GaúchaZH ouviu quatro eleitores que dizem votar nos dois primeiros colocados nas pesquisas recentes para a eleição presidencial: Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL). Cada um deles justifica sua escolha e argumenta em favor de seu candidato.
"Haddad tem diálogo" - Carlos Alexandre Netto
Confira a opinião do professor e ex-reitor da UFRGS, sobre a candidatura de Fernando Haddad
"Entrei para a faculdade de Medicina em 1977. Naquela época, o movimento estudantil tinha alguma atuação política. Era proibido reunir, havia repressão. Quando os estudantes saíam à rua vinham os militares a cavalo e, se a gente não saísse da frente, passavam pisando. Participei disso, eram movimentos pela democracia, com uma clara orientação social.
Na política partidária, nunca trabalhei. Sempre tive simpatia pelo Partido dos Trabalhadores (PT), fui filiado na época de estudante, lá no começo, na fundação. Mas depois, quando me organizei pela vida acadêmica, não senti que a vida partidária fosse o meu destino. Preferi ficar na academia e me desliguei.
Desde que começaram as eleições para presidente, sempre votei nos candidatos do PT. Quando me perguntavam, abria o voto. Na época em que fui reitor, por não ser um movimento adequado, aí não abria. Como representante institucional, não podia fazer isso.
Por que as pessoas se motivam a votar num candidato ou noutro? No meu caso, são dois aspectos fundamentais. Primeiro, conheço Fernando Haddad, assim como conheço Manuela. Fernando Haddad foi ministro da Educação por sete anos, e quem assinou minha nomeação como reitor foi ele. Trabalhei como reitor com ele no ministério e tivemos algumas reuniões juntos. As universidades crescerem muito no período em que ele foi ministro.
Não apenas as universidades, a própria educação básica cresceu muito. Acompanhei as políticas do MEC (Ministério da Educação) que fizeram a educação do Brasil dar esse salto, que foi não só em inclusão, mas também em qualidade.
Conheço Haddad como gestor público, e esse conhecimento traz minha segunda motivação, que é a confiança. Confio no que ele diz, confio na plataforma política que ele e a Manuela apresentaram.
As pessoas deviam estar discutindo o que propõem as chapas, o que é melhor para o país, mas não há nada disso. O clima é do eles contra nós e do nós contra eles.
CARLOS ALEXANDRE NETTO
Professor e eleitor do Haddad
É um plano consistente, que aborda todos os aspectos importantes. Fala muito de educação, de ciência e tecnologia e de inovação, mas também fala de coisas tão importantes quanto essas: as questões sociais, a luta contra a pobreza, a saúde, a violência, o desenvolvimento das cidades.
Confio principalmente na capacidade de diálogo que ele já demonstrou. Haddad tem condições políticas e pessoais de unir e pacificar o país. Tão importante quanto o resultado da eleição será a capacidade, de quem for eleito, de diálogo e pacificação do país. Porque o que existe hoje na campanha é um dos piores cenários, mais uma briga de torcidas do que uma campanha política. As pessoas deviam estar discutindo o que propõem as chapas, o que é melhor para o país, mas não há nada disso. O clima é do eles contra nós e do nós contra eles.
Acredito que Fernando Haddad pode pacificar o país, e aí entra esse fator privilegiado que estou colocando de ter conhecido e trabalhado com ele. Foi um excelente ministro, no período dele o orçamento do MEC passou de 3,9% para 5,1% do PIB, mas houve reuniões em que havia pontos discordantes, e ele sempre demonstrou abertura, capacidade de escuta, capacidade de diálogo.
Hoje, a eleição está polarizada entre dois candidatos, e para nenhum dos dois vai ser fácil. Mas entendo que, dentre os dois, Haddad é o que tem melhores condições de diálogo. A outra candidatura não tem isso. Os valores, o comportamento e a formação acadêmica que Haddad tem dão um lastro para que possa dialogar. Ele fará isso, com certeza, porque, caso contrário, não poderá governar.
O PT hoje é um dos grandes partidos do Brasil. Tem uma visão social, que defende educação para todos, ampliação do acesso à saúde e, principalmente, o resgate da pobreza, mas não no estilo Robin Hood, de tirar de quem tem e dar para quem não tem. É pelo fortalecimento da economia com um olhar especial para os despossuídos. Haddad é o PT, e o PT é Haddad.
Se o candidato do partido fosse outro, muito provavelmente também votaria nele. Mas talvez não com tanto entusiasmo.
O PT sempre se elegeu com a bandeira da ética, de fazer um novo tipo de política. Obviamente, ninguém esperava que houvesse envolvimento em episódios do corrupção. Não vou discutir os episódios, nem a valoração. Houve episódios, e alguns estão mais ou menos bem demonstrados. Ninguém esperava que acontecesse com o PT. Aconteceu, mostrando que existe na prática da política brasileira muita fragilidade, muitas brechas, e que as pessoas fazem isso.
Não foi o partido que deu uma orientação, assim como não são os outros partidos que orientam seus integrantes a fazer maracutaia e a se envolver com propina. São decisões pessoais.
Essas decisões maculam não só a vida das pessoas, maculam os partidos também. Então, há uma decepção muito grande. Mas não foram todos os políticos que assim fizeram. Temos de ser muito práticos e entender que uma sociedade não vive sem política. Passada essa desilusão com os casos de corrupção que envolveram pessoas do partido, o partido mantém a sua orientação social? Mantém. Entendo que esse é o melhor tipo de orientação.
Acho que a situação do Lula é muito complicada. Os próprios juristas têm opiniões divergentes. Como não sou da área, não posso opinar sobre a questão concreta. O que acho muito triste é que um grande líder político não pôde participar desta eleição como candidato. Mas é importante respeitar as regras do jogo. Acho que ele não vai ser (uma sombra num governo Haddad). Uma coisa é a eleição, outra o mandato.
Tenho certeza de que Haddad tem independência de pensamento e, uma vez no governo, vai governar da maneira dele.
Estou feliz com o cenário que vem se desenhando, de crescimento de Haddad nas pesquisas. Isso traz esperança. O que eu e muita gente esperamos é que o Brasil continue no caminho do desenvolvimento democrático. Não existe salvador da pátria.
Estou me manifestando em apoio à candidatura que acho ser a melhor para o país. Prefiro não falar das outras candidaturas. Muitas pessoas têm escrito que esta eleição, muito mais do que definir aquele que vai sentar no Planalto, é uma definição entre a democracia e o autoritarismo. E concordo parcialmente, mas a motivação do meu voto não é essa, meu voto não está motivado por uma exclusão. Estou votando no Fernando e na Manuela consciente de que são os melhores candidatos e têm o melhor programa de governo para o Brasil."
"Haddad é a cara do povo" - Lidiane de Lima
30 anos, estudante e trabalhadora autônoma, moradora da Vila Cruzeiro do Sul, em Porto Alegre
"Eu voto no Haddad porque o ex-presidente Lula indicou. Na verdade, nem sabia quem era o Haddad. Li algumas coisas sobre ele, mas não sabia quem ele era. Agora, vejo que ele é a cara do povo, pelos projetos que tem para a saúde, para os idosos.
Lula é a cara do povo, ele passa o povo para as pessoas. Ele é simples, ele é povo. A gente nunca sabe o que realmente aconteceu para ele ser preso. Só sei o que vejo na mídia. A realidade dos fatos, mesmo, não sei. A única coisa que sei é que, quando ele estava na Presidência, as coisas podiam estar ruins, mas não faltava nada para ninguém. Depois, quando trocou, começou a acontecer um monte de problema.
Acho que foram várias culpas que caíram no Lula. Não que ele seja total inocente, mas acho que ele assumiu muita coisa pelos outros. Podia ter essa corrupção, essa roubalhada toda, mas acredito que eles tiravam de quem tinha para dar para quem não tinha. Acho que o que o PT faz pelo povo supre Lava-Jato, essas coisas. Porque, quando era o Lula, existia toda essa corrupção, mas ele tentava de alguma forma tapar o buraco do que faltava, e os mais necessitados sentiam menos. Hoje, eles sentem mais.
Eu, por exemplo, na semana passada, tive de pagar uma consulta para o meu filho, porque ele estava doente e eu não podia ficar mais quatro, cinco dias, esperando. No tempo do Lula, a saúde funcionava muito mais, abriram um posto novo, e daí não reabriu, porque não passaram verba do governo.
Acho que foram várias culpas que caíram no Lula. Não que ele seja total inocente, mas acho que ele assumiu muita coisa pelos outros. Podia ter essa corrupção, essa roubalhada toda, mas acredito que eles tiravam de quem tinha para dar para quem não tinha.
LIDIANE DE LIMA
Estudante e eleitora de Haddad
Quando entrei na faculdade, em 2012, entrei pelo governo do PT, pelo Prouni. Fiz curso de tecnólogo em logística na UniRitter. Isso pesou muito para eu votar no PT. Se não fosse o Prouni, não teria como estudar. Na época, a mensalidade era de R$ 680, dois anos e meio de curso. Fiz um ano e oito meses, daí a minha mãe veio a falecer, e não consegui seguir. Agora, estou fazendo os meses que faltam, no Universitário.
Não sou filiada, mas votei sempre no PT. Acredito que todas as oportunidades boas quem deu foi o PT: estágio, ter entrado na faculdade, o Bolsa Família do meu filho de sete anos, que faz que mantenha ele na escola, por exemplo. Recebo o Bolsa Família desde quando ele nasceu, agora são R$ 186.
Não é um valor grande, mas consigo pagar creche. Faz diferença, porque trabalho fazendo bufê para festas, aqui na comunidade. Na semana, se tiver umas três, quatro festas, dá uns R$ 400. Mas não é toda semana que tem. Agora, tenho relacionamento estável, mas sou mãe solteira, nunca fui casada com o pai do meu filho. Também por causa disso o Bolsa Família é importante, porque sei que o leite não vai faltar.
Só não vou votar no Bolsonaro. Vi bastante entrevista dele, e ele é machista. Com ele, com certeza as mulheres vão ficar retrancadas de novo. Ele me assusta bastante. O debate dele foi um horror, o debate (entrevista) com o William Bonner, no Jornal Nacional (o candidato foi entrevistado em 28 de agosto). Aquilo foi horrível, quando Bolsonaro falou da comparação de salário, quando disse para a jornalista (Renata Vasconcellos) que, com certeza, o salário dela era menor do que o de Bonner. A troco de quê? Ele é preconceituoso. Tenho três razões para não votar nele: como mulher, como negra e como batuqueira.
Vi também o Haddad no Jornal Nacional. Ele se saiu muito bem."