A secretária da Educação de Caxias do Sul, Sandra Negrini, vai deixar o cargo na próxima segunda-feira (4). O anúncio oficial foi feito pela prefeitura na manhã desta sexta-feira (1), que justifica a saída por "motivos pessoais", mas esta era uma possibilidade que já se ventilava nos bastidores há pelo menos um mês. Em 28 de julho, uma comissão de diretores e diretoras do município teve uma reunião com o prefeito Adiló Didomenico (PSDB). No encontro, o grupo entregou ao chefe do Executivo um ofício com considerações "que preocupam as equipes de profissionais da educação". A relação da secretária com os diretores é considerada "muito ruim".
Cerca de 20 diretores foram recebidos por Adiló no gabinete do prefeito, onde também estavam a vice-prefeita, Paula Ioris (PSDB), e a chefe de gabinete, Grégora Fortuna dos Passos. Em um encontro que durou cerca de uma hora, os representantes do Executivo ouviram muitas críticas relacionadas à condução dada pela titular da Smed. Os comentários davam conta de que havia "autoritarismo, decisões unilaterais e critérios pedagógicos subjetivos para manutenção de programas".
Outro problema atribuído à gestão de Sandra Negrini seria a baixa quantidade de reuniões entre os diretores e a pasta, que historicamente eram realizadas com frequência. Segundo os dirigentes das escolas, o último encontro ocorreu em março deste ano, sem a presença da secretária.
Durante a reunião, o prefeito ouviu atentamente a fala dos diretores e, ao final do encontro, disse que avaliaria e tomaria uma decisão a respeito das críticas levadas ao Executivo. Aos participantes do encontro, Adiló chegou a dizer que "não admite desrespeito com ninguém", e que "diretores têm que ser escutados".
No ofício, entregue ao Executivo durante o encontro, os diretores dividem as críticas em quatro pontos principais: processos de aprendizagem, demandas de consultas e atendimento especializados em saúde, transição de contrato e concurso da Codeca e registros pedagógicos e funcionais (leia o documento, na íntegra, abaixo).
O que diz o ofício entregue ao prefeito:
- Em relação aos "processos de aprendizagem e suas interrupções", os dirigentes apontam "estranheza à drástica redução de carga horária realizada pela Smed no Projeto de Recomposição e Recuperação da Aprendizagem, apesar dos relatórios apontarem a importância da sua continuidade".
- Sobre as "demandas de consultas, exames e atendimentos especializados em saúde", relatam, por exemplo, casos de alunos de atendimento educacional especializado (AEE) sem cuidador em sala de aula.
- Sobre a "transição de contrato e concurso da Codeca", os diretores relatam que o processo está em andamento há mais de um ano, sendo que atualmente o atendimento de limpeza e cozinha é "deficitário ou inexistente".
- Sobre os "registros pedagógicos e funcionais", a comissão propõe ao governo municipal que "garantam às direções e servidores um ambiente democrático, saudável e livre de toda forma de assédio ou coação".
Troca terá componente político
A prefeitura, ao divulgar a saída de Sandra a partir de segunda, anuncia que o substituto deverá ser confirmado até o início da próxima semana. Tudo indica que será o ex-vereador e ex-secretário municipal da Educação durante o governo de José Ivo Sartori, Edson da Rosa. A entrada dele no governo municipal deve trazer junto o Republicanos para dentro da base de Adiló, já que Edson deve trocar o Progressistas, seu atual partido, pela sigla presidida pelo vereador Elisandro Fiuza (Republicanos).
Questionado pela reportagem, Edson não respondeu se iria assumir a Secretaria da Educação. Sobre eventual troca de partido, limitou-se a afirmar que “a política é dinâmica”. Além disso, ele disse que segue filiado ao Progressistas, mesmo não participando.
– Nesse momento, não tenho nada para falar. Neste momento, estou em stand-by.
Quem também desconversou foi Fiuza, ao ser questionado sobre a entrada do partido na base do Governo Adiló e da filiação de Edson no Republicanos.
– (Edson) Por enquanto, não (é filiado ao partido). Na semana que vem, terei mais coisas para dizer – disse o presidente do Republicanos.
Agora, o assunto será tratado por Adiló durante o final de semana, com possibilidade de haver uma definição já na segunda. O coordenador de comunicação da prefeitura, Márcio Serafini, não soube informar o que falta para o nome ser definido.
– Assunto reservado com ele (Adiló) – admitiu.
O que diz a secretária Sandra
Na noite de quinta-feira (31), o prefeito Adiló se reuniu com Sandra Negrini, quando ela teria sinalizado ao prefeito a vontade de deixar o cargo, e então foi definida sua saída. A decisão já vinha sendo amadurecida há algumas semanas, segundo a assessoria de imprensa da prefeitura. Na manhã desta sexta-feira (1º), a reportagem procurou Sandra para confirmar a informação, mas ela afirmou que não falaria sobre uma eventual saída e desligou o telefone dizendo que "voltaria para a reunião onde estava com colegas".
Durante a tarde, procurada novamente pela reportagem, Sandra Negrini garantiu que foi ela quem pediu para sair do governo, e reforçou que sai "muito mais por questões pessoais do que por qualquer outra coisa". A secretária, inclusive, não vê relação da sua saída com a reunião entre Adiló e a comissão de diretores.
— Acredito que não (tenha relação). A rede é muito grande, com 83 escolas, cada escola com equipe diretiva de mais ou menos três pessoas, o que dá umas 300 pessoas. Com certeza, a gente não agrada todo mundo. Tem decisões que com certeza favorecem alguns, outros acham que não foram tão bem atendidos, mas é natural, é do jogo. Minhas decisões sempre foram pautadas no plano municipal de educação, no estatuto dos servidores, e sem dúvida nenhuma naquilo que a legislação toda coloca, e que todo professor ou gestor da educação deve ter, que é a luta pela equidade, pela educação com qualidade social e a defesa do estudante.
Com certeza, a gente não agrada todo mundo. Tem decisões que favorecem alguns, outros acham que não foram tão bem atendidos, mas é do jogo.
SANDRA NEGRINI
Secretária de Educação
Em contato com a reportagem, Sandra não quis entrar em detalhes sobre as questões pessoais que motivaram sua decisão. Segundo ela, "questões pessoais são pessoais e devemos respeitar". Ela também destacou entregas de projetos que realizou à frente da Smed, que, segundo ela, "deram uma outra cara para a própria rede".
— Desde pensamento computacional, trabalho de acolhimento das famílias e aos estrangeiros, trabalho de recuperação e recomposição das aprendizagens com princípio equitativo, a implementação do sistema de avaliação que vai ter impacto no ICMS do município, aumento considerável de vagas, que foram criadas pela reorganização e otimização dos espaços. Penso que isso pese muito mais para uma gestão que se pretende e que tem um plano de governo e que sempre coloca que a educação é prioridade.
Sandra foi nomeada para a função em janeiro de 2021 pelo prefeito Adiló Didomenico e ficou 32 meses à frente da gestão da educação em Caxias do Sul, que tem uma rede com 45 mil estudantes no Ensino Infantil e Fundamental.
— A secretária Sandra superou desafios como a pandemia e o aumento na procura de vagas decorrente das migrações e da perda do poder aquisitivo de famílias que antes matricularam os filhos na rede particular. Deixa como legado uma secretaria estruturada, com educação de qualidade e programas importantes em andamento — disse o prefeito.