A defesa da caxiense Sheila Ferrarini, moradora de Farroupilha, que foi mencionada pela Advocacia-Geral da União (AGU) como suposta financiadora dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro em Brasília, afirma que ela está sendo indicada "como organizadora e financiadora de forma injusta". Ela foi apontada pela empresa Gravatinha Turismo como a contratante de um ônibus que foi ao Distrito Federal (DF) na data dos atos antidemocráticos. Segundo o advogado Maurício Adami Custódio, que representa Sheila, ela nega veementemente qualquer participação nas invasões e depredações dos prédios dos Três Poderes, e afirma também não ter feito a contratação da empresa (a Gravatinha) no aspecto formal do contrato.
— A Sheila participou de uma organização de várias pessoas, que tinham objetivo de ir lá expressar seu pensamento. Ela foi ao mercado, cotou, perguntou quanto custaria a viagem para a empresa. Ela não pagou, ela não destinou os valores, ela não foi responsável financeiramente. Eles têm um contato entre pessoas que se organizaram para ir até Brasília, e essas pessoas faziam pagamentos para a conta da empresa através de Pix, através de depósitos. É isso que ela nos passa. Assim foi fechada a lista de pessoas a serem levadas e a empresa prestou o serviço. Se porventura a empresa emitiu a nota fiscal em nome dela, foi opção da empresa, porque identificou nela a pessoa que estaria à frente do grupo — explica Custódio.
O advogado esclarece também que Sheila não é uma posição de liderança dos movimentos, embora figure na nota fiscal como a contratante.
— Ela pode ter tomado a frente para cotizar as pessoas, para buscar valores do transporte, saber o custo. Em relação às pessoas que quiseram participar da manifestação livre, e que em tese nasce em Caxias e outras cidades do estado, ela (Sheila) contribuiu entregando informações e a lista de pessoas que iriam. Ela foi uma das pessoas que se organizou para essa viagem.
Sheila e sua defesa souberam do bloqueio de bens através de notícias veiculadas pela imprensa, e não foram notificados sobre a situação, conforme Custódio. Ele ainda explica que a primeira ação foi se apresentar à autoridade policial, pois ela se assustou com o nome citado, procurou defesa e depôs ao delegado federal de Lages, em Santa Catarina.
— Ela prestou um depoimento na sexta-feira ao delegado federal, em que ela esclareceu tudo aquilo que competia, inclusive se colocou à disposição do ministro (do Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, seu gabinete e as autoridades que possam ser delegadas para esta investigação. Ela ali manifestou seu total repúdio aos atos violentos. Ela é uma pessoa inocente em relação a isso — afirmou o advogado.
Em relação ao caso, Maurício Custódio garante que a defesa ainda não obteve acesso aos autos do inquérito. Para ele, o nome de Sheila foi veiculado sem detalhamento, sem nenhum tipo de cautela, por parte das pessoas que teriam afirmado que ela estaria organizando uma viagem até Brasília.
— A contratação está um pouco mal esclarecida neste momento, ela não teria feito essa contratação diretamente. Ela vem sendo apontada de maneira indireta, pelo o que ela nos passa, por pessoas que desconheço razões, e certamente não são razões republicanas, para apontá-la como sendo organizadora de uma viagem. Muitos deles, até onde temos conhecimento, estão presos em Brasília, porque certamente praticavam crimes. Ela não tinha a menor consciência de que talvez pessoas presas em flagrante resolveram, por circunstâncias que desconhecemos, apontá-la como sendo a pessoa que organizou e contratou.
A respeito deste posicionamento, a defesa da empresa Gravatinha Turismo reafirma que Sheila Ferrarini está na nota fiscal como contratante da excursão que foi ao DF, mas não entrou em detalhes a respeito da forma como se deu a negociação e os pagamentos neste caso. Procurada pela reportagem, uma das sócias da empresa, Cíntia Riconi, afirmou que não estaria autorizada pelo jurídico da empresa a dar mais declarações sobre o caso. A advogada que representa a empresa, Monica Seidel, se limitou a dizer que "a empresa não tem mais o que comentar".
Envolvimento no caso
Sheila foi citada em uma autorização do juiz da 8ª Vara Federal de Brasília Francisco Alexandre Ribeiro que amplia o bloqueio de bens de pessoas e empresas que supostamente financiaram os atos golpistas do dia 8 de janeiro. O magistrado acolheu pedido da Advocacia-Geral da União (AGU) para elevar de R$ 6,5 milhões para R$ 18,5 milhões o bloqueio de bens de possíveis financiadores.
Natural de Caxias do Sul e residente de Farroupilha, Sheila Ferrarini teve os bens bloqueados a pedido da AGU. Ela integra a lista da AGU de pessoas físicas e jurídicas alvo de bloqueio de bens e é citada como contratante de ônibus da empresa Alex Godoy Transportes Ltda. Sheila consta, inclusive, na lista de passageiros que viajaram para Brasília.
No despacho do magistrado, também foi retirado o nome de Terezinha de Fátima Issa da Silva da lista de financiadores dos atos golpistas do segundo domingo de janeiro. A moradora de Caxias do Sul acabou associada à empresa Gravatinha Turismo devido a uma nota fiscal com o nome errado enviada à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e remetida à AGU. Segundo a defesa de Fátima, o caso já está resolvido, mas ela ainda aguarda o desbloqueio dos seus bens, o que deve ocorrer nos próximos dias.