Com o propósito de abordar o tema "cidades inovadoras" para os pré-candidatos aos cargos de prefeito, vice e vereador de Caxias do Sul, o Mobi Caxias trouxe o importante antropólogo colombiano, Santiago Uribe, para contar a experiência em Medellín, que saiu da condição de uma das cidades mais violentas do mundo para ingressar no time das mais inovadoras. A atividade aconteceu durante a entrega da Agenda Eleições 2024 aos políticos na última quarta-feira (7/8), estimulando e incentivando o debate sobre a cidade que se quer.
Nos anos 90, Medellín chegou a registrar 6.349 homicídios em 1991, sendo conhecida como “a cidade do narcotráfico” devido ao famoso Cartel de Medellín e do traficante Pablo Escobar. Após a morte de Escobar (1993), a região iniciou um projeto de mudança e Santiago Uribe participou deste processo que levou a cidade a tornar-se uma referência em inovação.
Desde então, Santiago viaja o mundo apresentando as ações que foram aplicadas em Medellín e seus resultados. Na palestra do evento do Mobi, o antropólogo trouxe aos pré-candidatos ao Executivo e Legislativo de Caxias do Sul, diversos pontos que são essenciais para tornar uma cidade um local mais cultural, seguro e inovador.
O que Caxias do Sul precisa para o futuro?
Diálogos Intergeracionais
Santiago pontuou que, para pensar no futuro, é necessário que os políticos escutem os mais jovens, principalmente aqueles com menos de 20 anos, pois são eles que irão viver a cidade nos próximos anos.
— Procurem gerar diálogos intergeracionais com os jovens de Caxias do Sul. Eu não tenho nada contra lideranças mais velhas, mas se os jovens não estão aqui, não tem muito futuro — destacou.
Ouvir as comunidades
Além de criar esses diálogos, ouvir as pessoas que vivem na cidade é essencial para entender o que é preciso melhorar. Segundo Santiago, Medellín elencou cinco pontos para melhorar as condições de vida dos moradores: investir na cultura local, gerar capital humano, desenvolver uma cidade pacífica e educadora, tornar Medellín um dos maiores destinos turísticos e em uma cidade inovadora. Depois, as lideranças empresariais, de bairros e de universidades se uniram e criaram um projeto.
— A cidade iniciou uma ação coletiva com muito debate. E a dica que ofereço é que vocês não devem procurar soluções perfeitas, pois não existem cidades perfeitas. Vocês precisam procurar soluções imperfeitas, para cidades imperfeitas. É melhor feito do que perfeito.
Sair às ruas
Santiago também ressalta a importância de os políticos irem às ruas para, assim chegar no conceito de uma cidade inovadora.
— Os futuros prefeitos e vereadores precisam ler, caminhar, escutar e observar a cidade. Todos os dias falar com as pessoas, olhar para as ruas, sentir a cidade. E o que é uma cidade inovadora? É aquela que entende seu contexto, que compreende as necessidades das comunidades e que tenha a tecnologia para ser inclusiva — explicou.
Continuidade dos projetos
O antropólogo destaca que é preciso dar continuidade aos projetos, independentemente dos partidos, e que nenhuma cidade é transformada em quatro anos.
— Ninguém, nem prefeito e nem vereador, tem o poder de transformar uma cidade em quatro anos. Nos últimos 26 anos, uma coisa importante que eles aprenderam foi que eles podem ter construído escolas, arrumado ruas e bairros, mas eles sempre saem do cargo e dizem “eu faço parte da transformação de Medellín dos últimos 30 anos”, porque eles só continuaram o que foi colocado pela comunidade a partir dos anos 2000. Não seguir com os projetos das gestões anteriores é pior para o prefeito atual do que para o anterior e destrói os valores políticos de todo o ecossistema urbano. Essa é uma lição que aprendi em Medellín — frisou.
Investimentos na educação
Um dos pontos que Uribe reforçou diversas vezes foi a necessidade de investimentos na educação, e que a pobreza não significa violência. Ele relembra que foram criadas bibliotecas comunitárias nas periferias de Medellín e que é preciso olhar para essas pessoas com um olhar mais humanizado.
— Pobreza não significa violência. A educação é o caminho para o capital humano. A América Latina tem o maior número de pessoas morando nas periferias. Se desenvolvessem as periferias da América Latina, teríamos o continente mais desenvolvido do mundo — disse.
União entre as lideranças
E para finalizar, Santiago Uribe comentou que o Brasil sofre com o “Paradoxo da Diversidade”. Para explicar, fez uma comparação com o filme Encanto, em que a Família Madrigal tem poderes, menos a protagonista Mirabel. Porém, ao final do desenho animado, é revelado que o poder dela é unir essas diferenças.
— O poder de Mirabel é juntar as pessoas para trabalhar em um objetivo comum. A pergunta que deixo hoje aqui é: quem é a Mirabel de Caxias do Sul? Vocês precisam procurar lideranças que se unem por um objetivo comum — finalizou.