A executiva estadual do Progressistas aprovou a dissolução do diretório municipal do partido em Caxias do Sul. A decisão foi tomada em reunião na manhã desta quinta-feira (28). Havia um racha interno entre os membros da executiva caxiense o que acabou motivando a ruptura. A partir disso, a direção da legenda no RS vai definir uma comissão provisória, que deve ficar no comando em Caxias até o final do ano e terá o papel de definir os rumos do partido nas eleições municipais. Como consequência, o vereador Alexandre Bortoluz deixa a presidência do partido na cidade.
Os integrantes dessa comissão provisória ainda não foram divulgados oficialmente pelo partido, o que deve acontecer até a próxima segunda-feira (1º), segundo o deputado estadual e membro da executiva estadual do PP, Guilherme Pasin. Nos bastidores, ventila-se o nome de Selvino Segatti, ex-presidente do partido em Caxias, para voltar à função provisoriamente. Pasin diz ainda que a sigla tem até o final de 2024 para realizar uma convenção para eleger um novo diretório.
— Em regra, se buscam nomes de trânsito, que consigam promover um processo de encaminhamento e de visão, nomes que não pertençam a lado ou outro. O novo presidente vai conduzir os rumos do partido. Deve ser ele que vai conduzir o partido durante o processo eleitoral — explica Pasin.
A partir da nomeação da comissão provisória, caberá ao novo presidente dialogar com os pré-candidatos colocados –principalmente o prefeito, Adiló Didomenico (PSDB), e o vereador Maurício Scalco (PL) – e definir o futuro progressista nas eleições.
A primeira semana de abril será movimentada nos bastidores do partido, pois Bortoluz, agora ex-presidente, havia articulado a filiação dos vereadores Gladis Frizzo (MDB) — e que é o nome favorito para concorrer como vice-prefeita ao lado de Scalco — e Adriano Bressan (PRD). Ambos devem confirmar a entrada no PP na segunda-feira (1º). No entanto, dependem da definição se poderão disputar o pleito ao lado da frente de partidos da direita (formada até o momento por PL, Podemos e Novo). O prazo para que oficializem a troca de partido encerra na sexta-feira (5).
Direito ao voto dos movimentos foi analisado
Além da dissolução do diretório, a reunião de quinta analisou também uma resolução para incluir o voto dos movimentos nas decisões das executivas municipais, proposto pelo deputado federal Afonso Hamm (PP-RS), mas que foi reprovada. Esse é o ponto central do racha em Caxias, pois os presidentes dos movimentos Jovem, Afro e da Mulher afirmavam ter direito ao voto a partir de uma resolução partidária do ano passado, revogada por nova decisão deste ano — já o então presidente caxiense, Bortoluz argumenta que o artigo original contemplava apenas a convenção estadual do partido no ano passado.
O voto, neste caso, seria para apoiar ou não um documento intitulado “indicativo de intenção de coligação” com o PL, de Scalco. Os movimentos, junto com outros integrantes da executiva municipal, preferiam o apoio à reeleição do prefeito Adiló. Sem a anuência dos movimentos, Bortoluz divulgou publicamente o indicativo, causando o mal-estar interno na sigla.
— Manter do que jeito que estava não teria condições de evolução. A executiva possui 10 votos e havia cinco para um lado e cinco para o outro, o presidente tem voto de minerva, e o lado que perdia não reconhecia essa derrota, e assim as coisas não tinham mais processo de evolução. O processo de fissura evoluiu para um processo de fratura. Embora a posição seja meio pesada, a dissolução e a nomeação de uma comissão provisória me parece fazer mais sentido. Tem mais condições de unir aqueles que muitas vezes estão distantes — avaliou Pasin, que participou da reunião estadual.
O que diz a Executiva estadual
Em entrevista ao Pioneiro, o deputado estadual Guilherme Pasin, que é secretário da executiva estadual do Progressistas, falou sobre a reunião que decidiu pela dissolução do diretório municipal de Caxias e o racha interno no partido. O então presidente municipal, Alexandre Bortoluz, disse que não iria se manifestar sobre o caso, e o presidente estadual da sigla, deputado federal Covatti Filho, foi procurado, mas não retornou aos contatos da reportagem.
Como foi a reunião que decidiu pela dissolução?
— O presidente estadual possibilitou aos dois lados dessa moeda se manifestarem. Não existia essa exigência no estatuto, porém achamos de bom tom escutar por 10 minutos cada um dos lados defendendo suas visões. Tem momentos que tu não consegue mais evoluir no debate. Neste caso, o lado que não tinha a maioria não reconhecia o lado vencedor, então não se consegue evoluir no processo. Na iminência de fechamento de janela e das oportunidades de crescimento que se tem, acho que foi uma boa decisão.
Além da dissolução, foi votada também uma resolução sobre o voto dos movimentos na reunião?
— Foi votado a proposta do deputado federal Afonso Hamm (PP-RS) de voto para os movimentos, que não prosperou. Mas também saiu uma observação, de recomendação ao diretório nacional para que evolua nas suas resoluções e permita aos municípios que possuem diretório eleger os movimentos. Aí eleitos, teriam condição de voto. O estatuto do Progressistas rege que os movimentos partidários não sejam eleitos, mas indicados pelo presidente do diretório municipal ou estadual, sejam os movimentos jovem, da mulher, afro, do trabalhador, do idoso, ruralista, enfim. Não são eleitos, são indicados pelo presidente. O deputado Afonso propôs essa situação de voto e foi ponderado na reunião que não é bom, porque se os movimentos puderem votar em processo de executiva, e eles tiverem sido indicados pelo presidente, vai piorar a situação, distorce o ponto de vista democrático. Não se aplica só a Caxias, era um voto sobre conceito, uma regra geral. Isso daria uma força descomunal para o presidente, que compete em voto com uma executiva que foi eleita. Da forma como está desenhado o estatuto, não me parece adequado (que movimentos possam votar).
Por que os movimentos não têm direito ao voto?
— Imagina que, usando o caso de Caxias do Sul, que tem movimentos afro, da mulher, da juventude, dos servidores públicos e do idoso, são cinco movimentos. A votação está cinco a cinco. (Em uma situação hipotética) o presidente destitui os movimentos, nomeia como presidente de movimentos pessoas da confiança dele e então passa a ter 10 votos a cinco numa eleição de executiva, não faz sentido nenhum. Até para reduzir a tese de que a executiva estadual está do lado de um ou de outro, não. É justamente para tornar o processo democraticamente mais justo. Todos os movimentos têm direito a voz em todas as reuniões, tem direito de tempo de falar, de defender suas teses, só não tem o voto. E não é um caso de Caxias do Sul, é o estatuto do partido. Todos os diretórios municipais tem o mesmo comportamento.
Qual é a visão da executiva estadual sobre o caminho a ser seguido em Caxias?
— A visão partidária é de crescimento da sigla, e quem não é da cidade tende a abraçar isso. A proposta, esse encaminhamento do ex-presidente municipal, o vereador Alexandre Bortoluz, mostra esse crescimento muito claro. O Progressistas perdeu eleição de vice-prefeito no primeiro turno de 2020 e elegeu um único vereador por sobra de votos (em Caxias). Dentro dessa construção que o presidente vem fazendo, ele passaria de um vereador para a maior bancada da Câmara de Caxias do Sul, com quatro vereadores. E com a perspectiva de utilização de um desses vereadores numa composição de chapa majoritária (Gladis Frizzo na chapa com Maurício Scalco), numa cidade de grande relevância. A presença do Progressistas numa chapa majoritária em Caxias erradia para todos os municípios da região. Então, sob o aspecto de visão partidária, esse argumento agrada muito mais do que pura e simplesmente fazer parte de uma coligação sem expressão e crescimento partidário (do prefeito Adiló).
O que diz a dissidência
O então segundo secretário da executiva municipal do Progressistas e presidente do PP Jovem, Espedito Junior, defendeu o lado da dissidência na reunião com a executiva estadual. Em uma fala de 10 minutos, defendeu "a manutenção do diretório, a integridade do partido e a prerrogativa de decidir os rumos locais".
Espedito avaliou a situação e a decisão do partido:
— Tivemos uma página triste na história do PP-RS. Foi julgado um pedido com diversas alegações infundadas de destituição do diretório de Caxias do Sul, motivado por alguns líderes do partido que não aceitam a opinião da maioria, que inclui os presidentes dos movimentos, até eles mudarem as regras do jogo há poucos dias, e apelaram para uma destituição de forma arbitrária. Vai ser montada uma comissão provisória que vai tocar os rumos das alianças, e as pessoas que estavam defendendo dentro de um ideal democrático, com liberdade de expressão, foram colocadas de lado na prática. Agora, abre-se um prazo para uma defesa de quem foi destituído, segundo o estatuto.