Começam a se desenhar os planos da esquerda de Caxias do Sul para as eleições de 2024. A ideia principal, admitida pela presidente do PT, Joceli Veadrigo, a Piccola, é a construção de uma chapa para disputar a prefeitura, com apoio de diversos partidos com esse alinhamento. Esse plano ficou evidenciado no encontro do PT, realizado no último sábado (16/9) na Câmara de Vereadores, que reuniu PV, PSol, Solidariedade, PSD, PDT e PSB. A participação dos dois últimos, inclusive, chamou a atenção, dando sinais do que pode vir a ser uma frente da esquerda – em resposta à união da direita, que já assume uma parceria entre PL, Novo, Podemos e Progressistas para disputar o pleito no ano que vem.
O discurso – que quase se assemelha ao slogan do governo federal, “união e reconstrução” – é unânime entre as lideranças, de que deve haver diálogo para a construção de um programa de uma cidade “das pessoas, para as pessoas”. E para isso, Piccola confirma que o PT formará uma chapa e não disputará o pleito sozinho.
– Nós já estamos desde o início do ano trabalhando com as proporcionais, e estamos com a nominata praticamente pronta. Estamos trabalhando, por óbvio, na construção de uma chapa majoritária, nós queremos e estamos com certeza à disposição para construir.
Na mesma linha, o vereador Lucas Caregnato (PT) lembra que os petistas participaram de todos os processos eleitorais municipais desde 1988 e que, desde então, houve um “amadurecimento” da sigla. Caregnato avalia que isso trouxe uma responsabilidade e um comprometimento ao PT para dialogar com diversos setores da sociedade que “queiram construir uma cidade para as pessoas”.
– Estamos muito comprometidos em dialogar com setores da sociedade que tenham uma compreensão de cidade que seja das pessoas para as pessoas, fortalecendo serviços públicos, dinamizando a matriz econômica, avançando com emprego e renda. Nós estamos dispostos a conversar com outros setores da sociedade, não só representados pelos partidos da direita, mas pelos partidos da centro-esquerda e por todos os partidos que queiram construir uma cidade para as pessoas – declara Caregnato.
Para que isso se concretize no município, o vereador adota o exemplo do governo federal, que tem na sua base partidos como MDB, União Brasil, e, mais recentemente, Progressistas e Republicanos. Segundo Caregnato, essa é uma possibilidade que o PT de Caxias tem de “oxigenar” a política na cidade e o próprio partido.
– Estamos dispostos a conversar com o MDB? Talvez, acho que não há problema. Essa é a possibilidade que a gente tem hoje de oxigenar, demonstrando que o PT é amplo, tem responsabilidade com a cidade e está disposto a construir um programa que tenha elementos fundamentais para nós, mas que dialogue com a cidade e com setores do trabalho e do capital. O nosso compromisso é em contraposição a esses dois projetos que estão aí (frente da direita liderada por Maurício Scalco, Novo, e reeleição de Adiló Didomenico, PSDB). Defendo a nossa necessidade de ampliarmos, então acho que nós não iremos sozinhos – finaliza.
“Frente ampla da esquerda” mira união com PDT e PSB
A maior possibilidade ventilada nos bastidores é de uma chapa encabeçada por PT, com uma candidatura a vice-prefeito indicada pelo PDT. Para a prefeitura, o nome mais cotado e provável é o da deputada federal Denise Pessôa (PT), já que, em uma eventual frente da esquerda, os petistas não abririam mão da candidatura ao Executivo. Outro nome seria do deputado estadual e ex-prefeito Pepe Vargas (PT), que, conforme indicam os bastidores, não tem o desejo de concorrer no ano que vem. A presidente do partido, Piccola, despistou, afirmando que o PT tem hoje diversas lideranças, incluindo os atuais três vereadores (além de Caregnato, a bancada é composta por Estela Balardin e Rose Frigeri), mas falou, à coluna Mirante de ontem, que “acredita na renovação”.
Já Caregnato admite que o principal nome é o da deputada Denise, “não só do PT, mas dessa frente ampla da esquerda”, a quem o parlamentar atribuiu uma série de características que, na avaliação dele, qualificam Denise para ocupar esse papel na campanha eleitoral em 2024.
Se a gente fala de demonstrar para a população uma liderança nossa do PT em Caxias que consegue dialogar com todos, essa pessoa é a Denise
LUCAS CAREGNATO
Vereador pelo PT de Caxias
– Se a gente fala de demonstrar para a população uma liderança nossa do PT em Caxias que consegue dialogar com todos, essa pessoa é a Denise. Ela esteve à frente da busca de recursos para o Hospital Geral, ela recebe o prefeito Adiló ou secretários municipais para buscar recursos para a cidade, ela demonstra que tem capacidade de diálogo. Ela é escutada e tem relações com o empresariado, com o MobiCaxias (Associação Mobilização por Caxias do Sul). Estamos em um momento complexo, mas ao mesmo tempo interessante, e a figura da Denise tem características que a permitem ter um diálogo amplo com setores –avaliou Caregnato, antes de relembrar da participação do ex-prefeito Alceu Barbosa Velho na coordenação da campanha para a reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e como líder do Governo Pepe na Câmara de Caxias.
Foco no popular
Sobre uma eventual participação do PDT em uma chapa com os petistas, o presidente da sigla em Caxias, vereador Rafael Bueno – que inclusive esteve presente na reunião do PT no dia 16 –, desconversou, afirmando que o partido está ouvindo todos que tenham alinhamento com a centro-esquerda, mas admitiu que existe uma “reaproximação do campo popular”.
– Não fechamos nenhuma chapa. Estamos, enquanto PDT, ouvindo todos que transitam no nosso campo popular e que queiram a volta da participação popular. O povo tem que ser o tomador das decisões, das suas prioridades. O PDT nunca saiu do campo popular, temos que voltar a ser aquilo que a gente sempre foi e nunca saiu.
Quem também participou do encontro do PT foi o presidente do PSB e da Câmara de Vereadores, Zé Dambrós, que, assim como Bueno, assumiu a tribuna do plenário para falar com os petistas, e foi ao encontro do discurso de retomada da participação popular. Internamente, o PT se disponibiliza a estar, em 2024, ao lado do PSB – partido que compõe, hoje, a base do Governo Adiló, de quem o PT é oposição –, mas Dambrós deixou em aberto a possibilidade.
– Em nível nacional, estamos juntos, mas lá em Brasília também tem vários partidos na base que aqui não concordam com a composição (federal). Em Caxias, estamos hoje com o Governo Adiló, mas dialogando com todos. Não foi unanimidade entrar no governo, mas estamos ajudando muito, e pena que entramos tarde. Mas é cedo, e tudo será com muito diálogo, pensando no melhor para cidade – disse o líder socialista.