A parcela de jovens concorrendo nas eleições deste domingo é a menor desde 2010. Tanto no país quanto no Estado, o grupo com até 34 anos é quase cinco vezes menor do que o número de candidatos acima de 45 anos. Para especialistas, a redução dos jovens ocorre após os escândalos levantados pela Lava-Jato relacionados a grandes legendas. Agora, os mais novos preferem se manifestar fora das estruturas partidárias.
Em 2010, nomes com até 34 anos representavam 13,41% de todos os candidatos brasileiros e 14,6% dos gaúchos. Em 2014, a parcela subiu levemente para 14,56% no Brasil e 15,67% no Rio Grande do Sul – segundo especialistas, devido ao entusiasmo decorrente das manifestações contra o aumento das tarifas de ônibus. No entanto, em 2018, caiu para patamares menores do que os de 2010: 12,66%, no país, e 11,26% no Estado.
Cientistas políticos entendem que a queda na quantidade de candidatos jovens pouco tem a ver com o gradual envelhecimento da população, mas sim com a dificuldade dos partidos em atrair nomes. Em siglas, há hierarquias rígidas e caciques de longa data, características pouco simpáticas à juventude. Para a geração mais nova, redes sociais e movimentos mais fluidos são melhores vistos.
– Há uma certa aversão da juventude aos partidos políticos em comparação com as décadas de 1980 e 1990. As jornadas de junho de 2013 trouxeram expectativa de renovação e, com isso, leve aumento nas candidaturas jovens. Mas veio uma onda de decepção com as novas descobertas da Lava-Jato, que recaíram inclusive sobre políticos que estavam nas ruas protestando – analisa Aldo Fornazieri, doutor em ciência política e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
A representação dos mais novos é pequena em comparação com a predominância da mesma faixa etária na população brasileira. Hoje, 54% das pessoas têm até 34 anos, de acordo com projeções do IBGE. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), indivíduos até essa idade representam 36,2% do eleitorado. O levantamento de Zero Hora tem como base dados do TSE disponíveis a partir das eleições gerais de 2010. As faixas etárias analisadas são as mesmas utilizadas pelo Ibope em pesquisas.
Na visão de Aragon Dasso Júnior, cientista política e professor de Administração Pública da UFRGS, a geração que hoje começa a ter idade para candidatar-se foi educada na década de 1990, em um contexto que não via a política tradicional com bons olhos. Pesquisa do Instituto Data Popular feita com 3,5 mil jovens no Brasil mostrou que 59% deles acreditam que o Brasil seria melhor sem nenhum partido político.
– Foi uma época de crescimento do neoliberalismo, uma premissa defendendo a ideia de que o privado é mais eficiente do que o público. Essa má impressão do Estado também se estendeu ao Legislativo. Hoje, o jovem está preocupado em sobreviver e buscar um emprego. Há um afastamento das candidaturas, o que também deve se estender a um grande número de abstenções nas eleições – comenta Dasso.
Para Michael Mohallem, coordenador do Centro de Justiça e Sociedade da Fundação Getulio Vargas, os jovens seguem interessados em exercer política, mas por vias não partidárias:
– Era comum que a liderança jovem formada em universidades ou sindicato fosse rapidamente identificada e disputada por legendas. Mas, por conta da corrupção, isso não é mais opção óbvia a eles. Os mais novos têm, sim, atuação política, mas fora das siglas. Basta ver o surgimento de movimentos como MBL (Movimento Brasil Livre), Mídia Ninja ou Favela Brasil. Normalmente, jovens pressionam os partidos a se modernizarem. Se estão em menor número, as legendas perdem a capacidade de renovação e de atualizar sua comunicação com a sociedade.