Candidato à Presidência pelo PT, Fernando Haddad foi o último entrevistado da série de sabatinas do Jornal Nacional com os concorrentes ao cargo. Confirmado na disputa na última terça-feira (11), em substituição ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), impedido pela Justiça Eleitoral, o ex-prefeito de São Paulo negou envolvimento em escândalos de corrupção e afirmou que o PSDB "sabotou" o governo Dilma Rousseff (PT).
Em um dos momentos mais nervosos da entrevista, Haddad disse que, em 2016, quando perdeu a reeleição à prefeitura paulista, os eleitores foram induzidos ao erro devido ao "clima de antipetismo criado no país". O candidato mencionou a entrevista do senador Tasso Jereissati, ex-presidente nacional do PSDB, que admitiu que os tucanos cometeram um "conjunto de erros memoráveis" depois da eleição de Dilma, citando o questionamento do resultado eleitoral e o apoio ao governo Michel Temer (MDB).
— O presidente do PSDB assumiu a culpa ontem (quinta-feira, 13). As pautas bomba (no Congresso) e a sabotagem que sofremos teve mais influência na crise do que os principais erros cometidos pelo governo Dilma — defendeu Haddad.
Corrupção
Ao ser questionado se o PT não deveria fazer uma autocrítica e pedir desculpas à população por contas dos escândalos de corrupção nos governos Lula e Dilma, Haddad sustentou que as gestões petistas fortaleceram os mecanismos de controle.
— Há dois tipos de governos: o governo que fortalece as instituições e que combate a corrupção e o governo que enfraquece essas instituições. (...) A corrupção na Petrobras data de tempos muito remotos, remonta à ditadura militar. Se você não fortalece os mecanismos de combate, você não descobre a corrupção. O papel de um governo não é proteger amigos nem perseguir adversários, mas fortalecer esses mecanismos — reforçou o candidato.
O apresentador William Bonner lembrou que o PT argumenta que os desvios foram "atos de indivíduo", não do partido. Porém, o Ministério Público discorda, afirmando que dois ex-presidentes petistas são alvo de investigações, além de 11 ex-ministros dos governos Dilma e Lula.
— Hoje, estamos em um momento onde muitas pessoas estão sendo investigadas. E muitas absolvidas. A delação criou uma indústria em que todo mundo, para diminuir 80% da pena, fala o que quer sem apresentar provas — rebateu Haddad.
Justiça
Bonner citou os números de indicações na Justiça pelo PT, entre o Supremo Tribunal Federal (STF), o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o Tribunal Regional da 4ª Região (TRF4) e questionou se houve conspiração, como afirmam alguns petistas, ou isenção do Judiciário ao condenar e prender Lula. Haddad respondeu que os números confirmam que o PT "nunca partidarizou o Judiciário".
— Isso não signifca que o Judiciário não pode errar — emendou o petista.
O candidato também foi questionado se não se sente constrangido em disputar a Presidência após ser denunciado pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) por improbidade administrativa, corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha por supostos recebimentos indevidos da UTC Engenharia. Haddad questionou por que a acusação ocorreu a um mês da eleição. Ao ser interrompido por Bonner, rebateu, pedindo a palavra:
— Quando a sua honra está em jogo, você decide. Quando a minha está, eu decido.
No encerramento, o ex-prefeito recordou os "12 anos de normalidade democrática" no país e disse que, após a oposição contestar o resultado das urnas, "começamos a viver essa crise"
— O povo é a solução, não o problema —finalizou Haddad.