Grávida do primeiro filho, Rosane teve diagnóstico de toxoplasmose, doença que pode causar aborto, danos neurológicos, deficiência mental e convulsões. Católica, prometeu que se a criança nascesse saudável, seria uma pessoa de Deus. O menino veio ao mundo sem nenhuma sequela e a mãe cumpriu a promessa incentivando o filho a atuar na igreja. Aos sete anos, Maurício Bedin Marcon já era coroinha do Pio X, aos 20, catequista, e aos 23, ministro da comunhão.
A história, que só foi contada pela mãe quando o hoje vereador e deputado federal eleito era adulto, o faz acreditar em um propósito especial em sua trajetória. Sem deixar a igreja de lado — é um dos lugares preferidos dele –, escolheu a política para executar a tarefa e defender princípios e valores:
— O Maurício é um cara muito obstinado, com uma missão clara de vida, que entende que Deus deu uma missão a ele quando nasceu.
A caminhada no universo político começou, oficialmente, em 2016, quando concorreu a vereador pelo PSDB. Em 2018, disputou uma vaga à Câmara dos Deputados pelo Novo. Dois anos depois, foi eleito vereador, pelo Novo também. A nova incumbência é assumir como deputado, em Brasília, agora pelo Podemos, a partir de fevereiro.
— Há dois anos, eu era um atendente de loja, e agora vou jogar uma Champions League. Mas acho que chego forte. Esses dois anos aqui em Caxias, esse combate ao establishment, esse compadrio, isso me fez crescer bastante — acredita.
A comparação com o campeonato europeu não é à toa. O esporte é uma das paixões de Marcon. Juventudista de coração, vai ao estádio sempre que pode. Torcer foi o jeito, já que não leva jeito para atleta.
— Sempre fui muito ruim no futebol — confessa, embora "dar bico" em bola na rua com o melhor amigo Elói tenha sido das brincadeiras preferidas da infância.
Um cara família
Quando perdeu a mãe, em 2016, vítima de câncer, Marcon ficou sem chão. Os primeiros meses sem ela foram os mais difíceis, e a família toda — o pai Carlos e os irmãos Gabriel e Nicole — precisou aprender a viver sem a presença materna.
— Fiquei seis meses sem orientação, sem um porto, sem alguém a quem pudesse recorrer nas horas difíceis — lembra.
Mas há quatro anos, Marcon tem um novo "sustentáculo", como ele define. Casou-se com Patrícia, amiga de longa data, em dezembro de 2018 e se derrete em elogios à esposa:
— O homem, se quiser um casamento de sucesso, obedece a sua esposa. Um lar feliz é um lar em que a esposa comanda.
Além da companheira de vida, Marcon destaca a família que ganhou e diz que um dos lugares preferidos é a casa da sogra. Irides prepara bife à milanesa e fricassê, que ele adora.
— Bah, é muito bom. Até o repolho dela é bom. Meu sogro (Celniro) que planta — diz.
Para o vereador, que em breve embarca para Brasília, ficar longe dos familiares e da cidade natal será um dos maiores desafios. Tanto que a esposa irá com ele para a capital federal.
— Sou muito família, não moraria fora do país. Eu gosto de ficar em casa, eu gosto de Caxias.
Um cara polêmico
Em apenas dois anos como vereador, Marcon imprimiu a marca de um cara polêmico. Logo no início do mandato, propôs a criação de uma frente anti-PT. A aversão ao Partido dos Trabalhadores começou, segundo ele, quando era criança, durante a eleição municipal de 1996, disputada no segundo turno por Pepe Vargas (PT) e Germano Rigotto (MDB), que teve o petista eleito.
— Nunca gostei do PT. A visão antipetista é porque a gente discorda basicamente de tudo. Eu sou antipetista porque gosto da lógica. Eu gosto de copiar o que dá certo — explica.
Há dois anos, eu era um atendente de loja, e agora vou jogar uma Champions League. Mas acho que chego forte.
MAURICIO MARCON
Deputado federal eleito
As ideias e ideais foram moldados ao longo da vida. O conservadorismo veio da família, e a construção do pensamento liberal econômico, de dois professores da faculdade: Ricardo Zanchin, suplente de Marcon na Câmara, que irá assumir sua vaga, e Claudio Branchieri, deputado estadual eleito, com quem fez dobradinha.
Para Marcon, é importante na trajetória política manter a coerência e não mudar de opinião. Ele reforça que sua conduta é o que as pessoas esperam dele. Muitos podem não concordar, Mas sabem o que ele pensa, enfatiza.
— Quando eu entrei na política, falei para a minha mãe: tu vai sair na rua de cabeça erguida. As pessoas podem discordar de mim, mas vão me respeitar. Ninguém me xinga, porque eu não sou ladrão, não sou corrupto — frisa o deputado, eleito para a Câmara Federal com 140.631 mil votos.
E completa:
— Acredito piamente que existe o bem e o mal. O mal defende assassinar bebês, defende a drogadição, a sexualização precoce. E eu tento ser o contraponto. E aí tu acaba sendo polêmico.
Passado e futuro
Marcon tem ar nostálgico. Fala com carinho, por exemplo, da Escola Santa Catarina, onde cursou o Ensino Médio. Foi onde viveu romances juvenis e fez amigos. O período foi tão importante que fez questão de que o local de votação fosse no colégio. A Câmara também é apontada como um dos lugares onde foi mais feliz. Apesar do ambiente pesado em alguns momentos, segundo ele, foi onde teve espaço:
– É onde consegui me mostrar. Tenho um carinho especial.
Das práticas no Legislativo, quer seguir em Brasília doando parte do salário. Diz que irá destinar uma parcela, como tem feito, pelos próximos dois anos — quando assumiu como vereador, disse que doaria por quatro anos.