Os quatro advogados de Adelio Bispo de Oliveira, autor confesso do ataque a faca contra o candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL), estão sendo pagos "por filantropia" por um homem que conhece Adelio do "meio evangélico", disse um dos integrantes da defesa, Zanone Manuel de Oliveira Júnior, em entrevista por telefone a GaúchaZH na tarde desta segunda-feira (10). Ele não quis revelar a identidade do homem, mas ressaltou que a defesa não é paga por uma igreja.
— Já trabalhei em muito caso conhecido. Quem me procurou foi porque (o caso) iria a júri. Uma pessoa conhece ele do meio evangélico, se compadeceu e quis ajudar. Não tem nada a ver com igreja, a pessoa faz isso por filantropia, por gostar do Adelio. Mas pediu anonimato — acrescentou Zanone.
Quatro reconhecidos advogados criminais foram contratados para defender o autor do atentado. Zanone Manuel de Oliveira Junior tem escritórios em Barbacena (MG) e Lajeado (RS), e já atuou nos casos da missionária americana Dorothy Stang, assassinada em 2005, e do goleiro Bruno, condenado pela morte de Eliza Samudio — neste caso, ao lado de outro advogado de Adelio, Fernando Costa Oliveira Magalhães. Ainda atuam na defesa Pedro Augusto de Lima Felipe e Possa e Marcelo Manoel da Costa, ambos associados em um escritório de Minas Gerais, localizado em Barbacena e São João Del Rei.
A contratação do grupo de advogados, em vez de a atuação de um defensor público, chamou a atenção de investigadores pela condição financeira de Adelio: natural de Montes Claros (MG), ele trabalhou em 39 empresas diferentes nos últimos 15 anos, com salários baixos. Próximo ao dia 20 de agosto, ele se mudou para Juiz de Fora (MG) em busca de emprego, segundo seus advogados.
Os investigadores encontraram quatro celulares e um notebook de última geração com o indiciado e na pensão em que se hospedava, o que levantou a suspeita do envolvimento de mais pessoas no crime. A Justiça já quebrou o sigilo de Adelio para averiguar a hipótese.
Em nota divulgada nesta segunda-feira, a Polícia Federal informou que as investigações prosseguem e que "são realizadas diversas diligências policiais como a coleta de depoimentos, a análise de dados financeiros e de outros dados existentes em imagens, mídias, computadores, telefones e documentos apreendidos". A principal tese da corporação é de que Adelio agiu sozinho, como "lobo solitário". A contar de quinta-feira, a PF tem 10 dias para finalizar o inquérito.
No dia seguinte ao atentado, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, disse que havia três suspeitos do crime — um deles prestou depoimento na madrugada de sexta-feira e foi liberado e outra teve participação descartada.
Nesta segunda-feira (10), a procuradora da República Zani Cajueiro, do Ministério Público Federal (MPF) em Juiz de Fora, afirmou que Adelio não manifestou sinais de insanidade mental em sua audiência de custódia, realizada na sexta-feira (7), um dia após ser preso. Ela avaliou que o responsável pelo atentado a Jair Bolsonaro mostrou "lucidez e coesão".
Nos últimos dias, os advogados deram à imprensa versões diferentes sobre quem os contratou: primeiro afirmaram que foram chamados por pessoas ligadas à igreja dos Testemunhas de Jeová e, depois, por indivíduos atuantes na Igreja Evangelho do Quadrangular — ambas as instituições negam qualquer envolvimento. A versão mais recente é de que o contratante é um conhecido de Adelio do círculo religioso.
O advogado também revelou que está recebendo propostas do país inteiro para custear o trabalho de defesa.
— Há pessoas agora interessadas em ajudar o Adelio. Querem pagar, dar R$ 200, R$ 500, R$ 1 mil. São pessoas do Brasil todo. Está chegando aqui no WhatsApp direto — afirmou o advogado momentos antes de ir à Justiça Federal para protocolar o pedido de exame psiquiátrico de seu cliente.
Confira trechos da entrevista:
A linha de defesa é alegar que Adelio tem problemas mentais e pedir a transferência para um hospital psiquiátrico?
A gente quer definir isso. Tem gente que fala que ele é doido, tem gente que fala que não. Ele fala que tem problemas psiquiátricos e que agiu a mando de Deus. A gente quer que um médico estabeleça isso. A defesa vai trabalhar com a confissão. Ele é confesso, não nega a autoria. Ele não fala que agiu em legítima defesa. A gente vai trabalhar com essa motivação política. Por isso, não é tentativa de homicídio, e sim crime contra Segurança Nacional.
Vocês vão tentar transferi-lo para um hospital psiquiátrico?
Para mim, Zanon, em hospital psiquiátrico ele corre risco. Ele tem que ficar no presídio federal, onde está mais seguro do que nós. Pode ser que seja internado em algum manicômio ou hospital de custódia para fazer perícia, mas depois volte para estabelecimento federal.
A procuradora da República Zani Cajueiro disse que Adelio manifestou "lucidez e coesão" e "nenhum sinal de insanidade mental". Isso pode complicar a estratégia de vocês?
Pode ser que ela seja contra, que isso leve a magistrada a indeferir nosso pedido. Mas não muda nada para nós. O que queríamos, já temos. Se o Brasil está com raiva da gente, a gente conseguiu o que queria: botar o Adelio em presídio federal. A própria procuradora também pediu isso. Hoje, quem está no sistema penitenciário federal está mais seguro do que nós, que estamos nas ruas.
A estratégia de vocês será manter o Adelio em presídio federal.
Sim. Por enquanto, sim. Você concorda que, em liberdade, ele corre risco de morte?
Isso é o que vocês acreditam?
Temos certeza. Basta dar uma olhada nas minhas redes sociais e você verá as manifestações de carinho.
Eu vi. Estão ameaçando o senhor. O senhor está acostumado a isso?
Normal, já trabalhei em muito caso conhecido.
Como foi essa aproximação?
Uma pessoa que conhece ele do meio evangélico se compadeceu com a situação dele e simplesmente quis ajudar. Ele entrou em contato comigo, usou uma pessoa de Belo Horizonte, a pessoa acorreu a mim e perguntou: "Tem como você dar uma olhada? De repente a gente combina de você trabalhar no júri", porque achou que daria tentativa de homicídio. Como tenho histórico de mais de duas décadas voltadas para júri, inclusive aí no Rio Grande do Sul, em Lajeado, em Porto Alegre, em Venâncio Aires... Corremos o Brasil fazendo júri. Meu nome veio por isso. Outros nomes também foram sugeridos. A pessoa falou: "Me deram alguns nomes. Vim ao senhor em primeiro lugar". Na hora em que vi do que se tratava, é claro que meu interesse foi imediato.
O jornal Estado de Minas afirmou que o doutor Marcelo e o doutor Pedro Augusto, que são de Barbacena, acionaram o senhor e o doutor Fernando. Na verdade não foi isso, então?
Não. Eu os acionei. O escritório deles é sediado em Barbacenas, do lado de Juiz de Fora. Como eu estava em Belo Horizonte, do lado de Contagem, na região metropolitana, eles são associados e a gente conversou.
Vocês são associados?
São escritórios separados. O escritório dos dois é em Barbacena, o meu é em Contagem e o do Fernando, em Belo Horizonte. Eu e o Marcelo somos associados, em algumas causas, trabalhamos em conjunto.
O senhor foi atrás deles pela proximidade.
Exato, pela amizade. Já nos conhecíamos antes.
O Adelio é uma pessoa humilde e vocês são advogados reconhecidos. Quem está pagando os honorários advocatícios de vocês? Já houve várias versões veiculadas...
Essa pessoa me remunerou.
A defesa já disse que seria uma pessoa ligada à igreja dos Testemunhas de Jeová, depois disse que era ligada à Igreja do Evangelho Quadrangular, depois falou que foi por um conhecido da família de Adelio.
Não. Eu disse que o Adelio conhece algumas pessoas ligadas às Testemunhas de Jeová e ao meio evangélico, à Quadrangular. Essa pessoa conhece ele através da religião. Eu não sei se é testemunha de Jeová, ou Quadrangular ou qualquer outra igreja evangélica. Não tem nada a ver com igreja. A pessoa está fazendo isso por filantropia, por amizade, por gostar do Adelio. Pediu anonimato, mas a única relação que ela tem com Adélio é através da religião. Não é nenhuma igreja especificamente que me contratou, absolutamente. Não tem igreja nenhuma por trás.
Eles eram fiéis juntos, então.
É tanta informação. Já estão me falando aqui que ele já foi pastor. Que ele já pregou em igrejas. Tá bom?
É que já foi falado que fariam até uma vaquinha em uma igreja.
Estou recebendo ligação de… Estou recebendo mensagens de gente querendo ajudar, gente comum, cidadão comum, normal.
Tem gente buscando vocês para pagar os seus honorários advocatícios?
Não. Tem gente perguntando como faz para ajudar? Até então, não recebi nada, a não ser da primeira pessoa. Há pessoas agora interessadas em ajudar o Adelio. A pagar, dar R$ 200, R$ 500, R$ 1 mil. São pessoas do Brasil todo. Está chegando aqui no WhatsApp direto. O motorista está me esperando. Depois você me liga e a gente complementa. Um abraço.