Correção: o coordenador da área de comunicação e marketing da campanha de Sartori é o jornalista José Antonio Vieira da Cunha, e não o ex-secretário da Educação Vieira da Cunha, como publicado entre 19h22min de 29 de agosto e 9h28min de 30 de agosto de 2018. O texto já foi corrigido.
Propagandas sóbrias, despidas de sofisticações estéticas e de jingles maçantes devem preencher o espaço diário no rádio e na TV reservado ao horário eleitoral obrigatório e às inserções programadas que começam na sexta-feira (31). Equipes de marketing e consultoria política dos candidatos ao governo do Estado optaram por produções "cruas", palavreado simples e até sutis alfinetadas para abocanhar o voto dos indecisos e de quem está disposto a anular ou votar em branco no dia 7 de outubro.
O espaço ganha mais peso à medida que esse público, somado, chega a 50% do eleitorado gaúcho segundo a mais recente pesquisa do Ibope, divulgada em 17 de agosto.
— Horário político é a principal fonte de informação, sobretudo das pessoas de baixa renda. Claro que as redes sociais ganharam relevância, mas o espaço na TV e no rádio ainda tem poder maior de influenciar a decisão sobre o voto — esclarece o cientista político e professor da UFRGS Carlos Schmidt Arturi.
Em busca da reeleição, o governador José Ivo Sartori (MDB) sentiu o impacto desse tipo de propaganda em 2014, quando tinha o segundo maior tempo de TV entre os candidatos ao Piratini, atrás de Tarso Genro (PT) e à frente de Ana Amélia Lemos (PP). Sartori passou de 7% das intenções de voto antes do início da propaganda eleitoral obrigatória para 23% na última pesquisa do primeiro turno, segundo o Datafolha. Enquanto as candidaturas de Sartori e de Tarso ganharam força pela maior exposição no rádio e na TV, Ana Amélia, com menos tempo entre os três, caiu 11 pontos percentuais.
— É a segunda atividade que mais interfere na decisão dos eleitores, atrás dos debates. Os programas mais assistidos são os das duas primeiras semanas e os que antecedem a eleição. Neles, os candidatos precisam ser criativos e diretos, até porque o tempo é limitado — complementa a cientista política e professora da Universidade Federal de São Bernardo do Campo Maria do Socorro Sousa Braga.
Como vai funcionar
O horário eleitoral obrigatório terá duração de 35 dias, até 4 de outubro. Para governador, será veiculado às segundas, quartas e sextas-feiras em dois blocos de 25 minutos, em espaço compartilhado com os candidatos ao Senado e à Assembleia Legislativa. Na TV, vai ao ar das 13h às 13h25min e das 20h30min às 20h55min e, no rádio, das 7h às 7h25min e do meio-dia às 12h25min. Serão sete minutos para candidatos a senador, nove minutos para deputado estadual e nove minutos para a corrida ao Piratini. Já as inserções de 30 segundos podem ir ao ar em qualquer horário e dia da semana pulverizadas entre 5h e meia-noite. Serão, no máximo, 70 minutos de inserções diariamente. Os candidatos podem agrupar no máximo duas, o que garante exposição de um minuto.
Tempo de TV e rádio em 2014
- Tarso (PT) 5min09s
- Sartori (MDB) 5min02s
- Ana Amélia (PP) 3min50s
EVOLUÇÃO PRÉ E PÓS PROPAGANDA EM RÁDIO E TV EM 2014*
Ana Amélia (PP)
12 a 14/8 - 39%
Campanha na TV e no rádio começou em 19 de agosto de 2014
2 e 3/9 - 39%
8 e 9/9 - 37%
17 e 18/9 - 37%
25 e 26/9 - 31%
1º e 2/10 - 28%
Tarso (PT)
12 a 14/8 - 30%
Campanha na TV e no rádio começou em 19 de agosto de 2014
2 e 3/9 - 31%
8 e 9/9 - 28%
17 e 18/9 - 27%
25 e 26/9 - 31%
1º e 2/10 - 32%
Sartori (MDB)
12 a 14/8 - 7%
Campanha na TV e no rádio começou em 19 de agosto de 2014
2 e 3/9 - 10%
8 e 9/9 - 11%
17 e 18/9 - 13%
25 e 26/9 -17%
1º e 2/10 - 23%
*Dados de pesquisas Datafolha
Eduardo Leite (PSDB)
Tempo: 2min45seg
Inserções: 300 de 30seg
Eduardo Leite (PSDB/PTB/PP/PPS/PHS/PRB/Rede) será apresentado como candidato jovem, mas experiente, com capacidade de coesão política e que aposta no diálogo. Pelotas terá espaço de destaque na propaganda e nas inserções. Projetos implantados na cidade da Região Sul durante a gestão do tucano, de 2013 e 2016, serão valorizados pelos marqueteiros.
Será uma campanha verdadeira, como se espera que seja. Bem pé no chão
TÂNIA MOREIRA
Coordenadora de Rádio e TV
A influência de Leite na eleição da sua vice, Paula Mascarenhas, em 2016, também será explorada no horário eleitoral. Outro ponto a ser abordado na apresentação da biografia do tucano é que ele abdicou de tentar mais quatro anos à frente da prefeitura pelotense por ser contrário à reeleição. Aproveitando a visita do candidato à Presidência Geraldo Alckmin ao Rio Grande do Sul nesta semana, Leite gravou tomadas externas para os 2min45seg de propaganda eleitoral gratuita e para as 300 inserções de 30 segundos cada.
— Será uma campanha verdadeira, como se espera que seja. Bem pé no chão — diz Tânia Moreira, coordenadora de rádio e TV da equipe de Leite.
A ideia é fugir dos estúdios e gravar tomadas nas ruas, sem megaproduções. Uma equipe de TV está sempre no encalço do candidato, que usará o slogan "Vamos Rio Grande" na campanha. Trechos de debates e conversas informais do tucano também devem ser utilizadas para humanizar o material, inclusive de momentos de descontração ao lado de Alckmin em Pelotas.
As propostas que o candidato irá apresentar ficarão em torno da promoção do desenvolvimento por meio de atração de investimentos privados e retomada do crescimento por meio de privatização de estatais deficitárias. Na área da segurança, a criação do Plano Estadual de Segurança Pública com papel colaborativo dos municípios será uma das apostas.
Jairo Jorge (PDT)
Tempo: 56seg
Inserções: 103 de 30seg
Prefeito de Canoas de 2009 a 2016, Jairo Jorge (PDT/PV/Pode/Avante/PPL/SD/PMB) valorizará medidas colocadas em práticas nos dois mandatos à frente do Executivo do município de 345 mil habitantes para sustentar alguns dos seus programas. Nesta quarta-feira (29), por exemplo, fez gravações em escolas e no Parque Getúlio Vargas, cuja remodelação foi inaugurada em seu último ano de mandato. A reestruturação do espaço será tratada como exemplo de celeridade. Já a Penitenciária de Canoas, parte dela inaugurada em 2016, será citada como modelo no país. O líder trabalhista Leonel Brizola, que morreu em 2004, aparecerá quando o assunto for educação.
A gente tem pouco tempo, então vamos aproveitar para apresentar uma agenda de soluções, sem muitos recursos especiais
JULIANO CORBELLINI
Coordenador de Marketing
A ideia de um político experiente, hoje com 55 anos — 33 deles de vida pública — será uma das marcas da campanha do ex-petista. Uma frase será repetida pelo candidato: "Eu sei fazer porque já fiz e deu certo". O slogan será finalizado com um convite: "E aí, vamos trabalhar?".
Mas o candidato não ficará restrito a sua cidade natal. Imagens de Porto Alegre e dos principais municípios do Interior estarão nos 56 segundos e nas 103 inserções de propaganda eleitoral. Jairo dirá que visitou todos na pré-campanha e que plantou uma árvore em cada cidade. A opção da equipe de marketing foi de se valer de linguagem simples, de fácil entendimento, recomendação bem executada pelo candidato, conforme seu coordenador de marketing, Juliano Corbellini.
— A gente tem pouco tempo, então vamos aproveitar para apresentar uma agenda de soluções, sem muitos recursos especiais.
Pagamento em dia do funcionalismo público, redução da burocracia e, principalmente, da carga tributária serão os assuntos mais abordados pelo candidato. Proposta de criação de escritórios regionais do empreendedor, que facilitarão a emissão de CNPJs, também será lembrada.
José Ivo Sartori (MDB)
Tempo: 3min18seg
Inserções: 361 de 30seg
Candidato com o maior tempo no horário eleitoral obrigatório e quantidade de inserções no rádio e na TV, José Ivo Sartori (MDB/PSD/PSB/PR/Patri/PSC/PRP/PMN/PTC) irá enfatizar que o caminho para o Rio Grande do Sul recuperar a capacidade de investimento passa pela adesão ao Regime de Recuperação Fiscal. O candidato usará os primeiros programas para explicar que, se o Estado deixar de pagar a dívida com a União por três anos, será possível investir em cinco áreas prioritárias: saúde, segurança pública, educação, infraestrutura e políticas sociais. Caso contrário, entrará em um "espiral tenebroso", sublinha o jornalista José Antonio Vieira da Cunha, coordenador da área de comunicação e marketing da campanha à reeleição de Sartori.
No primeiro momento será o governador quem irá mostrar todo esses panorama do Estado
JOSÉ ANTONIO VIEIRA DA CUNHA
Coordenador da área de Comunicação e Marketing
— No primeiro momento será o governador quem irá mostrar todo esses panorama do Estado em gravações feitas em estúdio e nas ruas — detalha.
A agenda de entrevistas, programas e demais compromissos impediram o governador de ir ao Interior, portanto as tomadas externas dos primeiros programas foram todas gravadas em Porto Alegre e na Região Metropolitana.
A ideia é consolidar o nome da coligação "Rio Grande no Rumo Certo" como slogan de campanha e captar cenas de Sartori em visitas a todas as regiões do Estado para que as imagens sejam aproveitadas nos programas. Serão utilizadas, também, imagens de arquivo de eventos políticos em que Sartori tem participado à noite e aos fins de semana. É possível, ainda, que o candidato rebata a adversários que se comprometam com o pagamento em dia do salário do funcionalismo, afirmando que eles estariam fazendo "mera promessa eleitoreira".
Miguel Rossetto (PT)
Tempo: 1min27seg
Inserções: 158 de 30seg
A estratégia adotada pelo candidato Miguel Rossetto (PT/PCdoB) será de oposição ferrenha ao governo Sartori. Com o dedo nas feridas da atual gestão, o petista apontará os erros dos governos estadual e federal, aproveitando a rejeição do presidente Michel Temer na tentativa de desgastar a imagem do MDB no Estado.
— Vamos mostrar que o Rio Grande do Sul não está no rumo certo. Que os plano de governo para o país e para o Estado são os mesmos — resumiu o coordenador de comunicação, Luiz Felipe Nelsis.
Vamos mostrar que o Rio Grande do Sul não está no rumo certo. Que os plano de governo para o país e para o Estado são os mesmos
LUIZ FELIPE NELSIS
Coordenador de Comunicação
Da mesma forma, o ex-presidente e candidato Luiz Inácio Lula da Silva será citado como solução para o país retomar o crescimento, em uma tentativa de surfar na onda de popularidade do líder petista, à frente nas últimas pesquisas eleitorais. Sobre o cenário estadual, críticas à redução do efetivo policial, ao parcelamento de salários dos servidores e a deficiências no sistema de saúde preencherão parte do tempo com linguagem direta.
Poucos bordões e quase nenhuma música ou efeito estético devem tirar o protagonismo do candidato nos programas. Ainda assim, slogans como "vamos vencer a crise sem vender o Estado", "o Rio Grande do Sul está com medo" e "por um Rio Grande justo" deverão ser repetidos. Algumas tomadas, gravadas no Porto de Rio Grande e em propriedades rurais pelo interior do Estado, como em Eldorado do Sul, podem ir ao ar já nos primeiros programas.
Como metas de governo, Rossetto apontará a ampliação de parcerias comerciais e tecnológicas e fortalecimento dos mecanismos de atração de investimentos produtivos. O petista também reforçará que pedirá à União a retomada do polo naval.
Julio Flores (PSTU)
Tempo: 6seg
Inserções: 13 de 30seg
Transmitir a proposta de governo em seis segundos exigirá "exercício de arte e magia", avalia o candidato Julio Flores. Para compensar a escassez de tempo, seus coordenadores de campanha irão apresentar na propaganda eleitoral gratuita links de páginas na Internet e perfis do candidato ao Piratini nas redes sociais onde estarão expostas suas ideias. Os espaços virtuais também serão abastecido com vídeos sobre sua carreira política e com imagens de manifestações recentes em que o candidato participou. Entre suas falas estarão "cadeia para corruptos e corruptores", "confisco de seus bens" e "rebelião contra o capitalismo". Nas inserções de 30 segundos, Julio Flores e a candidata a vice, Ana Clélia, irão propor medidas como redução da jornada de trabalho sem alteração de salários, pagamento em dia para os professores, unificação das polícias e fim das isenções fiscais para as grandes empresas. As tomadas nas ruas, serão, inicialmente em Porto Alegre, podendo ser expandidas para cidades como Gravataí e São Leopoldo, municípios onde se concentra a classe trabalhadora, na avaliação do candidato.
Mateus Bandeira (Novo)
Tempo: 6seg
Inserções: 12 de 30seg
O tempo a que tem direito o candidato Mateus Bandeira na propaganda eleitoral será utilizado de duas maneiras. Como a coordenação de campanha considera seis segundos insuficientes para frases que traduzam suas propostas de governo, a estratégia será convidar os eleitores a conhecê-lo em redes sociais como Facebook, onde o candidato fará programas ao vivo. O liberal, invariavelmente, se apresenta como o "rosto novo" na política, um candidato com "ideias arejadas e inovadoras". Seguindo esta linha, dirá que o partido é contra a propaganda eleitoral obrigatória por ser financiada por dinheiro público via isenções fiscais e que, a depender da legenda, "esta será a última eleição com horário eleitoral na TV e no rádio". Nas inserções, Bandeira contará sua trajetória como ex-presidente do Banrisul na gestão Yeda Crusius (PSDB) e ex-presidente-executivo da consultoria Falconi.
Roberto Robaina (PSOL)
Tempo: 11seg
Inserções: 21 de 30seg
Os 11 segundos da propaganda eleitoral gratuita de Roberto Robaina (Psol/PCB) serão preenchidos basicamente com frases como "mude, vote 50", "Roberto Robaina para governador" e "independência e luta para mudar o Rio Grande". A dedicação maior da equipe responsável pela campanha está centrada nas 21 inserções de 30 segundos, que podem ser agrupadas em no máximo duas e, assim, dar ao candidato exposição de um minuto. A maioria desses programas serão gravados em estúdio, com Robaina e sua vice, Camila Goulart, lado a lado. Eles falarão que existem maneiras de tratar a crise financeira do Estado, ou parte dela, com redução de 30% das isenções fiscais. Entre as propostas a serem apresentadas estarão o fim da criminalização da maconha e o reajuste aos professores. Para o deputado Pedro Ruas, um dos coordenadores políticos de Robaina, as inserções são tratadas com mais carinho por pegarem o eleitor de surpresa em meio a seus programas favoritos enquanto no horário pré-determinado "as pessoas fogem para a Netflix".