A lenta recuperação prevista para Jair Bolsonaro (PSL) após o ataque a faca sofrido na última semana obrigou aliados a rediscutir a estratégia para a reta final da campanha. O candidato ficará afastado de atos públicos por, pelo menos, um mês. Ainda assim, a situação não é vista como negativa. Invocando o componente emocional ligado ao crime, apoiadores entusiasmados acreditam que a situação poderá levar o capitão reformado do Exército a vencer no 1º turno.
Nas próximas semanas, o uso das redes sociais, principais responsáveis pelo crescimento do número de seguidores de Bolsonaro, será ampliado. Com apenas oito segundos no horário eleitoral, a presença em noticiários diários também é vista como fator de propulsão. Imagens do momento do crime, captadas por telefones celulares durante evento na cidade mineira de Juiz de Fora, deverão ser utilizadas para potencializar a ideia de atentado com viés político.
Apesar de críticas a pesquisas e à imprensa, integrantes do PSL projetam que a liderança entre os concorrentes ao Palácio do Planalto será consolidada nos próximos levantamentos. O presidente da sigla em São Paulo, Major Olímpio, não deverá sair do Estado para fazer campanha e avalia que a força do maior colégio eleitoral do país, responsável por um em cada quatro votos, poderá definir a eleição:
– Somos 33 milhões de eleitores e aqui a gente pode decidir no primeiro turno.
Embora não haja previsão de alta, a expectativa é de que Bolsonaro deixe o Hospital Albert Einstein até a próxima semana. Em casa, irá apostar em transmissões ao vivo em seus canais na internet. A necessidade de utilizar uma bolsa de colostomia vai limitar a atuação em atos públicos.
Os três filhos ligados à política – Eduardo, Flavio e Carlos – também irão representar o pai em compromissos no centro do país. Eles contam com aliados em Estados considerados estratégicos, como Rio Grande do Sul (com Onyx Lorenzoni, do DEM) e Paraná (com Delegado Francischini, do PSL). A presença em debates e entrevistas na TV está descartada.
– O lugar do candidato nos debates vai ficar vazio para mostrar como ele faz falta – diz o presidente nacional em exercício do PSL, Gustavo Bebianno.
No próximo final de semana, a agenda de Bolsonaro previa roteiros em cidades do interior do Paraná e de São Paulo, como Londrina e Bauru. A agenda não foi desmarcada e, em seu lugar, os organizadores da campanha tentarão levar o vice na chapa, general Hamilton Mourão (PRTB).
No sábado, o militar foi até o hospital onde o capitão reformado do Exército se recupera, mas evitou a entrada principal e não deu entrevistas. No domingo, durante ato na orla carioca, criticou o grande número de visitas na UTI. Para Mourão, não é hora de “oba-oba”:
– Não pode, se não vira carnaval. É uma área de isolamento, qualquer resfriado que pegue ali, morre.
Sem citar nomes, a reclamação foi endereçada a nomes como o líder da igreja Assembleia de Deus, Silas Malafaia, e o senador Magno Malta (PR-ES). Ambos divulgaram vídeos gravados dentro do quarto. Ontem, Malta chegou a postar em redes sociais a foto do abdômen de Bolsonaro, com um grande corte feito após a cirurgia.
Se ainda não é possível medir o impacto eleitoral do atentado, é inegável que os efeitos já são observados, e não apenas na campanha do PSL. Adversários que apostavam no ataque direto recrudesceram devido à comoção que se instalou, mas devem voltar a subir o tom nos próximos dias.