Eleita deputada estadual de Santa Catarina, Ana Caroline Campagnolo (PSL) causou polêmica no último domingo (28) ao criar um canal informal na internet com o intuito de gravar professores em sala de aula que fizessem manifestações contrárias ao presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). Em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha Ana comentou a medida e afirmou que casos de manifestação político-ideológica no ambiente escolar não são "novidade".
— Você (professor) pode manifestar suas opiniões no Facebook, na sala dos professores. Mas dentro da sala de aula você está lidando com adolescentes protegidos pelo ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), pela sua vulnerabilidade. Eu não posso fazer propaganda para algum político ou fazer contrapropaganda contra outro. O que eu fiz foi apenas pedir que me trouxessem esses casos. Isso não é nenhuma novidade. Os professores éticos já sabem e trabalham com essa premissa, que sala de aula não é palanque político — disse.
Questionada sobre um caso específico de manifestação que visa combater, a deputada eleita, de 28 anos, citou um exemplo ocorrido recentemente no município de Palhoça (SC).
— Bem perto da eleição, uma professora de um colégio usou cerca de cinco, 10 minutos da sua aula para falar sobre o movimento #EleNão (contrário a Bolsonaro), dizendo aos alunos que era um movimento que provava que o Brasil está contra Bolsonaro. Então, ela incentivou os alunos a contrariar os pais e criticou o candidato claramente. Isso não era conteúdo de aula. Duvido que tenha no conteúdo programático um tema relacionado a Bolsonaro — afirmou.
Ana explicou como pretende atuar durante seu mandato e defendeu a adesão a projeto Escola sem Partido — PL 7180/14, atualmente em tramitação na Câmara dos Deputados.
— Na verdade eu não pretendo impedir. Eu pretendo discutir com a Assembleia, que é onde eu vou trabalhar a partir do ano que vem. Discutir um problema que está acontecendo e quais são as possíveis soluções. Poderia ser, por exemplo, a aprovação do projeto Escola sem Partido, mas veja, as leis existem não para impedir os delitos, mas para tipificar e esclarecer o que é delito ou não. Os alunos podem discutir. E os professores podem permitir que os alunos debatem um com o outro. O que ele (professor) não pode é tomar partido.
— Ele pode dizer "na minha opinião foi golpe". Agora, a partir do momento em que ele começa a usar a aula para defender que foi golpe... defender que Bolsonaro é nazista, pelo amor de Deus. A criança também tem, por mais que ela seja vulnerável, ela tem o senso para para perceber que os seus direitos foram violados — afirma a deputada.
Apuração do MP
O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) vai apurar a conduta da deputada. A 25ª Promotoria de Justiça de Florianópolis instaurou na segunda-feira (29) um procedimento para verificar "possível violação ao direito à educação dos estudantes catarinenses para adoção das medidas cabíveis".
Para Ana, a iniciativa é vista como algo normal.
— É função do ministério (público) averiguar. Essa ideia da campanha, quem não deve não teme. O que eu fiz é uma coisa simples. Não temos problema com fiscalização. Estamos fazendo uma campanha em defesa dos direitos dos alunos, para que eles possam se defender, caso eles se sintam assediados ou ofendidos nos seus direitos — conclui.