Acossado pelos baixos índices de intenção de voto nas recentes pesquisas e por movimentos internos do MDB que se articulavam para substituí-lo por Nelson Jobim na corrida presidencial, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB) entrou em campo para evitar o alastramento da manobra. Depois de conversar por telefone com Jobim, também ex-ministro de carreira consolidada no Supremo Tribunal Federal e nos governos Fernando Henrique, Lula e Dilma Rousseff, Meirelles assegura estar no páreo e amparado pelo partido.
— Jobim me disse que desautoriza as especulações do seu nome. Ele não é candidato, não vai participar dessas eleições. Estamos juntos — afirmou Meirelles na manhã deste sábado (16), em entrevista coletiva concedida em Porto Alegre, onde ele participa de um evento da ala de mulheres do MDB.
Encarregado pela política econômica do governo de Michel Temer, Meirelles justificou os tímidos índices de intenção de voto. Na última sondagem do Datafolha, divulgada em 10 de junho, ele atingiu apenas 1% da preferência do eleitorado.
— É normal o que estamos vendo nas pesquisas porque o número de pessoas que, de fato, nos conhece e têm informações sobre a nossa história e o papel que tivemos é um número menor. No entanto, aqueles que dizem ter informações suficientes para tomar uma decisão, tem uma intenção de voto muito elevada que nos coloca no segundo turno. E, entrando no segundo turno, teremos uma vitória muito forte contra um dos candidatos extremistas — disse um otimista Meirelles.
No raciocínio do pré-candidato, o período eleitoral será decisivo para que o público massivo seja apresentado ao seu currículo e, a partir disso, passe a considerar mais fortemente a hipótese de tê-lo como opção. Nem mesmo o fato de o governo Temer ter batido recentemente um novo recorde de impopularidade retira o ânimo do goiano que fez carreira em grandes empresas internacionais como o BankBoston.
— A maior parte do eleitorado está no centro democrático a espera do seu candidato. Todas as pesquisas que fizemos mostram isso. Os números mostram que a grande maioria dos eleitores ainda não se definiu. Isso significa que eles não estão satisfeitos com os candidatos dos extremos — disse Meirelles.
Busca pelos votos de Lula
Na luta pela viabilidade, ele se cacifou até mesmo ao espólio eleitoral de Lula, caso o ex-presidente seja impedido de concorrer pela Lei da Ficha Limpa e pelo fato de estar preso em cumprimento de pena imposta em desdobramento da Operação Lava-Jato:
— Muitos dos que declaram intenção de voto a ele (Lula) tem boa recordação do período em que ele foi presidente. É um período em que eu tive uma posição central como presidente do Banco Central. Estou muito confiante.
Para o ex-ministro, o deputado federal e pré-candidato Jair Bolsonaro (PSL-RJ) "já atingiu um teto mais ou menos onde está". No último levantamento do Datafolha, Bolsonaro ficou em segundo lugar, atrás de Lula, com 17% das intenções de votos. Sem o petista na disputa, ele subiu a 19%.
A reforma da previdência é inevitável.
HENRIQUE MEIRELLES
O pré-candidato emedebista indicou que não terá receio de abordar temas espinhosos na campanha. Assegurou que irá defender a reforma da previdência, pauta que contou com seu empenho prioritário no Ministério da Fazenda durante o período em que atuou no governo Temer, com proposição de idade mínima para obter o benefício e aumento do tempo de contribuição. A investida esbarrou em resistências do Congresso, dos sindicatos e da sociedade.
— A dúvida que tenho não é se a reforma da previdência será feita. É quando ela será feita. Quanto mais cedo fizer, melhor. Menos abrangente ela terá de ser. Quanto mais tempo passar, pior a situação. Vou dar um exemplo: a Grécia. É um país que quebrou e uma das razões mais importantes foi a previdência que, em tese, era muito generosa. Não tiveram condições de pagar e cortaram a aposentadoria de quem já estava aposentado. Cortaram 14 vezes, quase pela metade o valor. Isso é uma tragédia — afirmou Meirelles, que definiu a previdência como mecanismo de "justiça social" e de "transferência de renda".
O ex-ministro definiu como necessário estabelecer condições que evitem uma bancarrota no Brasil como a grega.
— Temos de assegurar a cada brasileiro o direito de receber a sua aposentadoria no futuro e esclarecer a população sobre a previdência.