"O quarto poder de Caxias". É como o ex-presidente da União das Associações de Bairros (UAB) de Caxias do Sul por seis mandatos, Daltro da Rosa Maciel, definiu a entidade durante seu primeiro mandato, entre 1991 e 1993. A afirmação se deve ao fato de que as principais demandas das mais de 170 associações dos moradores de bairro (Amobs) que existem atualmente na cidade passam pela UAB, que completa 60 anos de lutas pela comunidade nesta sexta-feira (19). É a união das associações que entrega as pautas para Executivo, Legislativo e Judiciário.
— O presidente da associação do Planalto, na época, batia o pé e sempre falava: "nada passa aqui em Caxias, seja projeto no Executivo, Legislativo, Judiciário, sem passar pela União de Bairros." E, na verdade, era mesmo. Nós éramos o quarto poder de Caxias — definiu Daltro.
O aniversário da entidade, fundada em 19 de maio de 1963, foi celebrado com uma "grande festa", nas palavras do atual presidente da UAB, Valdir Walter, realizada na sede da associação. O evento, além de comemorar os 60 anos, serviu de palco para homenagear ex-presidentes da entidade, que atuaram nas lutas comunitárias ao longo das últimas seis décadas, além dos ex-prefeitos ainda vivos, que colaboraram com as demandas da UAB durante suas gestões.
Entre os chefes de Executivo, participaram Mansueto Serafini (PTB), Pepe Vargas (PT), José Ivo Sartori (MDB), Alceu Barbosa Velho (PDT) e o atual prefeito, Adiló Didomenico (PSDB). O ex-prefeito Daniel Guerra não foi convidado. Segundo o assessor jurídico da entidade e ex-vice-prefeito, Elói Frizzo, é "persona non grata" do movimento comunitário.
— Os ex-prefeitos homenageados são figuras importantes que deram sua contribuição nessa cidade para melhorias. Esse foi o momento de chamarmos eles na entidade e agradecer o trabalho que prestaram para nós. Caxias está do jeito que está hoje porque cada um deixou sua contribuição — enfatizou Valdir.
"História bonita com mais de 200 associações"
A primeira associação de moradores em Caxias surgiu em 1960, do bairro Marechal Floriano, como conta o ex-vice-prefeito e assessor jurídico da UAB, Elói Frizzo. À época, eram pouco mais de 100 mil habitantes no município, de acordo com o IBGE (eram 110.241 em 1968, segundo o instituto).
— Naquele momento, acontecia uma grande vinda de imigrantes para trabalhar nas indústrias madeireiras e na metalurgia que vinha se ampliando. A partir daí que começa a surgir um grande número de loteamentos irregulares, que se prolongam ao longo dos anos 1970 — relata Frizzo.
Em 1963, a UAB é criada — à época com o nome de Federação das Associações dos Amigos de Bairros de Caxias do Sul — a partir das associações surgidas nos últimos três anos. Entre as tarefas da UAB, estava a criação da associação de moradores em cada loteamento que surgia.
— Com isso que se construiu essa história bonita com mais de 200 associações, que hoje está em torno de 170. Quem liderava a criação dos grupos de bairros eram vereadores e lideranças sindicais, vinculados tanto ao antigo PTB e também a militantes do PCB, especialmente da área sindical, que se sobressaía na época o Ernesto Bernardi (ex-dirigente comunista) — conta Frizzo.
Do político para o comunitário
Durante o período da ditadura (1964 a 1985), a UAB perdeu força, mas a articulação da entidade conseguiu ser mantida durante o governo militar. Entretanto, a partir desse período, a organização perdeu o caráter político e passou a ter uma posição mais reivindicativa, buscando atendimento para as demandas das comunidades junto ao poder público. Foi então que a UAB construiu um protagonismo maior em Caxias e participou na criação de um grande número de associações de bairros, a partir dos presidentes José Carlos de Anflor, José Carlos Monteiro, Daltro da Rosa Maciel e Tania Menezes.
— O movimento popular sempre foi uma fonte inesgotável de lideranças políticas. Um papel importantíssimo que a UAB sempre conseguiu manter foi o caráter pluripartidário, que preza por não ter vinculação com partidos A ou B. Principalmente a partir do José Carlos de Anflor, no Governo Mansueto, a UAB passou a ter um protagonismo muito maior. Da parte da administração, sempre houve um respeito pela organização popular, desde a época do falecido Armando Biazus, do Hermes Webber e do Victorio Trez — lembrou Elói Frizzo.
Protagonismo no crescimento da cidade
Entre as principais conquistas dos 60 anos da entidade, o ex-presidente da UAB Daltro da Rosa Maciel, que ficou 12 anos à frente da entidade, lembra da realização de um fórum regional de habitação, na Câmara de Vereadores, com a participação dos poderes Executivo, Legislativo, Judiciário, além da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias e sindicatos da cidade.
É importante que a entidade esteja cada vez mais presente, para poder ajudar ainda mais essas comunidades e as pessoas que precisam de ajuda
VALDIR WALTER
Presidente da UAB
— No fim daquele fórum, montamos uma comissão formada por todos os poderes e, a partir dali, começou a regularização dos loteamentos irregulares em Caxias. Foi um dos trabalhos mais importantes para a entidade. Na sequência, inauguramos a sede própria da UAB, a partir de um decreto de permissão de uso de 100 anos, durante o governo Mansueto — destacou Maciel.
O atual presidente, Valdir Walter, recordou que a UAB foi protagonista no crescimento da cidade. Ele estima que 90% dos loteamentos populares atuais surgiram de ocupações, nas quais a UAB sempre esteve presente com associações. Pensando no futuro, o atual presidente, que será candidato à reeleição no pleito de 4 de junho, garante que a entidade precisa se fortalecer cada vez mais.
— A partir de agora, temos que continuar firmes na pauta da regularização fundiária, para que as pessoas se sintam seguras e mais tranquilas a respeito de onde moram. Temos também a Maesa pela frente, que vai ser uma linha dura, mas não podemos enfraquecer o passo e ir em frente. São lutas que a UAB sempre esteve presente, que não são travadas do dia pra noite, mas, no final das contas, a gente sempre consegue alguma melhoria para as comunidades. É importante que a entidade esteja cada vez mais presente e cada vez mais maior, para poder ajudar ainda mais essas comunidades e as pessoas que precisam de ajuda — enfatizou Valdir.