A onda avassaladora que catapultou candidatos aliados a Jair Bolsonaro (PSL) está inquietando o entorno de Eduardo Leite (PSDB). Após vencer o primeiro turno por uma margem de votos mais estreita do que projetado pelas pesquisas, o tucano estuda como lidar com o fenômeno sem perder eleitores na etapa decisiva da eleição.
Seus principais aliados, já falam abertamente em pedir votos para Bolsonaro no Estado. O PP convocou a executiva do partido para uma reunião no fim do dia, quando irá anunciar apoio ao capitão da reserva. Já o PTB deve tomar posição nos próximos dias.
Ainda no domingo, tão logo teve presença confirmada no segundo turno, Leite rechaçou aproximação com a candidatura de Fernando Haddad (PT), mas não demonstrou simpatia a Bolsonaro. A iniciativa surprendeu os aliados, que não esperavam uma afirmação peremptória anti-PT tão cedo. Agora, há uma pressão crescente por uma adesão oficial ao presidenciável.
— A gente já viu o que acontece com quem prega imparcialidade ativa — comenta um dos estrategistas da campanha, citando a expressão cunhada em 2010 pelo então candidato do PMDB ao Piratini, José Fogaça, para justificar sua neutralidade em relação à disputa presidencial entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB).
Apesar do cerco cada vez maior, Leite segue o tom estipulado no domingo. Nas várias entrevistas que concedeu nesta segunda-feira (8), reafirmou a repulsa ao PT, mas também manifestou incompatibilidade com várias atitudes de Bolsonaro.
— Do lado do PT, a postura ideológica, do ponto de vista econômico, gerou 13 milhões de desempregados, desequilíbrio das contas, com desvios de ética graves. De outro lado, a candidatura de Jair Bolsonaro tem posição com relação a mulheres, diversidade religiosa, racial, de orientação sexual e de gênero que também me preocupam e não correspondem ao que penso. Acredito num Estado tolerante, com foco na igualdade. Não me sinto representado integralmente em nenhuma das candidaturas — afirmou.
No PTB, partido do vice Ranolfo Vieira Júnior, o presidente estadual e prefeito de Canoas, Luiz Carlos Busato, não se incomoda com a dubiedade de Leite. Embora ressalte que "quem colou no Bolsonaro obteve enorme votação", ele ressalta que o importante é negar o PT e manter o discurso conciliatório, sem afastar os eleitores identificados com a direita.
— O Eduardo não está em cima do muro. E não vejo problema em não se posicionar abertamento a favor do Bolsonaro. Deixa que os aliados se posicionam — pragmatiza Busato.
Auxiliares mais próximos de Leite salientam que, por enquanto, esse comportamento deve ser mantido. Uma reunião do conselho político da campanha irá ocorrer nos próximos dias, quando as cobranças devem aumentar.
— Ele não se identifica com nenhuma das possibilidades — resume um amigo.