A infância em meio a encontros de moradores de bairros e reuniões sindicais ajudou a criar uma jovem militante e ativa na luta coletiva. As brincadeiras como professora, sempre conduzindo as demais crianças, apontavam para uma personalidade de liderança e proatividade. Mas foram os últimos anos, ocupando papéis de destaque dentro do cenário político e o próprio amadurecimento na vida pessoal, que deram à candidata Denise Pessôa, 41 anos, uma das características principais da fase atual, elencada não só por ela, mas por aqueles que a conhecem: a habilidade de dialogar. Este é um dos princípios que pretende manter caso seja eleita prefeita de Caxias do Sul pelo PT.
— Eu acho que em algumas coisas eu amadureci: eu tinha mais confronto, como todo jovem. E aí o parlamento te dá uma bagagem do diálogo. Ou tu dialoga e tu compõe, ou tu não avança. Então a gente precisa compor com os diferentes também. A cidade que a gente quer é uma cidade para todo mundo. Não é só para quem pensa igual a mim, né? Então tu tem que compor, tu tem que construir com diálogo. Todo mundo tem algo bom para contribuir, sabe? Ninguém é tão ruim que não possa ensinar. Mas, claro, nas minhas convicções eu sigo acreditando — diz ela, que foi eleita a vereadora mais jovem em 2008 e se reelegeu para o cargo em outros três mandatos consecutivos.
Ao mesmo tempo que a vida política ascendeu — Denise foi eleita deputada federal em 2022 —, a vida pessoal também ofereceu novos títulos. O nascimento do filho Eduardo, há sete anos, potencializou o desejo de usar a política como instrumento para uma sociedade mais amorosa, solidária e igualitária.
— O Eduardo é meu porto seguro. (Quando se tem filhos) Teu coração começa a bater num outro lugar, e a cidade acaba sendo um território que não é só mais teu. Tu pensa melhor no mundo. Mas não podemos dizer que só as mães são assim. Tem muita mulher que não consegue ser mãe, que não quer ser mãe e está tudo bem — enfatiza.
Equilibrar tantos papéis, no entanto, é uma tarefa que exige resiliência. Como Eduardo estuda em Caxias, a ponte aérea Serra-Brasília é uma necessidade no relacionamento de mãe e filho. A culpa, que parece intrínseca à vivência materna, insiste em aparecer. O foco de Denise se volta, então, em dar qualidade aos momentos em que está junto com o menino e de lembrar de que, mesmo tão jovem, ele é um grande incentivador dela:
— Lembro de uma atividade que a gente fez no lançamento (da candidatura à deputada federal). Naquele dia, eu pensei "meu Deus, será que eu vou? Acho que vou desistir". E aí quando eu estava discursando, ele estava chorando no meu pé e eu perguntei "Eduardo, o que houve?". E ele, com cinco aninhos, me responde: "Mãe, eu tô muito orgulhoso de ti". Sempre que eu me sinto insegura, ele me incentiva — reforça, emocionada.
A vida política
A entrada de Denise na vida política teve a influência de nomes como Geci Prates, fundadora do PT, Marisa Formolo, ex-vice-prefeita e ex-deputada, e padre Roque Grazziotin, ex-deputado estadual.
Denise atuou na campanha de Marisa à prefeitura em 2004. A jovem, segundo a ex-deputada, já dava sinais de que tinha potencial para ocupar cargos de gestão. Iniciativa, visão de futuro e organização são algumas das características que saltaram aos olhos de Marisa.
— Ela é uma pessoa sensível e responsável. Sente, enxerga aquilo que está acontecendo em torno dela. E essa capacidade de ser sensível e perceber a realidade de quem está ao teu redor é, para mim, um valor importantíssimo, porque senão tu não te situa no momento histórico— sinaliza Marisa.
As duas mantêm a amizade e o convívio até hoje. Marisa, inclusive, integra a equipe de campanha da atual candidata à prefeitura. Para a ex-deputada, Denise alcançou uma maturidade política que a torna capaz de fazer uma gestão pública:
— Agora ela tem um grau interior de maturidade que lhe dá equilíbrio, que lhe dá a capacidade de escutar as diferenças e mediar conflitos — acredita.
Denise ficou por 14 anos na Câmara de Vereadores de Caxias do Sul, desde sua entrada em 2009, aos 25 anos. No último mandato, em 2022, ocupou o cargo de presidente da Casa. No mesmo ano, foi eleita deputada federal com 44.241 votos.
Fora dos holofotes
Filha de uma professora e de um pedreiro e líder comunitário, Denise escolheu o curso de Arquitetura e Urbanismo na graduação pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). O olhar sobre o coletivo, aprendido em casa, determinou na decisão, em busca de uma cidade mais organizada e com menos desigualdade social:
— Ou organizamos esse crescimento (do município) ou vamos ter sempre muito loteamento irregular, muitas pessoas distantes de onde deveriam estar, longe dos seus postos de trabalho, não tendo atendimento, não tendo educação, não tendo escola — opina Denise, que também tem MBA em Administração Pública e Gerência de Cidades e especialização em Gestão Estratégica de Políticas Públicas.
Nas horas livres, fora dos holofotes, a simplicidade predomina, segundo ela. As brincadeiras com Eduardo, a leitura e o descanso na chácara dão um respiro à rotina agitada.
— Eu gosto de mais tranquilidade, de ficar com a minha família — diz.
Para a mãe de Denise, Benta das Graças Pessôa, 69 anos, o amadurecimento da filha e o equilíbrio entre tantas funções são motivo de orgulho.
— Às vezes, eu me pergunto como é que ela consegue organizar tudo, principalmente com o Eduardo. Mesmo em Brasília, ela deixa toda semana organizada, a mochila, as roupas, os remédios. Ela consegue se inteirar de tudo isso — conta a matriarca da família, que completa:
— Eu admiro muito a persistência dela em resolver as coisas. Quando ela tem uma coisa que ela planeja, ela luta, vai, vence. Não para enquanto não resolve — finaliza Benta.