Em Nova Petrópolis, na Região das Hortênsias, a candidata a vereador mais votada das eleições 2024, Margarida Neumann (MDB), não poderá assumir uma das nove vagas da próxima legislatura. O que a impede é o quociente eleitoral (QE), cálculo usado como critério para a distribuição de cadeiras no legislativo.
Dos 13.181 votos válidos na cidade, Margarida conseguiu 689, 31 votos a mais do que o segundo colocado. Mas, o partido dela não atingiu o QE, o que a impede de assumir uma cadeira na Câmara.
— É como eu digo, se entrou num jogo, o jogo tem regras. E esse cálculo do quociente, no caso, é complexo porque não se sabe o número de votos válidos que vai ter na eleição — conta Margarida, estreante no pleito.
O quociente eleitoral é um cálculo que leva em conta a divisão dos votos válidos só conhecidos no dia das eleições a partir do número de vagas na Câmara local. Em Nova Petrópolis, por exemplo, o índice neste ano foi de 1.464 (13.181 dividido por nove cadeiras).
Pela regra eleitoral, o partido precisa atingir o número de votos do QE para conseguir pelo menos uma vaga (se atingir o dobro, fica com duas vagas, e assim sucessivamente). Apenas com o QE atingido é que o candidato mais votado da legenda ganha a cadeira.
No caso do MDB, no pleito de Nova Petrópolis, foram 1.116 votos. Ou seja, faltaram 348 votos para o partido atingir o quociente eleitoral. Por isso, Margarida ficou sem a vaga.
A fotógrafa de 50 anos conta que não imaginava ser a mais votada, ainda mais porque concorria pela primeira vez. Mas, reconhece que sabia do risco, pois, antes da votação em primeiro turno, o partido teve duas desistências.
— É difícil você dizer se vai fazer 200 votos ou 300 votos. Mas, eu queria entrar e até para conhecer melhor esse mundo. E aí, foi essa surpresa. Claro, hoje meu coração lamenta muito por não poder estar ocupando a cadeira, mas são, como eu digo, as regras do jogo, né? — diz a fotógrafa.
Para se ter uma ideia, a última vaga na Câmara de Nova Petrópolis foi ocupada com 309 votos (confira abaixo), menos da metade do que Margarida conquistou nas urnas.
"Nós precisamos da política", diz Margarida
Em uma conversa por telefone com a reportagem, Margarida contou que decidiu concorrer há dois anos. Ela sempre fez trabalhos comunitários e voluntários na cidade e queria "poder fazer mais" por meio da política. Ao mesmo tempo, a fotógrafa contou sobre o desejo de aumentar a participação feminina na política. Em Nova Petrópolis, por exemplo, a composição eleita para Câmara não tem mulheres.
Após a situação inesperada, Margarida notou que o caso serviu para despertar na comunidade mais interesse sobre a política. Ela também recebeu um grande carinho após a quantidade de votos recebidos:
— Eu estava preparada ou para ganhar ou para perder. Agora o que eu estou vivendo após isso, eu não estava preparada. Isso está maior. Receber o carinho das pessoas, as pessoas incentivando, a indignação... Eu acho que meu caso, aqui em Nova Petrópolis, despertou a conversa de falarmos e discutirmos como a política funciona. Porque a primeira coisa que as pessoas dizem é: "Ah, não quero mais falar de política, não gosto de política". Mas, as pessoas têm que entender que nós precisamos da política e precisamos de mais mulheres nela — enfatiza.
Com todo apoio recebido, Margarida diz que não vai desistir e seguirá batalhando, até mesmo pelos votos que recebeu. Segundo ela, voltar a concorrer é uma possibilidade.
Veja quem são os eleitos para a Câmara de Nova Petrópolis:
- Tuli (PSD) - 658 votos
- Oraci de Freitas (PP) - 550 votos
- Maicon Knaak (PSB) - 463 votos
- Inspetor Robison (Republicanos) - 441 votos
- Jorge Luiz Ludke "Alemão" (PSDB) - 436 votos
- Narciso Júnior (PDT) - 368 votos
- Plinio (Republicanos) - 362 votos
- João Bombeiro (PL) - 322 votos
- Bresco (PL) - 309 votos