As vaquinhas estão — e devem permanecer — magras no Rio Grande do Sul. Novidade nas eleições deste ano, o financiamento coletivo para arrecadar recursos de campanha não teve adesão expressiva do eleitorado. Ao todo, os oito candidatos ao Piratini arrecadaram R$ 32.569 até a tarde de terça-feira (20), valor que corresponde a 0,04% do limite de arrecadação para o primeiro turno.
O montante arrecadado não deve sofrer alterações sensíveis até o pleito, em outubro, já que, desde a semana passada, com o início da corrida eleitoral, os candidatos estão liberados para receber doações de pessoas físicas diretamente em conta bancária. Além de não precisar pagar taxas para os sites que intermediam as vaquinhas, os depósitos e as transferências bancárias não têm o limite de R$ 1.046 por doador, teto do financiamento coletivo. Cada interessado pode repassar à conta do candidato um valor que não supere 10% da arrecadação bruta por ele declarada no ano anterior.
— A expectativa é de que as doações por financiamento coletivo se reduzam consideravelmente a partir de agora — avalia Cristiano de Aguiar, coordenador de auditoria do TRE-RS.
Mateus Bandeira (Novo) foi o candidato com maior arrecadação, com R$ 15.216. Jairo Jorge (PDT, com R$ 8.196), Miguel Rossetto (PT, com R$ 7.768) e Eduardo Leite (PSDB, com R$ 1.389) completam o quadro. Os demais não realizaram vaquinha.
Em nível federal, o total recebido com o financiamento coletivo também não alcançou 1% do limite de campanha — foram captados R$ 1,3 milhão em doações, ou 0,14% do que os candidatos à Presidência podem gastar no primeiro turno.
Para Fabiano Angélico, consultor sênior da Transparência Internacional, a baixa adesão às vaquinhas é reflexo da falta de confiança dos eleitores nos candidatos:
O descrédito com os políticos é enorme. É preciso que os partidos e os candidatos abram mão do fundo eleitoral e vão para a rua estimular a doação individual.
FABIANO ANGÉLICO
Consultor sênior da Transparência Internacional
— É crucial o envolvimento do cidadão com a política, os partidos e as candidaturas. Qualquer instrumento que permita ou estimule esse envolvimento é louvável. As campanhas têm um custo, e é muito melhor que a própria sociedade apoie um candidato do que apostar as fichas em dinheiro público ou em grande doações empresariais. Mas o descrédito com os políticos é enorme. É preciso que os partidos e os candidatos abram mão do fundo eleitoral e vão para a rua estimular a doação individual.
As vaquinhas foram incluídas na reforma eleitoral de 2017 como nova modalidade de arrecadação de recursos de pessoas físicas. Angélico avalia que a medida foi positiva para estimular o envolvimento dos eleitores nas campanhas, mas é preciso ajustar melhor o controle para evitar repasse de verbas com interesses escusos. O pagamento por boleto, por exemplo, deveria ser banido, na opinião do consultor:
— Depósitos em dinheiro e boletos bancários podem gerar fraude, pois necessitam de poucos dados de quem está doando. Alguém pode falsear nomes e CPFs, por exemplo. Isso ainda está muito mal resolvido pelo TSE.
Os valores arrecadados*
- Mateus Bandeira (Novo): R$ 15.216
- Jairo Jorge (PDT): RS 8.196
- Miguel Rossetto (PT): R$ 7.768
- Eduardo Leite (PSDB): R$ 1.389
- Roberto Robaina (PSOL): Não realizou
- José Ivo Sartori (MDB): Não realizou
- Júlio Flores (PSTU): Não realizou
- Paulo Medeiros (PCO): Não realizou
Total: R$ 32.569, ou 0,04% do limite de arrecadação no primeiro turno (R$ 72,8 milhões).
*Consulta realizada às 16h45min de 21 de agosto de 2018.