Após meses de negociações, a filiação dos vereadores de Caxias do Sul Gladis Frizzo (MDB) e Adriano Bressan (PRD) ao Progressistas será selada nesta terça-feira (2). Os dois participam de ato durante a tarde com o presidente estadual, deputado federal Covatti Filho, na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. Com a confirmação, a dupla se soma a Alexandre Bortoluz (PP) para comporem a maior bancada da Câmara de Vereadores caxiense — junto com PT, PSDB, PRD e PSB, que também têm três parlamentares.
A entrada de Gladis no partido é um indicativo de que ela deve ser confirmada como pré-candidata a vice-prefeita, em chapa liderada pelo vereador Maurício Scalco (PL). Essa composição já estava sendo articulada desde o último semestre de 2023, e tornou-se pública em postagem do deputado federal Maurício Marcon (Podemos-RS) de 23 de dezembro, exibindo uma foto de lideranças da direita ao lado de Gladis:
A virada do ano indicou que a frente de partidos da direita estava mais adiantada na composição do que os demais pré-candidatos – o prefeito, Adiló Didomenico (PSDB), que tentará a reeleição, ainda não tem definido o nome para vice-prefeito, e a chapa da centro-esquerda, encabeçada pela deputada federal Denise Pessôa (PT) e que terá o ex-prefeito Alceu Barbosa Velho (PDT) como vice, ainda não estava definida. Desde então, os últimos dois meses foram de divisão no Progressistas, colocando em xeque a já anunciada participação da sigla na coligação de direita, e também a filiação de Gladis para ser candidata a vice-prefeita.
Desde 1º de fevereiro, a executiva do Progressistas enfrentou uma divisão, com parte do grupo que apoiava as articulações do então presidente Alexandre Bortoluz, e outra parte que defendia o apoio ao prefeito Adiló na tentativa de reeleição. Após algumas reuniões "tumultuadas", como resumiu o próprio Bortoluz, um pedido de dissolução do diretório municipal foi aprovado pela executiva estadual na última quinta-feira (28).
Comissão provisória ainda não foi anunciada
Por enquanto, o comando do partido em Caxias segue indefinido. Uma comissão provisória, que ficará responsável pela sigla durante as eleições, e portanto até o final do ano, deve ser escolhida pelo presidente do PP-RS, Covatti Filho. O nome ventilado nos bastidores para assumir é do ex-vereador e ex-presidente da sigla, Selvino Segat, que chegou a ser contatado, mas despistou sobre o futuro.
— O Bortola, na verdade, é quem está conduzindo o negócio junto ao partido estadual. Eles contataram para eu saber, parece que são sete pessoas na comissão, só sei que estão trabalhando nesse sentido. Eles têm prazo para levar a relação para o diretório estadual oficializar essa comissão como gestora da administração do partido em Caxias.
A tendência é de que a comissão provisória assuma somente na semana que vem, já com a janela partidária encerrada, o que impede a possibilidade de articulação com novos nomes. Procurado, o deputado Covatti Filho não retornou aos contatos da reportagem.
O que dizem os personagens progressistas
A reportagem falou com personagens centrais da situação progressista, para entender como encaram a situação atual do partido em nível municipal e o que esperam para o futuro da sigla, visando as eleições de outubro. Confira abaixo os posicionamentos:
Adriano Bressan
Tenho certeza que vamos construir um grande partido.
Vereador vai deixar o PRD para filiar-se ao Progressistas nesta terça-feira. Ele diz que a expectativa com a entrada no partido é "a melhor possível". Sobre a divisão interna, diz que está conversando com lideranças antigas e tendo boa receptividade.
— Estamos conversando com todos, principalmente com as pessoas mais antigas no partido. Respeitando todas as pessoas e as instâncias partidárias. A receptividade está sendo muito boa. Tenho certeza que vamos construir um grande partido no nosso município.
Alexandre Bortoluz
Estaremos onde já escolhemos.
Questionado, o agora ex-presidente municipal do partido disse que não poderia se manifestar sobre a dissolução do diretório e sobre o futuro do Progressistas. Ao Pioneiro, na última semana, antes da destituição do diretório, o vereador disse que "do meu lado e dos vereadores que estão aguardando esse impasse (Gladis e Bressan), de qualquer forma, particularmente, estaremos onde já escolhemos. Não digo em termos de partido, mas em termos eleitorais. Vamos ver o que vai acontecer".
Gladis Frizzo
Vamos ter que unir forças e não dividir. Vai ter diálogo da minha parte.
Nome favorito para ser candidata a vice-prefeita em chapa com Scalco, teve a entrada no partido ameaçada pelo imbróglio interno do Progressistas. Com a troca do MDB pelo PP confirmada, Gladis diz que a pré-candidatura a vice-prefeita está garantida “com certeza”. Sobre a situação do partido, a vereadora diz que, uma vez filiada, vai poder dialogar com os membros da sigla.
— Antes de me filiar, eu não sou do partido, eu não tenho identidade para chegar e conversar com esse pessoal. Agora, depois de filiada, sim, a gente pode concorrer, a gente vai conversar, mas vamos ter que unir forças e não dividir. Eu conheço algumas pessoas do PP que são muito queridas por mim, e espero que seja recíproco. Esse diálogo vai ter da minha parte, com certeza. Eu até agora não tive crítica nenhuma dentro do partido, mas não conheço muitas pessoas. Eu sei que havia uma parte do partido que está com cargos na prefeitura e que queriam permanecer com seus cargos, foi a informação que eu tive. Eles queriam dar um apoio para o Adiló, porque já vêm trabalhando com o prefeito. Eu fui bem recebida pelas pessoas que me contataram. Eles querem que o partido cresça, e nada mais justo que com todos esses vereadores que estão indo para lá. Já é um sinal de crescimento, né?
Marcelo Vanzin
Acredito que o PP municipal nunca mais se recupere deste golpe.
Vice-presidente do diretório municipal que foi destituído, Marcelo Vanzin acredita que a decisão de dissolução foi "muito prejudicial para o PP".
— Tínhamos um diretório democraticamente e legalmente constituído no município, que nem sequer foi ouvido pela executiva do PP estadual, que agiu de forma ditatorial. O PP estadual quer forçar uma coligação com o candidato do PL, sendo que a maioria do antigo diretório queria permanecer com o apoio ao atual Governo Adiló. A estadual se vendeu pela possibilidade de ter a "maior bancada na Câmara", um movimento totalmente artificial que no máximo dura até o final do ano. Acredito que o PP municipal nunca mais se recupere deste golpe. Agora vão criar uma comissão provisória fake, não eleita e ilegítima, para obedecer as ordens da executiva estadual e forçar uma coligação que não é apoiada pela maioria do diretório. A vontade de poucos vai prevalecer sobre a maioria.
Ricardo Daneluz
Me filiei devido às principais causas que o partido defende.
Atual secretário de Turismo, é titular licenciado de cadeira na Câmara. Caso queira concorrer, precisa se desincompatibilizar do cargo até sexta-feira (5), mas, segundo o próprio, ele fica "a princípio na secretaria". Daneluz teve o nome ventilado para compor chapa com o prefeito Adiló, como candidato a vice-prefeito, possibilidade que passa a ser improvável com a destituição do comando do partido.
Questionado se apoiaria a frente de partidos de direita liderada por Scalco, por hoje estar no Governo Adiló, Daneluz deixou em aberto, e disse que "essa decisão deverá ser tomada mais adiante". Sobre a situação interna do partido, Daneluz diz que vai acompanhar o novo momento e conversar internamente para decidir o futuro.
— Existem opiniões divergentes no partido quanto ao rumo na eleição municipal. Eu me filiei devido às principais causas que o partido defende como o agronegócio, o empreendedorismo, o municipalismo. Agora vamos acompanhar esse novo momento, conversar internamente.
Selvino Segat
A comissão vai entrevistar os pretensos candidatos e vamos ver qual é o que mais se alinha.
Ex-vereador e ex-presidente municipal do PP, teve o nome ventilado para voltar à função na comissão provisória. Segat disse que foi procurado, mas despistou sobre o futuro, afirmando que "o Bortola é quem está conduzindo o negócio junto ao partido estadual". Sobre a divisão interna no partido, avaliou que o melhor caminho é o diálogo.
— Quando há divisões internas, tem que dialogar, chegar ao denominador comum, e tem que ver o que é melhor para o partido, tomar a posição que mais conduz a trazer resultados positivos para ele. Estou vendo que o caminho que deverá ser trilhado por essa comissão vai ser ver quais são os posicionamentos. A política é dinâmica, hoje é uma realidade, amanhã é outra, então a gente tem que ver de perto quais são todas as circunstâncias, fazer uma análise muito direcionada e ver o que é melhor para o partido. A comissão vai se reunir, entendo eu, e vai entrevistar os pretensos candidatos e vamos ver qual é o que mais se alinha ao pensamento dessa comissão, do partido.