A eleição não foi a "limpeza" que a força-tarefa da Operação Lava-Jato esperava, mas não decepcionou os fãs da maior ação anticorrupção já empreendida no país. Conforme contabilidade que circula entre procuradores da República e policiais federais, 47 alvos da Lava-Jato foram expurgados pelas urnas no domingo, de um total de 87 investigados que se candidataram. Cinco ainda vão disputar segundo turno. Os outros 35 acabaram eleitos.
Entre os investigados pela operação e que perderam o emprego estão os senadores Valdir Raupp (RO), Edison Lobão (MA), Eunício Oliveira (CE) e Romero Jucá (RR), todos do MDB, e Lindbergh Farias (PT-RJ). Aspirantes ao Senado, Dilma Rousseff (PT-MG) e Beto Richa (PSDB-PR) tampouco se elegeram. A lista dos alijados pelas urnas inclui ainda Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), que concorria à reeleição no Senado, e o ex-governador Marconi Perillo (PSDB-GO), que buscava uma vaga de seandor. Antes favorito, Perillo chegou em quinto lugar.
No Rio Grande do Sul, um dos abatidos é o deputado federal Marco Maia (PT), que não conseguiu se reeleger, após 12 anos no Congresso. Ele chegou a presidir a Câmara por duas vezes e até a Presidência da República, como interino. O parlamentar foi alvo de três investigações da Lava-Jato.
Entre os que conseguiram se manter nos cargos estão os senadores Renan Calheiros (AL), Jader Barbalho (PA) e Eduardo Braga (AM), todos do MDB, e Ciro Nogueira (PP-PI). Aécio Neves (PSDB-MG) e Gleisi Hoffmann (PT-PR), ambos réus por força da Lava-Jato, se elegeram deputados federais por seus Estados. O desempenho dos dois não deixa de ser resultado de uma estratégia baseada na cautela. Temendo não conseguir manter a cadeira no Senado por causa do desgaste provocado por escândalos de corrupção, Aécio e Gleisi acertaram ao optar por uma disputa menos acirrada. Aécio conquistou 106 mil votos - no último pleito de que participou, para a Presidência da República, em 2014, arregimentou 51 milhões de votos. Gleisi fez 212 mil votos no domingo, 10% do total de votos obtidos quando se elegeu senadora, em 2010.
Na contramão dos investigados, vários policiais se elegeram com slogans de defesa da Lava-Jato.
Um dos líderes da Lava-Jato, o procurador paranaense Deltan Dallagnol comemorou o revés da maioria dos investigados em um tuite: "Houve avanços contra corrupção: ao menos 1 dezena de envolvidos graúdos na Lava Jato perderam foro privilegiado. Cerca de 1 dezena de senadores do Unidos Contra a Corrupção se elegeram. Além disso, movimentos de renovação apartidários elegeram vários candidatos (só um elegeu 16). Toda essa mudança no Congresso aconteceu num cenário em que sociedade remou contra a correnteza, pois milhões do novo fundo eleitoral bilionário foram direcionados para campanhas da velha política. Parabéns aos brasileiros!"