Há 10 anos, a ocupação do complexo da Maesa em Caxias do Sul é tema de debates e sugestões para tornar a área um atrativo para a população e para turistas. Mais do que isso, restaurar e dar vida ao conjunto de prédios e praças internas tem se consolidado como um desejo da cidade.
Posicionada em área nobre e ocupando 53 mil metros quadrados no bairro Exposição, a antiga Metalúrgica Abramo Eberle foi sendo desativada aos poucos a partir da venda do grupo caxiense. Ao longo dos anos, chegou a ser ocupada parcialmente por outras empresas, mas a ideia de dar outra destinação ao complexo surgiu quando a Voges mantinha uma fundição no espaço. Incialmente, a empresa levaria a fábrica para um endereço próprio, o que deixaria a Maesa completamente ociosa. A saída, no entanto, acabou ocorrendo com a falência da empresa, em 2019.
Os primeiros passos concretos para transformar uma metalúrgica em um espaço de lazer e cultura ocorreram em 2014, com a cedência dos prédios, por parte do governo do Estado, ao município. O Piratini incorporou o complexo ao patrimônio no passado como parte de pagamento de dívidas de tributos. O repasse ficou condicionado ao desenvolvimento de um projeto de ocupação com finalidade cultural.
O planejamento começou com o tombamento da área pelo patrimônio histórico e a formação de uma comissão para discutir quais atividades poderiam ser desenvolvidas na Maesa e atrairiam interesse da população. Entre as ideias levantadas pelo grupo, estava a implantação de auditório, museu da metalurgia e mercado público.
Nos anos seguintes, os trâmites para desenvolvimentos dos projetos teve ao menos dois marcos importantes. Os primeiro foi um escaneamento digital, que recriou os edifícios virtualmente para análises de ocupação de cada espaço. Em seguida, foi realizado o chamado masterplan, estudo que envolveu arquitetos de várias partes do país para realizar o diagnóstico das condições dos prédios. A equipe também verificou qual atividade é recomendada para cada espaço da Maesa.
Até então, o foco dos trabalhos era a captação de recursos para investimento público no restauro e ocupação. A partir de 2021, no entanto, o município passou a apostar em uma parceria público-privada (PPP). Em março de 2023, o projeto desenvolvido a partir da própria iniciativa privada foi apresentado para discussão pública. Por envolver pagamentos mensais do município para viabilizar parte dos investimentos, a proposta gerou contestações. A partir disso, acabou modificada para uma concessão parcial do espaço do mercado público e alguns setores adicionais, e não mais do complexo todo.
Atualmente, o projeto está em fase de análise no Tribunal de Contas do Estado (TCE). De acordo com o secretário de Parcerias de Caxias, Matheus Neres da Rocha, o material começou a ser analisado em 2 de maio, mas depois as atividades do TCE foram suspensas por cerca de 30 dias em função da enchente em Porto Alegre. A interrupção acabou impactando prazos.
— Este retorno do TCE é a última condição para que reunamos condições de publicação do edital de concessão do mercado público da Maesa — afirma Rocha.
Abaixo, confira o que dizem especialistas e os candidatos a respeito do futuro da Maesa.
O que dizem especialistas
ANTHONY BEUX TESSARI, professor coordenador do Instituto Memória Histórica e Cultural da Universidade de Caxias do Sul (UCS)
"A necessidade é de preservação e de que se tenha uso e acesso. Não somente acessibilidade física, para que pessoas de diferentes condições possam acessar, mas acessibilidade cognitiva, econômica e social. É importante mencionar que o valor do patrimônio cultural não se encontra propriamente no bem, é sempre fruto da sociedade, por isso sempre há disputa. O melhor caminho é partir sempre de um debate público. Boa parte da população está representada na Maesa, a história dessa empresa está muito presente. É muito importante a preservação e não me refiro apenas ao pequeno espaço de museu, mas que todo espaço tenha elementos de memória. Um elemento muito importante, quando se trabalha o patrimônio é que durante o tombamento se trabalhe a educação patrimonial. Isso não aconteceu no caso da Maesa, embora tenhamos visitas guiadas e a feira cultural, mas isso são ações pontuais".
ADIR UBALDO RECH, doutor em direito, professor da Universidade de Caxias do Sul (UCS) e advogado especialista no assessoramento e construção de Planos Diretores, direito ambiental e urbanístico
"O problema todo é que o poder público normalmente não tem recursos para fazer investimentos desse tamanho e normalmente não tem muita eficácia na sua realização. A demora no setor público é uma uma regra no país todo, a burocracia simplesmente se sobrepõe a qualquer iniciativa e a qualquer urgência que você possa ter. A Maesa precisa primeiro preservar o patrimônio, lógico. Patrimônio é fundamental para a história da cidade. Não há possibilidade de você realizar um negócio desse, concretizar uma obra dessa, sem parceria público-privada. É preciso que seja investido dinheiro, e o poder público não tem dinheiro. Então, o poder público tem que participar do projeto, mas dizendo o que tem que ser feito. Mantém o controle sobre o espaço em função do aspecto histórico, em função dos espaços que você tem lá destinados à comunidade ou setor público, e deixa a iniciativa privada fazer a exploração do restante. Se ficar por conta do poder público também a manutenção depois, vai cair em pedaços em dois tempos.
O que dizem os candidatos
Adiló Didomenico (PSDB)
"Vamos restaurar e ativar a Maesa, transformando-a em um polo de cultura, inovação e entretenimento seguindo o Plano Geral Maesa. Nesse governo, já transferimos a Secretaria do Meio Ambiente e estamos prestes a publicar a licitação da concessão do Mercado Público, que será o mais significativo passo para a recuperação desse patrimônio. A publicação do edital depende apenas do retorno do TCE-RS. O Mercado Maesa terá uma área de 13 mil m², nos blocos próximos à esquina das ruas Dom José Barea e Treze de Maio. Estão previstas área de bancas, uma praça coberta para feiras e eventos, além de atividades como gastronomia, entretenimento e turismo. Em breve também teremos a restauração do bloco 8, onde implementaremos o Centro Municipal de Inovação, a partir de recursos da CAF (Cooperação Andina de Fomento) para a transformação digital e cidades inteligentes. Seguiremos a execução do Plano Geral Maesa com a implementação do Museu da Metalurgia e outras ativações para que a Maesa seja, de fato, desfrutada pela população."
Denise Pessôa (PT)
"Nós temos compromisso de verdade com a ocupação da Maesa. Queremos transformá-la em um dos principais pontos turísticos do Estado, com muitas opções culturais, de lazer e educativas, além de serviços para a população caxiense. A Maesa será uma incubadora criativa, conjugando a valorização da memória dos trabalhadores com a inovação que marca nossa história e está no DNA da nossa cidade e, especialmente, daquele espaço. Para uma Maesa acessível para todos, é necessário pensar em seu entorno e no deslocamento dos moradores dos bairros até lá. Teremos um mercado público, por meio de uma PPP, e atividades para crianças e adolescentes, e também para os idosos, para projetar um futuro de mais lazer e conhecimento. Garantir que a gestão da Maesa seja voltada ao interesse público é acreditar que aquele espaço possa abraçar toda e qualquer cultura e que fomente uma cidade que busca diariamente novos caminhos. A Maesa faz parte do nosso projeto de tornar Caxias novamente a capital da cultura".
Felipe Gremelmaier (MDB)
"A Maesa é prioridade. Como prefeito, vou liderar o processo de ocupação. A demora não seguirá sendo marca. Vamos concluir a licitação do Mercado Público, que já passou por consulta pública e tem o apoio da população. Para as demais etapas é preciso respeitar o Plano Geral, aprovado pelo Compahc (Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural), que garante proteção e destinação correta, inclusive para atividades econômicas. Há locais para o uso da prefeitura, que podem substituir prédios alugados. Viabilizar o Museu Metalurgia, no prédio principal, com enfoque no trabalhador e no empreendedorismo, é um grande desafio. A Maesa representa a história e o futuro de Caxias, sendo ideal para um centro de inovação. Nos espaços abertos, é preciso reformas para que o público possa usufruir do local. O conjunto de intervenções possibilitará que o espaço potencialize o turismo de Caxias. É preciso avançar com projetos que integrem prédio e território, o que tende a colocar a cidade em um novo patamar de desenvolvimento".
Maurício Scalco (PL)
"A ocupação da Maesa representa um passo significativo para elevar Caxias do Sul em diversos aspectos, especialmente no que se refere ao turismo e à cultura de nossa cidade. Em nosso governo, comprometemo-nos a implementar de maneira eficaz o processo de ocupação, iniciando imediatamente pela instalação do Mercado Público na área previamente designada, conforme o projeto original. Para as demais áreas do complexo, é essencial viabilizar, por meio de parcerias público-privadas (PPPs), uma variedade de espaços dedicados à cultura, artesanato, inovação, tecnologia, gastronomia e acessibilidade. Além disso, buscaremos acolher alguns órgãos do governo atualmente em imóveis alugados, promovendo a economia de recursos públicos e a otimização dos serviços. O espaço da Maesa se tornará o vibrante coração da nossa cidade, transformando-se em um atrativo turístico e cultural acessível tanto à comunidade caxiense quanto aos visitantes. É imprescindível que aceleremos esse processo com urgência, iniciando as tratativas para a parceria público-privada nos primeiros meses de nosso governo".