Alvo de busca e apreensão da Polícia Federal nesta segunda-feira, o deputado federal gaúcho Marco Maia tornou-se, em maio deste ano, o primeiro nome do PT gaúcho investigado no âmbito da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal. Pesa contra ele o mesmo que contra o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Vital do Rêgo, que também foi alvo da operação nesta segunda: suspeita de cobrança de "pedágio" das empreiteiras para protegê-las na CPI Mista da Petrobras, em 2014. Na comissão, Maia era relator e Rêgo, o presidente.
O pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) aceito pelo STF teve como base duas delações premiadas a de Júlio Camargo, ex-consultor da Toyo Setal, e do ex-senador petista Delcídio Amaral. Ambos contaram que executivos de empreiteiras investigadas na Lava-Jato teriam de repassar recursos para parlamentares para barrarem suas convocações para depoimentos.
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Camargo contou que Maia, que foi presidente da Câmara entre 2011 e 2012, solicitou R$ 500 mil a fim de livrar o consultor da convocação para depor na comissão.
Na versão de Delcídio, os empreiteiros fizeram uma "força-tarefa" para impedir seus depoimentos. O senador informou que o núcleo responsável pelo "pedágio" era integrado pelo então senador pelo PMDB e presidente da CPI, Vital do Rêgo, atualmente ministro do TCU, além do ex-senador Gim Argello (PTB-DF), que era vice-presidente da comissão, e dos deputados Fernando Francischini (SD-PR) e Marco Maia (PT-RS).
Mais tarde, a PGR pediu arquivamento da contra Francischini. No entendimento do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, Júlio Camargo afirmou que não tinha conhecimento do envolvimento do deputado na cobrança de dinheiro dos empresários, contrariando o que Delcídio havia afirmado.
Em um novo depoimento ao juiz da Sergio Moro em setembro deste ano, o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro corroborou as suspeitas da polícia. Segundo o empresário, Maia o procurou em 2014 para cobrar propina de R$ 1 milhão em troca de proteção a sua empresa na CPI que deveria investigar as irregularidades na estatal petrolífera. Léo Pinheiro disse que a OAS fez o pagamento para um empresário indicado pelo parlamentar, que atuaria em campanhas políticas.
Em 2014, foram instaladas uma CPI Mista e uma CPI no Senado. Nenhuma delas convocou empreiteiros das grandes construtoras para depor. No caso da CPI Mista, o texto final do relator Marco Maia foi aprovado em 18 de dezembro daquele ano e pedia o indiciamento de 52 pessoas. O parecer de Maia foi modificado na última hora e aprovado por 19 parlamentares e com a objeção de oito membros da oposição.
Quando o STF autorizou o processo, em maio deste ano, Maia negou as suspeitas. Por meio de nota, refutou envolvimento na Lava-Jato e reforçou que a investigação mostrará que ele é "vítima de uma mentira deslavada e descabida". O parlamentar repetiu argumentos apresentados quando houve o pedido de abertura do inquérito, em abril. Ele rebate as acusações e lembra que defendeu o indiciamento e investigação dos envolvidos nos desvios da Petrobras.
Apartamento em Miami
Em novembro do ano passado, o nome de Maia esteve envolvido em outra polêmica. Segundo a revista Veja, o deputado é dono de um apartamento em Miami avaliado em US$ 671 mil (R$ 2,5 milhões). O imóvel estaria em nome de uma empresa aberta por Alexandre Romano, ex-vereador petista de Americana (SP), o Chambinho.
Em agosto de 2015, o ex-vereador foi preso pela Lava-Jato por suspeitas de cuidar da distribuição de propina dentro do Ministério do Planejamento, onde a empresa de informática Consist estaria envolvida. Em troca da assinatura de um contrato milionário, a empresa repassava, segundo a acusação, parte do valor recebido para o PT.
A reportagem revelou que a escritura do apartamento estava entre o material reunido pelos policiais e que Marco Maia passou férias no imóvel. O petista afirmou à Veja que, a convite de Chambinho, se hospedou no apartamento por 10 dias, mas "uma única vez".
Porém, em delação premiada, o ex-vereador disse que o verdadeiro dono do imóvel é Maia. O apartamento tem 164 metros quadrados, fica na South Tower at The Point e conta com três quartos e dois banheiros. O prédio faz parte de um condomínio de cinco edifícios situado a poucos metros da praia e proporciona o uso de uma marina e de um spa.
Em nota divulgada na época, Maia disse que "sua conduta sempre foi ilibada, inexistindo qualquer vínculo com atividade ilegal. Ademais, seu patrimônio está devidamente declarado e tem origem estritamente lícita. O deputado buscará ter acesso a informações oficiais para contestar eventuais e indevidas citações a sua pessoa".