Em Caxias do Sul, a primeira composição colocada para a disputa das eleições municipais foi de uma frente de partidos da direita: encabeçada pelo vereador Maurício Scalco (PL), como pré-candidato a prefeito, a possível chapa tem ainda o nome da vereadora Gladis Frizzo (que está no MDB e pode ir ao Progressistas) para disputar como candidata a vice-prefeita. O grupo tem o apoio do Novo e do Podemos. O grande problema para confirmar a chapa gira em torno de uma dissidência interna no Progressistas.
O presidente municipal do partido, vereador Alexandre Bortoluz, articula com a frente da direita desde o ano passado. Foi ele quem encaminhou as "contratações" de Gladis e do também vereador Adriano Bressan para o partido – ainda não oficializadas, mas que têm o aval do presidente estadual do Progressistas, deputado federal Covatti Filho. Entretanto, há uma parte dos filiados em Caxias que é favorável a uma composição para apoiar o prefeito Adiló Didomenico (PSDB) na sua tentativa de reeleição.
O imbróglio se dá a partir de um “indicativo de intenção de coligação” com o PL, divulgado por Bortola, e aprovado “por maioria dos presentes” em uma reunião da executiva realizada em 1º de fevereiro. A dissidência interna, composta por integrantes como o vice-presidente Marcelo Vanzin, alega que representantes dos movimentos partidários da Juventude, Afro e da Mulher não tiveram direito ao voto nesse encontro. Alexandre Bortoluz argumenta que há uma resolução nacional do partido que não dá essa possibilidade aos líderes de movimentos.
Fato é que o assunto chegou na executiva estadual: Bortola levou a situação para Covatti Filho, que participou de jantar da direita em Caxias que apresentou Scalco e Gladis como pré-candidatos em uma chapa, enquanto os dissidentes reuniram-se com o deputado federal Afonso Hamm, que deve assumir uma gestão compartilhada do partido no RS em abril.
Em entrevista ao Pioneiro, Hamm abordou o imbróglio que existe no partido, avaliou o cenário político de Caxias do Sul e opinou sobre como entende que a situação deve ser conduzida.
Confira a entrevista
Como o senhor observa a situação do partido em Caxias do Sul?
Estamos buscando o melhor diálogo possível em todos os pontos, especialmente onde há uma disputa. Nós temos que ouvir primeiro os que estão no Progressistas. É importantíssimo ouvir a executiva. O presidente, vereador Bortola, adiantou bastante para essa linha de trazer mais gente, como a vereadora Gladis Frizzo, e apoiar o Maurício Scalco. Aí houve aquela carta aberta de indignação dos membros do diretório que não foram consultados. Acredito que não é uma decisão de executiva estadual, é uma decisão que passa obrigatoriamente pelos membros atuais do partido. Se for necessário, se houver discordância, que se faça uma votação. Mas pra fazer tudo isso, num curto espaço de tempo de uma semana ou duas, é muito difícil. A discussão tem que ser mais profunda, e não pode ser do interesse de um parlamentar ou de outro. É uma situação bem complexa.
Como resolver o imbróglio colocado no partido?
O primeiro passo do Progressistas é se fortalecer e valorizar os seus. Temos novos líderes, mas quem fez, faz e vem fazendo história tem que ser ouvido. A política verdadeira que se consolida é feita de alianças, de entendimento, de diálogo e de compromisso. Estou forcejando para que a decisão passe por Caxias, e não pelo Estado. Mas o que homologa uma candidatura são as convenções, que é soberana. O que acontece em Caxias é que deputados que não são progressistas estão pautando os progressistas. É uma situação difícil, mas deve ser transparente, e para isso não tem como deixar de reunir o pessoal aí. E que se cumpra o que se decidir no voto.
Temos que ouvir primeiro os que estão no Progressistas. Se houver discordância, que se faça uma votação.
Bortoluz argumenta que há uma resolução que impede o voto dos movimentos.
Como que um movimento não vai votar? Isso é democracia? Muda-se a resolução, então. Esse tipo de canetaço excluindo movimentos é coisa para diminuir o partido, e não aumentar. Não tenho receio de dizer isso. Quem é do movimento tem que votar. Se for um impedimento por uma questão de resolução, tem que mudar, vou trabalhar pra mudar. É ridículo, é absurdo. Como que um partido como o nosso, democrático, que joga limpo, vai excluir do voto os movimentos? Então pra que ter movimentos? Pra que eleger juventude, só pra ser instrumento de mobilização e movimentação política nas eleições? Ridículo, discordo. Se é resolução, temos que cumprir. Só que o partido não pode ter medo de decidir. Tem que reunir novamente presidente, executiva e deliberar, fazer as argumentações. Lógico que queremos crescer. Se criou esse imbróglio e vamos resolver, mas deve ser resolvido ouvindo os atuais progressistas que tem direito a voto e representação.
Como fica a situação de Bortoluz e dos vereadores convidados caso o partido decida por apoiar Adiló?
Estamos com a banda desafinada em Caxias. O presidente municipal diz uma coisa, e os membros dizem outra. Não é o presidente que decide, não é um voto individual. Necessariamente, vai ter que reunir o partido para tomar essa decisão. Como tu vai dar a palavra para os vereadores que estão chegando? Tem que valorizar o partido, não dá para entregar a sigla para um ou outro. Não é simplesmente se filiar, tem que entender o conteúdo programático do partido, tem que se comprometer com o partido, não é tão simplista, se não vira um partido de aluguel. Todo mundo quer montar a melhor equação, bons líderes são bem-vindos, mas o partido Progressistas não vai a rebote de ninguém. Pelo contrário, queremos parcerias e respeito.
Como avalia o governo de Adiló Didomenico?
Quem quer ir para essa parceria com a direita alega que o prefeito Adiló teria menos potencial de renovação de mandato. Andei com Adiló durante a Festa da Uva e tive a oportunidade de ver vários relatos das pessoas, busquei informações, e vejo que é uma administração que, dentro das limitações, é boa. Acredito que o prefeito Adiló tem capacidade competitiva de disputar, ir para o segundo turno e vencer a eleição. Mas o Progressistas quer ver se ele tem potencial de eleição, e essa vertente (da direita) diz que não. Tem uma pesquisa em andamento, encomendada pelo próprio governo, e nós do Progressistas encomendamos uma também para se estabelecer a verdade. Se estão argumentando que nessa nova vertente a gente teria potencial de eleição, eu tô pra ver e fazer o contraponto.
Acredito que Adiló tem capacidade competitiva de ir para o segundo turno e vencer a eleição. Essa vertente (da direita) diz que não.
Ele (Adiló) fez uma série de coisas, na parte fundiária tem um trabalho diferente que está servindo de referência, e reduziu impostos, coisa que todo mundo aumentou. Caxias está respirando. Pedi ao prefeito mais espaço ao Progressistas na equação futura. No segundo turno da eleição passada, apoiamos o prefeito Adiló. O próprio vereador Bortola articulou com o prefeito e sempre teve algum espaço de participação no governo. O fato de terem novos líderes não é suficiente para sairmos do governo, embora tenha tido uma aproximação (com Scalco) mais intensa.
O que o senhor acha do PL?
Hoje estão confundindo apoio ao (ex-presidente Jair) Bolsonaro, posicionamento de direita, com o PL. É um partido que juntou um monte de candidatos de última hora, que trabalham em cima da tese de defender o presidente Bolsonaro. Mas o partido que tem uma história de direita, de posição, com conteúdos programáticos e serviços prestados, é o Progressistas. Nós temos uma característica. Hoje tem uma onda bolsonarista e quem está capitalizando dividendos é o PL, um partido sem identidade que juntou várias pessoas. Só se sabe que defende o Bolsonaro, e defender ele nós defendemos. Uma coisa é ser de direita, outra é estar nessa onda, nesse trenzinho da alegria, que parece que tudo tem que ir pro PL. Tem várias coligações que vamos fazer, e não podemos rachar a direita. Mas não é uma identidade do PL a questão da direita, é uma coisa que surgiu, que tem seus méritos, mas tem que haver o respeito com a história e a atuação verdadeira de direita nossa, dos progressistas.
Quando o senhor assume o comando estadual do PP-RS?
Não definimos bem a data. A ideia é um mandato compartilhando a presidência e a gestão, com decisões conjuntas. Não significa que um decide. A previsão que eu tinha era de que em abril, após a janela, eu assumiria um período. Vamos definir ainda quando será, mas não será uma mudança de comando, vamos compartilhar a gestão.