Era o final do governo Geisel, o cenário era de ebulição, e eu me incorporei nessa luta. Daí vem minha origem na política. Eu não iniciei como CC ou em busca de cargos. Fui por convicção política — relata.
Filiado ao MDB, Sebastião Melo já foi vereador, presidente da Câmara Municipal, vice-prefeito e hoje é deputado estadual. Pela experiência no Legislativo e no Executivo, sabe dos compromissos, das rotinas pesadas e daquilo que terá de abrir mão caso seja eleito prefeito. Essa, aliás, não é a primeira vez que ele concorre ao Paço. Em 2016, enquanto vice de José Fortunati, tentou chegar ao cargo principal, mas foi vencido pelo atual prefeito, Nelson Marchezan (PSDB). Atualmente, os três são adversários na corrida eleitoral.
Família
A primeira pessoa comunicada sobre a decisão de que voltaria a concorrer neste ano foi a esposa, a publicitária Valéria Leopoldino. E a reação foi imediata, de preocupação:
— Conversamos muito. Ela é uma grande parceira, companheira. Mas tinha muita cisma sobre eu ser candidato (outra vez). Porque a campanha é pesada, na disputa política e financeiramente. E sabemos que , uma vez eleito, você se torna uma ausência permanente — explicou.
Em que pese a ponderação, a conversa seguiu. E Valéria também foi a primeira a dizer que, se aquele era o projeto escolhido, ela estaria o apoiando. Até porque o candidato revelou que uma de suas marcas pessoais é ser uma "pessoa decidida", do tipo que, quando coloca uma coisa na cabeça, vai em frente até realizá-la:
— Quem saiu do interior de Goiás e chegou até aqui só pode ser uma pessoa decidida. Eu me considero cara firme nas minhas convicções.
Rotina em casa
A convicção, contudo, se desfaz quando o assunto é a limpeza pós-almoço. A regra, estabelecida por Valéria, é que quando alguém toma café da manhã ou faz um lanche necessariamente precisa lavar o que sujou. Vale para copos, xícaras e talheres. O regulamento deve ser rigorosamente cumprido por Melo e pelo filho mais novo, João Arthur — já que moram todos juntos (há ainda o filho mais velho, Pablo, que não reside com eles). Daí a confusão estabelecida a partir da louça do almoço. Há quem se espreguice e queira deixar a limpeza e organização para depois, enquanto Valéria pondera que a tarefa seja encerrada na hora seguinte à refeição.
— O João, quando lava uma xícara, já estamos satisfeitos — conta Melo, aos risos.
E quem cozinha? Aí Melo não titubeia. Com formação até mesmo pelo curso do União Cooks, na Capital, o candidato orgulha-se de narrar sua familiaridade com as panelas, em especial na preparação de um bacalhau às natas, prato que lhe rendeu o diploma de formatura. Mas também se garante na elaboração de um cardápio mais gaudério, como com espinhaço de ovelha e aipim.
O menu musical é tipicamente gaúcho: entre os artistas preferidos, estão Lupicínio Rodrigues, "um dos cantores compositores mais extraordinários que o mundo já produziu", e Teixeirinha, que para ele "continua insuperável". Melo define Querência Amada como um hino do Estado que acompanha os gaúchos aonde forem. A pedido de GZH, o candidato topou cantar um pedacinho da primeira estrofe, para provar que é um gaúcho de alma e coração. Para conferir o desempenho, assista ao vídeo acima.