Um dos municípios da Serra a registrar maior diferença de votos a favor de Jair Bolsonaro contra Lula na eleição presidencial de 2022 (77,63% contra 22,37% dos votos válidos no segundo turno), Nova Roma do Sul terá um prefeito petista a partir de janeiro. Isso porque a chapa encabeçada pelo atual vice-prefeito e secretário de Saúde, Roberto Panazzolo (PT), precisa de apenas um voto válido para ser declarada vencedora, uma vez que não terá adversários no pleito de 6 de outubro. A maioria identificada com a direita no município, por sua vez, estará representada pelo candidato a vice-prefeito, Gilberto Klin, filiado ao Progressistas. Apesar de inusitada, a coligação entre trabalhadores e progressistas terá o seu quinto mandato consecutivo.
— Eu olho para a pessoa, não para o partido — resume Pedro Calabria, 69 anos, simpatizante de Bolsonaro, mas também de Panazzolo
Construtor que se orgulha de ter erguido alguns dos mais altos edifícios da cidade, Pedro considera que tudo o que precisa da administração pública, agora que está aposentado, é um bom serviço de saúde pública, legitimado pelo primeiro lugar no ranking do Índice de Desenvolvimento Socioeconômico (Idese) em três oportunidades (2015, 2017 e 2019). E a UBS que presta atendimento 24 horas, oferecendo consultas com diversos especialistas e equipamentos para exames como Raio X e ecografias, é um motivo de orgulho para os 3,5 mil nova-romenses.
— O próximo prefeito fez muito pela saúde. Tu sabias que nós ficamos em primeiro lugar no Estado? Aqui na cidade a gente não precisa mais indústrias, porque não teria mão de obra. As pessoas preferem viver na colônia, que dá mais dinheiro. O que precisa é saúde e máquina e asfalto pro agricultor — opina o aposentado.
A fisioterapeuta Emanuelle Lodi, 42, é uma entre muitos moradores que, mesmo sendo eleitores da direita, não veem problema em digitar na urna o número da sigla que é sua maior adversária histórica. Antenada ao cenário político, Emanuelle conta ter vivido na adolescência a fase de emancipação de Nova Roma do Sul de Antônio Prado. Nos primeiros 20 anos, apenas o MDB governou o recém-criado município, o que motivou a união dos partidos ideologicamente antagônicos para viabilizar a troca no poder que, na opinião da fisioterapeuta, tem sido positiva.
— Acredito que deu certo não por ideologia, mas porque a cidade é pequena e todo mundo se conhece. Os políticos têm uma relação muito boa entre eles, não tem disputa de ego. A prova de que está funcionando é a oposição não ter lançado candidato — avalia.
"É uma pena não ter concorrentes. Qual a graça?"
Filiada ao Progressistas, Érica Salvatti, 25, também irá dar o seu voto à chapa única, mesmo tendo a alternativa de votar em branco. A estudante de Gestão em Recursos Humanos aponta o projeto da atual gestão, que viabilizou o transporte dos universitários a Caxias do Sul com valor quase simbólico de R$ 2 por dia (ida e volta) , como uma iniciativa que beneficiou diretamente a ela e a dezenas de famílias, que antes tinham de pagar caro pelo deslocamento:
— Existe muito preconceito contra o PT, mas aqui na cidade a gente prefere olhar para as pessoas. Nunca vou votar no Lula, mas se eu vejo que o Roberto (Panazzolo) está contribuindo para o desenvolvimento da cidade, seria ignorância olhar só para o partido dele e votar contra — entende.
No cotidiano pacato da cidade em que a Avenida Júlio de Castilhos concentra a maior parte do comércio, e que abriga também as bodegas que são ponto de encontro para o lazer dos aposentados, se existe qualquer acirramento, é apenas no jogo de cartas. Na política, Nova Roma do Sul é monótona como o Rio das Antas num dia de calmaria. Para o aposentado Osvaldo Ferretti, mesmo que fosse para eleger pela quinta vez a coligação do 13 com o 11, um pouco de emoção não faria mal:
— É uma pena não ter concorrentes, porque fica uma eleição morta. Qual a graça? Se o Panazzolo fizer menos do que 50% dos votos, vai ficar feio. Porque seria um prefeito sem o apoio da maioria. Por isso acho que ter uma chapa de oposição seria boa até para ele.
Coligação governa desde 2009
Desde a eleição de 2008, a coligação entre PT e Progressistas se reveza na prefeitura de Nova Roma do Sul com mandatos de oito anos para cada prefeito, alternando apenas a cabeça de chapa. O prefeito atual, o progressista Douglas Pasuch, por oito anos foi vice do petista Marino Testolin. No mesmo caminho, Roberto Panazzolo, que encabeça a chapa para 2025-2028, foi o vice-prefeito nos dois mandatos de Pasuch.
Embora não tenha uma chapa concorrente, Panazzolo, 53 anos, e Rogério Klin, 50, fazem uma campanha intensa. Até o dia do pleito, eles esperam ter visitado cada uma das cerca de 1,1 mil famílias que vivem na cidade e no interior. Além de conhecer suas demandas, o objetivo é superar por boa margem os votos em branco que devem vir da parte contrária à coligação.
— A exigência é a mesma, de escutar a população, de entender quais devem ser nossas prioridades, e mostrar que nós vamos continuar empenhados em fazer um trabalho sério, garantindo que todo mundo vai continuar tendo o seu emprego, que as crianças vão ter vaga na creche, que o posto de saúde vai continuar aberto todos os dias do ano. Além disso, no início da campanha, nós estávamos preparados para ter um adversário na eleição, só que no fim não tivemos — comenta Klin, o candidato a vice.
Um dos maiores desafios que Panazzolo e Klin veem para os próximos quatro anos é preparar Nova Roma do Sul para se tornar um destino turístico à altura da visibilidade nacional alcançada principalmente após o restauro da ponte de ferro sobre o Rio das Antas, em setembro do ano passado, graças ao esforço da comunidade.
— Nos últimos anos, a gestão olhou muito para o interior, principalmente na questão do asfaltamento das estradas, e agora a gente sente que a população quer que se olhe um pouco mais para o centro da cidade. Cuidar melhor da nossa praça, das nossas calçadas e ruas. Principalmente porque a nossa cidade passou a ser mais conhecida e visitada após o episódio da ponte, já tem mais pousadas e outros empreendimentos turísticos abrindo. Então a gente quer que o turista sinta que está chegando em uma cidade pronta para recebê-lo - destaca o futuro prefeito.