Apesar dos resultados do primeiro turno indicarem uma expressiva votação de um conglomerado de candidaturas ligadas a Jair Bolsonaro (PSL), o PT permanecerá como liderança na Câmara. Principal legenda de esquerda do país, o partido seguirá com a maior bancada na Casa, à frente somente da sigla bolsonarista.
Desidratado a cada legislatura, o PT manteve a hegemonia mesmo com o desgaste dos escândalos de corrupção e a queda do governo Dilma Rousseff (PT). No domingo (7), elegeu 56 cadeiras na Câmara, quatro a mais do que o até então inexpressivo, e agora fenômeno, PSL. Porém, recuou em relação a 2014, quando levara 69 parlamentares.
Para analistas políticos, o resultado das urnas aprofundou o processo de negação da política tradicional e consolidou uma guinada à direita. Mesmo com o recado dado, o PT conseguiu se manter como o principal símbolo do campo de esquerda brasileiro.
— Apesar das críticas e acusações, o PT resiste como partido mais bem estruturado do polo de esquerda do país, mantendo a sua posição na bipolaridade da competição nacional — analisa Paulo Peres, professor do Departamento de Ciência Política da UFRGS.
Dessa divisão, caiu fora o PSDB, que, desde 1994, apresentava-se do lado da centro-direita com o discurso anti-PT. Um dos sintomas está no encolhimento dos tucanos na Câmara — eram 54 em 2014, minguaram para 29 — e no crescimento do PSL, que encarnou a oposição à legenda e a rejeição à política. Segundo Peres, um verdadeiro "efeito meteoro".
A cientista política Silvana Krause, também da UFRGS, considera o inchaço do PSL "conjuntural", empurrado unicamente pelo fenômeno bolsonarista. Diante da personalidade populista de direita, a sigla opera como uma "franquia partidária". Aí, surge como contraponto à estrutura organizacional do PT.
— O PT tem como gênese um projeto partidário orgânico, e a suas bases estão relacionadas a setores da sociedade brasileira. Disparadamente, continua sendo o partido com maior preferência no país. Mas carrega essa dicotomia: também é o mais rejeitado — observa Silvana.
Segundo o Ibope, em pesquisa divulgada em setembro, o PT é a sigla preferida de 29% dos brasileiros, só superado pelo índice de 37% dos eleitores que não são simpáticos a nenhuma legenda. Para a professora, outra causa — a primeira vista, contraditória — está no crescimento do movimento anti-PT. Como reflexo, ao demonizar a legenda, adversários podem contribuir para manter o petismo aceso.
— A relação do partido com grupos sociais, a manutenção de lideranças históricas e a sua institucionalização tornam o PT muito sólido — completa a professora.
Na próxima legislatura da Assembleia do Rio Grande do Sul, o PT também será a maior bancada, ao lado do MDB. Terá oito deputados, três a menos do que na passada. Já a antítese está no Senado: com 13 senadores em 2014, desidratou para seis.