Em pelo menos três escolas privadas e uma pública de Porto Alegre, estudantes fizeram protestos nesta segunda-feira (29), após o segundo turno das eleições. Vestindo roupas pretas, alunos dos colégios Aplicação, Bom Conselho, Santa Inês e Marista Rosário fizeram manifestações contrárias ao presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL).
Um vídeo que circula nas redes sociais mostra diversos estudantes de mãos dadas no pátio do Rosário, durante o intervalo das aulas, exibindo faixas e bandeiras com as cores LGBT+ e entoando:
— Seremos resistência! Seremos resistência!
A frase que tem sido usada por usuários em todo país para manifestar insatisfação à eleição de Jair Bolsonaro para presidente. Para esta terça-feira (30), estão marcados protestos pelo país com o mesmo slogan, inclusive na capital gaúcha.
Diversas imagens mostram os atos nas outras escolas, mas a autoria não foi confirmada. As publicações geraram centenas de compartilhamentos e milhares de comentários, tanto parabenizando quanto criticando as manifestações.
Nesta terça-feira (30), um grupo de estudantes realizou um protesto a favor de Bolsonaro no Rosário. Conforme relatos, um grupo menor de alunos vestiu verde e amarelo, segurou bandeiras do Brasil e entoou gritos como "Mito", "Sergio Moro" e "Fora PT".
Conforme a direção das esolas, os protestos foram organizados pelos próprios estudantes, que tiveram liberdade para manifestar seus posicionamentos no intervalo das aulas.
Repercussões
Cesar Fraga, que é jornalista no Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro-RS) e pai de um aluno do Colégio Rosário que participou do ato contra Bolsonaro, é a favor de qualquer mobilização e manifestação de ideias.
— O bacana é a escola abrir espaço pra todos e mostrar que debater política e aprender com as diferenças é papel da escola, e isso não significa defender esta ou aquela ideologia — afirmou Fraga.
Conforme ele, o Sinpro não deve se manifestar oficialmente, pois não houve nenhuma queixa relacionada a professores. No entanto, reforça que o sindicato é contra o projeto Escola Sem Partido e defende a liberdade de atuação dos professores em sala de aula.
A direção do Rosário publicou nota oficial ainda na segunda-feira confirmando que a manifestação "foi organizada de forma espontânea e voluntária por um grupo de estudantes" e que a escola apenas acompanhou o ato "a fim de zelar pelo clima de tranquilidade". Nesta terça, a instituição atualizou o comunicado e confirmou que o segundo protesto também partiu dos alunos.
O comunicado reforça, ainda, que o Rosário não tem vínculos partidários e que defende a liberdade de expressão: "Salientamos a importância de espaços de diálogo para discussão sobre a promoção e a defesa dos direitos, fortalecendo a nossa missão de formar cidadãos comprometidos com a promoção da vida e da cultura de paz".
A direção do Colégio Aplicação também confirmou que alunos foram à escola de preto como forma de protesto pelo resultado das eleições de domingo e que, no horário do recreio, os estudantes exibiram cartazes formando a hashtag #elenão no saguão. Conforme a assessoria de imprensa da UFRGS,instituição à qual o colégio está ligado, a universidade "manifesta-se em defesa da liberdade de expressão e considera o ambiente escolar e universitário como um lugar plural, de discussão e de pensamento crítico".
Na mesma linha, o Colégio Bom Conselho disse que a manifestação não teve envolvimento da direção e ocorreu no intervalo, sem interferir nas aulas. Disse, ainda, que "não assume, não compartilha e não difunde ideologia política vinculada a qualquer partido que seja". O Santa Inês afirmou que "o Colégio é espaço para ajudar a desenvolver o pensamento crítico para que os estudantes possam fazer escolhas".
Comunicados oficias
Íntegra da nota do Colégio Marista Rosário:
- " As manifestações que ocorreram no Colégio Marista Rosário estritamente durante os intervalos da manhã, nos dias 29 e 30/10, foram organizadas de forma espontânea e voluntária por grupos de estudantes, indicando posições distintas sobre o desfecho eleitoral. As fotos e vídeos veiculados nas redes sociais e imprensa não foram publicadas pela instituição.
Acompanhamos as duas atividades a fim de zelar pelo clima de tranquilidade e liberdade de expressão. Nos dois dias, previamente, buscamos coletar elementos visíveis que remetiam a partidos políticos. No decorrer dos dois atos, reconhecemos a ocorrência de situações em desacordo com o que é previsto em tópicos das Normas de Convivência como, por exemplo, uso obrigatório do uniforme, organização de eventos sem autorização e promoção de política partidária. Ressaltamos o nosso compromisso no cumprimento dessas normas e nos manteremos atentos para evitar a ocorrência de novos atos.
Somos apartidários. Reiteramos que não nos vinculamos a nenhum candidato ou partido político. Salientamos a importância de espaços de diálogo para discussão sobre a promoção e a defesa dos direitos, fortalecendo a nossa missão de formar cidadãos comprometidos com a promoção da vida e da cultura de paz. Algumas iniciativas foram adotadas para reforçar tais propósitos, como o atendimento de estudantes e famílias desde segunda-feira, 29/10.
Além disso, a partir desse contexto, serão realizados trabalhos pedagógicos em sala de aula ressaltando a relevância da cidadania. O cuidado com posicionamentos políticos e ideológicos já é uma pauta sistemática junto aos educadores.
Estamos priorizando o atendimento presencial aos familiares e seguimos à disposição para o diálogo, entendendo que esse é o caminho para a construção de uma sociedade fraterna e pacífica."
Íntegra da nota do Colégio Aplicação:
- "Segundo a direção do CAp, ontem alguns alunos foram assistir as aulas usando camiseta preta, como forma de protesto pelo resultado das eleições de domingo. No horário do recreio, no saguão do Colégio, os alunos exibiram cartazes formando a hashtag #elenão. O protesto acompanhou os atos realizados em outros colégios do Estado.
A Universidade manifesta-se em defesa da liberdade de expressão e considera o ambiente escolar e universitário como um lugar plural, de discussão e de pensamento crítico, conforme nota publicada na última sexta-feira: http://www.ufrgs.br/ufrgs/noticias/ufrgs-defende-a-liberdade-de-expressao."
Íntegra da nota do Colégio Bom Conselho:
- "O Colégio Bom Conselho tem todo cuidado em cumprir com o que lhe cabe, como uma Instituição de Educação Básica, de acordo com seu regimento e a legislação vigente. Neste sentido, não assume, não compartilha e não difunde ideologia política vinculada a qualquer partido que seja. A movimentação de um grupo de alunos, ontem, foi uma iniciativa deles sem nenhuma motivação por parte da instituição. A atividade aconteceu, no horário do intervalo, e não interferiu na rotina das aulas.
Ao Colégio cabe a responsabilidade de zelar pelo cumprimento do seu Projeto Pedagógico e da construção de um ambiente que favoreça a boa convivência e a aprendizagem de todos. Os profissionais da instituição estão muito atentos e dedicados a isso.
Neste sentido, o Colégio conta também com o apoio das famílias na orientação dos seus filhos."
Íntegra da nota do Colégio Santa Inês:
- "O Colégio é espaço para ajudar a desenvolver o pensamento crítico para que os estudantes possam fazer escolhas. Não cabe a Instituição incitar nem apoiar manifestações desta natureza ou de qualquer outra natureza político partidária. Nosso papel é ensinar os estudantes a pensar e respeitar pensamentos divergentes tais como: credos, raças ou escolhas de outra natureza."