Com asse aproximando – faltam um ano e 16 dias até 6 de outubro do ano que vem, a data do pleito –, as movimentações nos bastidores estão cada vez mais em evidência, com os planos de cada partido sendo evidenciados e manifestados em declarações e publicações em redes sociais. Há duas datas importantes para ficar de olho: em 5 de abril, seis meses antes do pleito, será o último dia para que vereadores oficializem eventuais trocas de partido. Além disso, será em 7 de agosto o prazo final para a realização de convenções destinadas a deliberar sobre coligações e a escolher candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador.
Em Caxias do Sul, o cenário que vem se desenhando passa, principalmente, por dois partidos: MDB, cujo apoio é disputado por partidos da esquerda e da direita, mas o mais provável é que indique nome próprio para concorrer a prefeito, independente de coligações e apoios; e o PSB, que encara neste momento, pelo menos, quatro cenários possíveis, mesmo que o caminho final ainda seja uma incógnita, inclusive para a própria sigla.
– Não é hora ainda de definir onde vamos estar, se vamos sair com candidato, se vamos estar com Adiló ou não, se vamos estar com a centro-direita, se vamos estar com a centro-esquerda. Calma, é muito cedo ainda. Precisamos, primeiro, filiar lideranças e fortalecer o partido, pensar em fazer uma nominata boa de vereadores – disse o presidente do PSB, vereador Zé Dambrós, em entrevista ao Pioneiro de 17 de agosto.
Dambrós evidenciou as opções que estão à disposição dos socialistas. Uma delas é permanecer ao lado do atual prefeito Adiló Didomenico (PSDB), que deve ser candidato à reeleição, já que o PSB está, atualmente, na base do governo municipal. O apoio foi oficializado em 16 de fevereiro deste ano, quando o então vereador Wagner Petrini (PSB) anunciou sua licença do Legislativo para assumir a Secretaria de Habitação na prefeitura. Junto com ele, estão no Executivo os dois primeiros suplentes dos socialistas na Câmara, Idair Moschen, que hoje é diretor-presidente da empresa Festa Nacional da Uva, Turismo e Empreendimentos SA, e Edi Carlos Pereira de Souza, lotado na Secretaria de Obras e Serviços Públicos.
– Não significa que nós estando, hoje, fazendo parte do Governo Adiló, que vamos estar com o candidato Adiló. Não sabemos como as morangas vão se comportar no trote da carroça. Hoje nós estamos no governo, em março não sei se vamos estar – declarou Dambrós, ainda em 17 de agosto.
Para 2024, Adiló e o PSDB devem estar ao lado do fiel PTB e também do Republicanos, que está oficialmente na base de Adiló desde 4 de setembro, quando Edson da Rosa assumiu a Secretaria da Educação e confirmou sua filiação no Republicanos. A sinalização é de que será uma candidatura à reeleição voltada para a centro-direita. Neste campo, do centro para a direita, outro caminho possível ao PSB é se unir ao MDB, assim como vem ocorrendo historicamente e se repetiu em 2020, quando Elói Frizzo (PSB) foi candidato a vice-prefeito na chapa com Carlos Búrigo (MDB), então candidato a prefeito de Caxias. Essa opção ainda não foi ventilada abertamente por nenhuma das duas siglas, mas esse histórico de parcerias recentes entre os partidos pode facilitar uma repetição em 2024.
Centro-esquerda é opção
Pelo outro lado, o PT quer construir uma frente ampla da esquerda para disputar as eleições, em contraponto ao atual governo municipal e também à união dos partidos da direita, liderada pelo vereador Maurício Scalco (que está no Novo e vai para o PL para concorrer à prefeitura), que tem, por enquanto, apoio de PL, Novo, Progressistas e Podemos.
Essa ideia petista ficou escancarada no último sábado (16/9), durante reunião do partido na Câmara de Vereadores, que reuniu, além do próprio PT, outras seis legendas: PV, Solidariedade, PSOL, PSD, PDT e, também, PSB. Os planos do PT em Caxias se assemelham ao que foi articulado pela sigla nacional para as eleições de 2022 e para o andamento do Governo Lula, que soma atualmente, na sua base, pelo menos 13 partidos.
Não significa que estando no Governo Adiló vamos estar com o candidato Adiló. Não sabemos como as morangas vão se comportar no trote da carroça.
ZÉ DAMBRÓS
Vereador e presidente do PSB em Caxias do Sul
Presente no encontro, o presidente do PSB, Zé Dambrós, assumiu a tribuna do plenário para falar com os petistas e fez um discurso sobre a retomada da participação popular, que foi um dos grandes assuntos da reunião. Internamente, o PT se disponibiliza a estar, em 2024, ao lado do PSB, mas Dambrós deixou em aberto a possibilidade.
– Estamos hoje com o Governo Adiló, mas dialogando com todos. Não foi unanimidade entrar no governo, mas estamos ajudando muito, e pena que entramos tarde. Mas é cedo, e tudo será com muito diálogo, pensando no melhor para cidade – despistou o líder socialista.
Mesmo que o partido em Caxias também tenha inclinações à direita, a ideia de composição de uma aliança com a esquerda tem apoio interno no PSB. O ex-vice-prefeito Elói Frizzo (PSB) afirmou ao Pioneiro em 17 de agosto que esse movimento, inclusive, é a orientação do partido em nível nacional e estadual, e entende que essa é a prioridade no momento.
– Prioridade, sem dúvida, é compor aliança de centro para a esquerda. A orientação do PSB nacional e estadual é essa. Uma grande parcela do partido continua achando que foi um equívoco entrar nos governos (Eduardo) Leite Adiló – disse.
"Nomes preparados para a majoritária"
Por último, o cenário mais improvável no momento, mas que não é descartado pelos socialistas, é ter uma candidatura própria na majoritária. Apesar de o partido manter o foco no encontro anual, que será realizado em 28 de outubro com objetivo de atrair novas filiações e finalizar a nominata com os candidatos a vereador, Elói Friz- zo exaltou a força do partido em Caxias e destacou que o PSB tem seguido um caminho mais próximo da esquerda. Além disso, Frizzo tem pretensão de ver o partido “protagonista” e quer ver o PSB na majoritária.
– A intenção do PSB, se depender de mim, é ser protagonista ano que vem, não vai ser apêndice. Hoje nós temos uma das maiores bancadas, temos a presidência da Câmara, então o partido hoje tem uma expressão forte, especialmente no movimento popular, e estamos nos preparando para sermos protagonistas ano que vem. Estamos buscando novas filiações, lideranças do campo de esquerda. A certeza é que nós temos nomes preparados, se for o caso, para ir à majoritária. Estou na torcida para que o PSB finalmente se apresente com uma candidatura própria, com um plano diferenciado – destacou.
A intenção do PSB, se depender de mim, é ser protagonista ano que vem, não vai ser apêndice.
ELÓI FRIZZO
Ex-vice-prefeito e ex-vereador pelo PSB em Caxias do Sul
Dambrós segue a linha do diálogo. Para o presidente dos socialistas, “é um momento de escutarmos todo mundo” e “ouvir todas as forças”.
– Estamos dialogando com outros partidos. Vamos tomar uma decisão no ano que vem, não é este ano, é muito cedo para dizer onde vamos estar. O PSB tem muitos quadros bons. Continuamos dialogando com várias lideranças de outros partidos, não tem por que esconder, mas não é hora ainda de tomar decisão. Estamos dialogando muito dentro da executiva e dialogando muito com forças políticas de outros partidos – enfatizou.
Já o ex-presidente do PSB, Adriano Boff, não falou sobre os caminhos que o partido deve seguir, e foi enfático em avaliar que “não é condizente com a realidade querer enquadrar diferentes perspectivas políticas sob antigos rótulos”. Boff também avalia que a divisão atual não é de esquerda e direita, mas sim dos que respeitam a Constituição de 1988 e os que “almejam uma ruptura reacionária”.
– Política se faz com diálogo e respeito. Precisamos colocar Caxias longe desses desqualificados que se orgulham em ir para Brasília fechar portas e mostrar sua aversão ao convívio republicano. Caxias do Sul é maior do que isso. Queremos contribuir para colocar Caxias longe dessa perspectiva retrógrada.